quarta-feira, agosto 30, 2017

A Histórica Évora, no Alentejo Central - 2a. Parte

À direita, detalhe do Templo Romano


O Templo Romano, conhecido popularmente como o Templo de Diana, é seguramente o mais antigo e o mais famoso monumento da cidade de Évora. Foi construído no século I d.C, no ponto culminante da acrópole, na Praça Principal ( fórum ) da cidade. É um símbolo da presença romana em território português. Tem belíssimas colunas coríntias.



Templo Romano



" Évora foi invadida pelos povos germânicos no século V e foi nessa época - e foi nessa época que o templo foi destruído. Hoje em dia, as suas ruínas são os únicos vestígios do fórum romano da cidade. Escavações recentes indicam que o templo era rodeado por um espelho de água." Descobrir Évora - Guia turístico, 1917.



Museu de Évora


Em um belo edifício de dois andares, sede do antigo Paço Episcopal, localizado entre o Templo Romano e a Catedral, está o Museu de Évora, com seus dois andares. No primeiro andar, estão as esculturas; no segundo, as pinturas. No acervo, uma coleção diversificada, que vai da época romana à Idade Moderna Portuguesa.



Exposição de Presépios do Museu de Évora


No Museu de Évora, está o túmulo de D. Álvaro da Costa, filho de Duarte da Costa,que, em 1553, substituiu a Tomé de Sousa. Álvaro da Costa veio na caravana de 260 pessoas trazidas por seu pai ( pode-se observar que o emprego de parentes tem uma longa tradição). Veio decidido a escravizar os índios. Tornou-se conhecido por sua disputa com o bispo Pero Fernandes Sardinha, que se opunha à escravização dos índios.



Exposição de Presépios do Museu de Évora


Como eu jamais faria uma prece pela salvação da alma desse senhor, sobrou-me tempo para ver, no local,  uma belíssima exposição de presépios de conventos. Foi um trabalho árduo da direção do Museu de Évora: listar e reunir os encantadores presépios tradicionalmente feito nos conventos portugueses, não só da cidade, mas também de outros municípios.



Muralhas Medievais


A conquista árabe, a reconquista cristã e as disputas com Espanha fazem parte da história local e explicam a existência das muralhas até hoje. Integradas à cidade atual, as antigas muralhas podem ser vistas de qualquer parte do Centro Histórico. A primeira muralha ( cerca antiga ) é do período romano e incluía uma área de 10 hectares. Contém torres e portas com nomes interessantes, como: Porta Velha da Traição e Porta do Anjo.



Fonte Henriquina


Na Praça do Giraldo, está Igreja de Santo Antão e a fonte de mármore, entre outros prédios históricos preservados. Parece ser ponto de encontro da comunidade local e dos visitantes. A Fonte Henriquina, assim denominada por ter sido construída, em 1571,  por determinação de D. Henrique, Bispo de Évora, foi feita a partir de um único bloco de mármore. Nas suas proximidades estão lojas de cerâmica, móveis pintados a mão e outros artesanatos.



Entrada do Museu de Évora


Não visitei o Aqueduto da Água da Prata, talvez a mais importante obra do reinado de D.João III. Tem uma extensão total de 19 metros. Segundo li, a parte monumental desse Aqueduto é a sua chegada à cidade, onde os arcos alcançam uma altura de 12 metros. Foi declarado Monumento Nacional em 1910.



Azulejos da Estação de Trens de Évora

Depois de visitar Évora, suas igrejas, sua Universidade, seus Palácios e monumentos, é interessante ampliar a visita, percorrendo cidades muito próximas e muito característica da região, como Arraiolos, terra dos bordados e dos tapetes de lã, tradição com origem na Idade Média; Borba, cujos edifícios brancos, de mármore, são atrações para os visitantes; Monsaraz, com muralhas, castelos, pelourinho e suas sete igrejas. Importante: é famosa a gastronomia dessa região.



Torre da Catedral

" Em plena vida e violência
De desejo e ambição,
De repente uma sonolência
Cai sobre a minha ausência,
Desce ao meu próprio coração.


Será que a mente, já  desperta
Da noção falsa de viver,
Vê que, pela janela aberta,
Há uma paisagem toda incerta
E um sonho todo a apetecer? "

Fernando Pessoa


Centro histórico de Évora

sexta-feira, agosto 25, 2017

A Histórica Évora, no Alentejo Central - 1a. Parte

Cerâmica de Évora

" Em Évora há, sim, uma atmosfera que não se encontra em outro qualquer lugar; Évora tem, sim, uma presença constante de História nas suas ruas e praças, em cada pedra ou sombra." José Saramago, Viagem a Portugal.


