Andarilha que sou, ouvi encantada, desde muito pequena, as histórias de meu avô Tobias Menini. Contaram-me, lembro bem, que ele voltou à Europa várias vezes, não sei se à Itália ou à Suiça. Ele ia de navio por Buenos Aires. Tinha uma maneira muito peculiar de fazer o trajeto entre Touro Passo e a capital da Argentina. Partia, a cavalo, levando uma tropilha de cavalos sãos e mansos. Quando o cavalo que ele montava, dava sinais de cansaço, Tobias parava em uma propriedade rural, deixava ali o cavalo cansado e encilhava outro da tropilha. E, assim, procedia durante todo o trajeto. Quando chegava onde devia tomar o navio, ele já estava só com o cavalo de montaria. Contam que ele permanecia alguns meses na Europa. Ao retornar, fazia o caminho inverso , recuperando os animais deixados e trocando de montaria. Chegava, assim, ao Touro Passo, com o mesmo número de animais com que havia partido. Gringo ( como muitas pessoas o chamavam ), esperto e criativo!
Tio Tobias Menini
Vó Balbina, sogra de tio Pedro, era parteira conhecida na região, com quem nasceram, na Bela União, os cinco primeiros filhos de Abrelino e Anália - inclusive eu. Era uma senhora bem velhinha, muito amiga da minha mãe. Segundo me disseram, Vó Balbina convivera bastante com meu avô e contava, entre tantas coisas, que ele era maçon e que usava uma corrente de ouro com símbolos maçons. Ela contava que Tobias tinha muito dinheiro em moedas de ouro e que, quando ia nas viagens mencionadas no parágrafo anterior, costumava levar essas moedas e deixar lá...um lá que não se sabe onde é. Essas histórias de moedas de ouro e enterros de dinheiro sempre alimentaram a imaginação de moradores rurais, e elas só não eram mais populares do que os causos de assombração, que são muito populares na região.
Tio João Menini
No caso do ouro de Tobias Menini, as histórias geraram lendas rurais que fazem com que pessoas, atualmente, ainda sonhem com os tais enterros de dinheiro e, na calada da noite, cavem buracos nos campos à procura de riquezas. Acredito que, nesses buracos, só foram mesmo encontrados animais caídos e machucados. Surpreendente, no entanto, a barreira de tempo que as lendas - cuja característica principal é serem oralmente transmitidas pelo povo - ultrapassam, perpetuando-se e até se ampliando.
Tio Bernardo Menini
Tobias Menini morreu em novembro de 1910 - sei isso por fontes orais. Tenho a informação de que ele teria 46 anos de idade quando faleceu . Se é exata essa informação, ele nasceu em 1864. Quando ele chegou ao Brasil já era um jovem-adulto, que trabalhava para manter-se numa região em que não havia subsídios para emigração. Isso me leva a crer que ele veio para o Touro Passo, um pouco depois de 1880 - um tempo de emigração italiana. Não tenho, entretanto, documentos ou testemunhos que ratifiquem minha crença. Continuarei buscando mais informações.
Contaram-me que, inicialmente, meu avô se estabeleceu pros lados da Cruz de Pedra, lugar próximo a Touro Passo, onde teve como uma índia, que seria a mãe de Tio Pedro e que morreu no parto( ao redor de 1880). Tio Pedro é o avô do Gildo ( Leovegildo Ávila Ribeiro ) que eu sempre o considerei um primo muito querido por mim e pelos meus filhos. Para mim, a cor da pele e os cabelos lisos e escuros confirmam essa descendência indígena, tanto do Gildo, quanto dos parentes próximos a ele. De Tobias, contaram-me também que, quando ele chegou ao Touro Passo, trazia pela mão um menininho de pouca idade - que, a meu ver, seria o Tio Pedro. No Touro Passo, Tobias se estabeleceu e comprou muitas terras ao redor da propriedade dele.
Tio Napoleão Menini
Tobias Menini teve três filhas e nove filhos - por convicção pessoal, incluo Tio Pedro entre os filhos dele. Por falta de dados até o momento - espero tê-los quando publicar o livro em papel - não os coloquei em ordem cronológica. Conto, para tanto, com preciosas informações que virão dos descendentes de meus tios. No post seguinte, começo a escrever sobre meus tios e meu pai.
Fotografia
"Que seria da memória
sem a fotografia?
Que seria do homem
sem seus vestígios?
Como saberíamos dos avós,
do rosto da infância de nossos filhos?
Que seria de nós
sem ancoragem
no tempo que esgarça e destrói?
Que seria de nós
sem nossos baús
de saudade
e de choro?
É a fotografia que segura relógios,
retorna calendários,
faz do passado presente,
num instante......"
Luis Umberto Miranda de Assis Pereira, em "Fotografia, a poética do banal". Brasília: Editora UNB, 2000.
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