Torre do Palácio de D. Manuel em Évora

Évora está a 153 km de Lisboa - de onde pode ser facilmente acessada de trem, ônibus ou carro. Indo de trem, é melhor partir da Estação Oriente porque, se partir de Santa Apolônia, terá que fazer troca de trem em Oriente. Abriga ao redor de 60 mil habitantes. É a capital do Alentejo Central.


Material de divulgação da cidade

Alentejo, que significa mais além do rio Tejo, divide-se em Alentejo Central; Alentejo Litoral; Alto Alentejo e Baixo Alentejo. Ao Alentejo Central, pertence o distrito de Évora - e a cidade do mesmo nome, assim como outros 13 municípios, entre eles, Arraiolos, Estremoz, Borba e Mourão.


Detalhe do Centro Histórico de Évora

Évora, em 25 de novembro de 1986, foi declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, especialmente em razão da grande quantidade de monumentos artísticos nela existentes, desde a era romana até a idade de ouro de Portugal - séculos XV e XVI. Sua arquitetura influenciou cidades brasileiras, como Salvador/BA.


Templo Romano de Évora 


Évora é membro da Rede das Cidades Mais Antigas da Europa. Ocupa uma colina da planície alentejana e é conhecida como uma das mais bem preservadas cidades de Portugal. Está dentro de muralhas do século XIV e guarda verdadeiros tesouros, como a Catedral, o Templo Romano, a Praça Giraldo, a Igreja de São Francisco e a Capela dos ossos.



Catedral de Évora

Conhecida como Catedral de Évora, a Basílica Sé de Nossa Senhora da Assunção é a maior catedral medieval e um dos maiores monumentos de arquitetura religiosa de Portugal. Foi construída entre 1283 e 1308 ( há muita controvérsia sobre essas datas ) provavelmente no lugar onde antes existiu uma mesquita.  Foi na Catedral da Sé que as bandeiras da frota de Vasco da Gama foram benzidas antes da sua viagem em 1497.


Porta principal da Catedral de Évora

A entrada na Catedral é feita por um pórtico, ladeado por apóstolos, esculpidos em pedra, do século XIV. A fachada é construída em granito de cor rosa, com duas torres assimétricas do século XVI e muitas janelas distribuídas de forma irregular. Tem um acabamento harmonioso apesar de as torres não serem da mesma época e, consequentemente, de conjugar elementos românicos e góticos. Possui capelas laterais belíssimas.


Igreja de São Francisco : Capela-mor

A Igreja de São Francisco, construída no século XV e princípios do século XVI, possui dez capelas laterais com muito dourado e muita beleza. Na sua construção, entre outros arquitetos, trabalhou Afonso de Pallos, de origem andaluza, que havia trabalhado na Catedral de Sevilha. A ele se atribui a inclusão de elementos mudejares nesta igreja. Percebe-se nela, claramente, influências góticas e árabes.


Capela dos Ossos

Junto à Igreja de São Francisco, está a Capela dos Ossos, um dos mais conhecidos monumentos de Évora. Foi construída entre o final do século XVI e o início do século XVII por três monges que, segundo contam, quiseram transmitir a mensagem de que a vida é transitória. À entrada, uma mensagem macabra: " Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos ". Ossos e caveiras decoram paredes e pilares. Na República Checa, há também uma capela como essa, que pode ser vista aqui: http://correndomundo.blogspot.com.br/search/label/Kutn%C3%A1%20Hora



Capela dos Ossos


Além da Catedral de Évora, da Igreja de São Francisco e da Capela dos Ossos, há outras igrejas e conventos que podem ser visitados, ou por fé, ou por considerá-los museus muito bem cuidados, como: a Igreja de São João, a Igreja do Carmo, a Igreja da Misericórdia e a Igreja e o Convento da Graça.


Igreja da Graça


Saindo um pouco das religiosas, há, em Évora, outras tantas atrações que se pode admirar, como o Palácio Dom Manuel, o Aqueduto da Água de Prata, o Jardim Público, o Museu de Évora, o Largo da Porta de Moura, a Praça do Giraldo, a Galeria das Damas, o Templo Romano, as Termas Romanas e a Universidade de Évora.



Igreja de São Francisco


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domingo, agosto 20, 2017

Huelva: motivos para retorno

Ruas centrais de Huelva : todas exclusiva para pedestres

Situada no Sul da Espanha, integrada na Comunidade Autônoma de Andaluzia, com cerca de 150 mil habitantes, Huelva é uma cidade muito agradável - daquelas que a gente conhece e logo diz: eu moraria aqui! Fundada pelos fenícios, grande porto dos romanos, foi quase totalmente destruída por um grande terremoto, ocorrido em 1755. Hoje é uma bonita cidade com um grande porto comercial.


Precisa-se estar atento para ver os detalhes das portas e das janelas...

Ouvi de moradores que Huelva oferece  um clima agradável durante todo o ano, com temperatura média de 18 graus. Perguntei sobre a facilidade/dificuldade em sair da cidade - eu ainda um pouco traumatizada com a nossa chegada - disseram-me que, em menos de uma hora, chega-se aos aeroportos internacionais de Faro, Sevilha e, em um pouco mais de hora, chega-se ao aeroporto de Madrid. Hummmm...interessante lugar para morar!


Detalhe da Catedral 

A cidade oferece visitas a lugares agradáveis e bonitos, como a Praça das Monjas ( freiras ); a Igreja de São Pedro; o convento de Santa Maria de Gracia, das Ir. Agustinas; a Catedral de Nossa Senhora de la Merced; a Casa Colón e o Palácio do Congresso; o Bairro Rainha Vitória; a Igreja da Milagrosa; a Igreja da Concepção; o Grande Teatro; a Prefeitura, o Museu Provincial; a Praça de Touros e os Molhes da Cia. Rio Tinto.


Igreja de São Pedro

Várias dessas atrações de Huelva ficam próximas umas das outras. Em um dia de caminhada, fomos à Prefeitura, ao Convento Nossa da Graça, à praça das Monjas, à igreja da Concepção, à Igreja de São Pedro e à Zona Arqueológica que estão ambas muito próximas. Fomos, ainda, à Catedral e à Praça de Touros. Cansa-se um pouco...mas sobrevive-se bem.


Detalhe da Praça de Touros

Para quem gosta de comer bem ou de comprar algo diferente ou inusitado, Huelva é a cidade certa. A oferta de restaurantes, bares, cafeterias é grande e diversa. Diz -se que "tapear y comer en Huelva tiene la categoria de arte". Acredito que essa arte vem da qualidade da matéria prima. Ir a um mercado é festa para todos os sentidos. Visite, por exemplo, o Mercado del Carmen - pela manhã.


Eu pedi um simples sorvete....

Para compras, principalmente nestes dias de calor intenso, a cidade pode ser reconhecida mesmo como um Centro Comercial a Ceu Aberto - aberto mas não tanto porque porque têm as ruas uma cobertura que as protege do sol e diminui o calor. São muitos quarteirões de um comércio diversificado e, em geral,  de bom gosto: roupas, bolsas , sapatos, cerâmicas, armarinhos, peças exclusivas em antiquários e galerias de arte, livros, lojas especializadas em roupas para casamento, batizado,primeira comunhão e muito mais. Com juízo e sorte, não comprei nada!



Longa rua coberta - Centro Comercial a Ceu Aberto

Como se isso tudo não bastasse, Huelva tem um dos maiores patrimônios naturais, pois um terço de sua área de superfície está de fato e por lei protegida. Possui grandes parques naturais, como o Parque Natural da Serra de Aracena e o Espaço Natural de Doñana. Tem , ainda, 120 km de praia, sendo 80 km de praias sem urbanização. Infelizmente meu roteiro não incluiu essa parte extramuros do município.


Arquitetura admirável até para leigos...como eu!

Há muito mais o que ver, como um grandioso teatro, desses que só estamos acostumados a ver em cidades grandes; luminárias sobre esculturas belíssimas; rios e rias onde canoas tradicionais do século XIX oferecem passeios a praias mais distantes e museus que recordam a partida de Colombo para o Mundo Novo.


Grande Teatro de Helva

Provavelmente, grande parte das pessoas-leitoras da minha geração leu e emocionou-se com a narração lírica de Juan Ramón Jiménez Mantecón, denominada Platero y  Yo. Pois este admirável poeta espanhol, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1956, nasceu em Huelva, no ano de 1881.  Ele  assim  descrevia sua cidade natal: Huelva lejana y rosa - referindo-se ao singular crepúsculo rosado da região. 


Detalhe de uma luminária da Praça das Monjas

Isolda, minha amiga, e eu ficamos hospedadas no Hotel Eurostars Tartessos, reservado através do Booking.com. Bem localizado, excelente custo-benefício, é um hotel que posso indicar sem receio de errar. Retornamos a Madrid em um Alvia, trem que fez, diretamente, os 620 km entre Huelva e Madrid, em 3h50min. Trago comigo o desejo de retornar - como sempre - a toda a Andaluzia. E a saudade que sinto ...




"Traigo dentro de mi corazón,
como en un cofre que no se puede cerrar de tan lleno,
todos los sitios en que he estado,
Todos los puertos a los que he arribado,
todos los paisajes que he visto a través de las ventanas o portillas,
o de cubiertas , soñando,
y todo esto, que es tanto, es poco para lo que quiero."

Fernando Pessoa


A Beja de Mariana Alcoforado

Convento de Nossa Senhora da Conceição e Museu Regional
 " Como é possível que a lembrança de momentos tão belos se tenha tornado tão cruel? E que, contra a sua natureza, sirva agora só para me torturar o coração? Ai!, a tua última carta reduziu-o a um estado bem singular: bateu de tal forma que parecia querer fugir-me para te ir procurar. Fiquei tão prostrada de comoção que durante mais de três horas todos os meus sentidos me abandonaram: recusava uma vida que tenho de perder por ti, já que para ti a não posso guardar. Enfim, voltei, contra vontade, a ver a luz: agradava-me sentir que morria de amor, e, além do mais, era um alívio não voltar a ser posta em frente do meu coração despedaçado pela dor da tua ausência." Parágrafo de uma das cartas de Mariana de Alcoforado para o Conde Chamilly - 1669


Uma das portas do Convento Nossa Senhora da Conceição onde vivia Mariana

Penso que três os  motivos me levaram a Beja, cidade que não foi dificil chegar, mas de onde foi difícil sair, já que eu ia para Huelva, na Andaluzia, e  os transportes são complicados quando se trata dessa  parte da fronteira Portugal / Espanha. Vamos às minhas motivações: conhecer a cidade onde nasceu, viveu e morreu Mariana de Alcoforado; ver uma pequena cidade, genuinamente portuguesa, e com poucos turistas; passear pelo Baixo Alentejo. Valeu cada momento.



Castelo de Beja - Século XIII

Quando fiz a graduação em Letras, estudei Literatura Portuguesa e tive meu primeiro contato com Mariana de Alcoforado. Ela viveu um caliente romance com um oficial da cavalaria francesa. Era um conde , que viera servir em Beja, na época da guerra de Portugal contra Espanha. Para as pessoas daquele século, as cartas eram por demais apaixonadas e escandalosas. Estudei os textos e decidi que um dia iria a Beja. Fui. Muito cuidado com seus sonhos, porque eles podem se tornar realidade.Este sonho, todavia, foi muito bom.



Portas de acesso nas estreitas ruas do Centro Histórico


Quem tiver curiosidade sobre a história amorosa-escandalosa da época e quiser ler uma parte das cartas escritas pela Monja, poderá acessar este endereço: https://chrismielost.blogspot.com.es/2011/02/una-historia-de-amor-traves-de-sus.html



Do outro lado do Castelo de Beja, detalhes da Igreja de São Francisco

Considerada a prima pobre de Évora - cidade que aparecerá em  postagem, logo a seguir, aqui no correndomundo - Beja para mim é mais encantadora do que a prima rica, embora eu não aceite essas comparações e  considere cada uma delas única por suas particularidades. Cidade antiga, no local em que  está Beja, há vestígios de povoamento  desde a Idade do Ferro. No Museu Arqueológico, há indicações sobre o tema. No Museu também está uma coleção de azulejos, que restou dos 400 anos de domínio dos mouros, terminado em 1162.



Museu Regional de Beja



A visita ao Castelo é aconselhável mesmo. Quem o mandou construir foi Dom Dinis , ainda no século XIII, sobre fundações romanas. Contaram-me ( pois é óbvio que eu não fui lá! ) que as vistas da cidade e dos arredores, são magníficas, do alto da  Torre de Menagem que tem 42 metros. Nos sábados, acontece, ao redor do Castelo, uma grande Feira Livre.




Torre do Castelo


Embora somente tenha ao redor de 25 mil habitantes, Beja é a principal cidade do Baixo Alentejo. Limpa, bem cuidada, muito florida, tranquila, com poucos turistas, que possibilita ver todo o centro em caminhadas médias, algumas delas seguindo vias romanas. Tem bons restaurantes, que oferecem comidas portuguesas, e lindas hospedagens em pensões e em residenciais. 





Fiquei hospedada na janela  entreaberta da esquerda. Uma lindeza!

Esses muitos restaurantes e bares existentes em Beja, como Casa de Chá Maltesinhas, Restaurante Alentejano e Sabores do Campo, oferecem comida regional e doces conventuais deliciosos. Outro lugar para ir e no cinema e teatro denominado Pax Julia Teatro Municipal, que realiza shows, espetáculo de dança e exibição de filmes. 



Almocei aqui. Vi gente local.
Outras atrações podem ser indicadas para quem visita esta pequena e acolhedora cidade, tais como: Conhecer as muralhas que contornam o centro, caminhar pela Praça da República, disponibilizar um tempo para visitar o convento Nossa Senhora da Conceição e ver a cela no. 4 onde viveu Mariana de Alcoforado, ver algumas igrejas e museus.



Cine-Teatro

Fomos de trem para Beja. Como era uma sexta-feira - dia que, segundo me contaram, os bajenses vão para outras cidades - éramos , Isolda e eu, as duas únicas pessoas no trem. Parecia que estavam nos dando uma carona. Vínhamos de Évora. Foi muito fácil chegar. No post seguinte, contarei como foi difícil - mas divertido - sair de Beja para Huelva. Encantadora viagem. Projeto realizado.


                                         Cidade ótima para "garimpar" peças antigas.


 "Venho dos lados de Beja. 
Vou para o meio de Lisboa. 
Não trago nada e não acharei nada. 
Tenho o cansaço antecipado do que não acharei, 
E a saudade que sinto não é nem no passado nem no futuro. 
Deixo escrita neste livro a imagem do meu desígnio morto: 
"Fui como ervas, e não me arrancaram." "

Fernando Pessoa


Castelo e , ao fundo, Igreja de São Francisco.

sexta-feira, agosto 18, 2017

De Beja a Huelva: o perto que ficou longe.

Centro  Histórico de Huelva : Praça das Monjas

Como escrevi no post anterior, foi muito fácil chegar de Évora a Beja. De Beja a Huelva, no entanto, foi bem complicado. Não há trens. Disseram-me que, há quase trinta anos, Espanha e Portugal buscam acordos para construir essa linha. Para ampliar nossas dificuldades, saímos de Beja num domingo, quando o número de ônibus é reduzido para um terço. Buscamos todas as informações na Estação Rodoviária, mas as dificuldades maiores foram aparecendo ao longo do trajeto.


Detalhe da Grandiosa Catedral de Huelva

O ônibus era um pinga-pinga-indireto. De Beja, fomos a Albufeira. Troca de ônibus. A seguir, paradas nas rodoviárias de Castro, Olhão, Faro, Tavira e , finalmente, chegamos a Vila Real de Santo Antônio. De Vila Real, vai-se à primeira cidade espanhola,  Ayamonte,  de barco. Travessia bonita, feita em aproximadamente meia hora. A saga continuava...


Rio Guadiana, fronteira entre Portugal e Espanha


Chegando a Ayamonte, a menos de 70 km de Huelva, fomos confirmar as informações que tínhamos sobre ônibus ou transporte compartilhado. Nada. Nenhum. Era domingo!!! Passamos a procurar táxis. Só havia dois mas, como era domingo, eles haviam desaparecido - e seus telefones não atendiam.



Rio Guadiana entre Vila Real de Santo Antônio e Ayamonte


Passeamos pela cidade, que é pequena mas bonitinha. Buscamos informações de hoteis, pois começava a ficar tarde. Fomos tomar um café em frente ao único ponto de táxi da cidade: eis que apareceu um. Podia, sim, nos levar em Huelva - mas não deixou barato: 75 euros a corrida numa distância de 60 km.



Fronteira Portugal-Espanha

Concordamos! Não havia outra proposta mais conveniente. Além disso, o Hotel de Huelva estava pago e,  se pernoitássemos em Ayamonte, teríamos que pagar outro hotel. Enfim, o táxi  foi e deixou-nos na porta do hotel,  em Huelva ...  após de um dia inteiro de viagem para fazer menos de 300 km no total.


Chegada em Ayamonte - finalmente na Espanha.

Ainda bem que Isolda e eu não perdemos o bom humor com o cansaço do dia. Imprevistos e perrengues podem acontecer em qualquer viagem. Huelva foi simpatia à primeira vista. Durante o jantar,  rimos muito de tudo o que acontecera. É bom registrar que o calor diminuíra bastante: devia estar  menos de 40 graus!!!!


Em Huelva - Finalmente.
 " Aún no es de noche y siento
que el cielo ya está frío.
El azote del viento
Envolve al tedio mío."

Fernando Pessoa


Travessia do rio Guadiana