Siracusa |
Acredito que temos - todos nós - um conhecido, ao menos de nome, cuja cidade natal é Siracusa. Refiro-me ao matemático, astrônomo, físico, engenheiro e inventor grego Arquimedes, um dos principais cientistas da Antiguidade. Ele morreu numa batalha, entre gregos e romanos, em 211 a.C. Foi pelas ruas de Siracusa que Arquimedes saiu - nu segundo contam - gritando Eureka, Eureka! (Descobri, Descobri!) após decifrar um enigma a pedido do rei.
Riqueza arqueológica de Siracusa |
Hoje, a cidade tem cerca de 130 mil habitantes e turistas que nela transitam o tempo todo - muitos sem imaginar que ela foi fundada por colonos Corintios, em 734 a.C. Siracusa exibe o maior teatro grego da Sicilia, muitos monumentos e muitas lendas e histórias, que se confundem mutuamente, sendo a Fonte de Aretusa a mais mencionada e conhecida.
Admiráveis colunas |
Após ter sido uma importante cidade - estado da Grécia, que chegou a competir, na antiguidade, em tamanho e população, com Roma, Cartago e Atenas, Siracusa, através de conquistas sofridas , passou primeiro para os romanos, depois para os árabes, para os bizantinos, normanos e aragoneses. Como acontece nessas situações, cada um desses povos deixou sua contribuição na arte e cultura.
Detalhe da Catedral de Siracusa |
Fala-se muito, entretanto, na harmonia de estilos que caracteriza a cidade e que pode ser observada especialmente na Catedral, iniciada em 1728, na ilha de Ortígia, cuja fachada barroca oculta o Templo de Atena ( séc. V a.C.). Siracusa, que é bastante citada como a mais bela cidade do mundo grego, continua belíssima com a visão do mar, do céu e dos restos monumentais que testemunham seu passado.
Encontro frequente com vestígios da História |
Ortígia, pequena e charmosa ilha, abriga o centro histórico de Siracusa. Está conectada com a parte continental por três pontes. Tem um quilômetro quadrado pleno de história e beleza - pode ser percorrida na metade de um dia. Nela estão as Ruínas do Templo de Apolo ( século VI a.C.) , o mais antigo dos templos dóricos; a Catedral, iniciada pelo arquiteto Andrea Palma; um pequeno museu que registra a história dos templos; e a Fonte de Aretusa, de que trataremos a seguir.
Fonte de Aretusa |
A ninfa Aretusa era uma donzela de Artemis, deusa da caça. Um dia, ao tomar banho nua no rio, ela sentiu-se envolvida e acariciada pelas águas, que se transformaram num belo homem. Era Alfeu, um deus mitológico aquático. Para fugir do amor de Alfeu, Aretusa pede a Artemis que a transforme em fonte. A deusa atende a ela.
Detalhe da Fonte |
Para os gregos, Aretusa é um fio de água que começa na Grécia, atravessa o mar Jônico e ressurge na ilha de Ortígia. Alfeu, porém, não desistiu e a perseguiu pelo mar. Os dois se encontraram em Siracusa. A lenda tem, a partir daqui, diferentes continuidades... mas, em todas elas, Alfeu não consegue seu intento : fazer com que Aretusa se apaixone por ele.
Fonte de Aretusa |
No Parque Arqueológico de Neapolis - outra visita importante - está o magnífico Teatro Grego e a caverna artificial, conhecida como Orelha de Dionísio. Foi Michelangelo da Caravaggio que, durante uma visita a Siracusa, em 1586, deu-lhe esse nome. Conta a lenda que foi Dionísio que a mandou construir como cárcere para prisioneiros de guerra. A caverna é muito particular por sua acústica que amplia qualquer som de seu interior - o que permitia, assim, escutarem as conversas dos prisioneiros.
Em Siracusa, assim como em Palermo, Noto, Monreale e Catânia, as construções evidenciam a paixão siciliana por ornamentos, herança do envolvimento da ilha com o mundo árabe. A grandiosidade é constantemente observada. Não consigo ver na Sicilia a mesma Itália que conheço tão bem. Há traços italianos, á óbvio, como há traços de tantos outros povos - isso, para mim, só amplia o fascínio desta Ilha, que vejo como nação.
" Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa a meio deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista a chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram tudo e também não podem olhar
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.
Fernando Pessoa
Já identificado! |
Em Siracusa, assim como em Palermo, Noto, Monreale e Catânia, as construções evidenciam a paixão siciliana por ornamentos, herança do envolvimento da ilha com o mundo árabe. A grandiosidade é constantemente observada. Não consigo ver na Sicilia a mesma Itália que conheço tão bem. Há traços italianos, á óbvio, como há traços de tantos outros povos - isso, para mim, só amplia o fascínio desta Ilha, que vejo como nação.
Detalhe da Catedral |
" Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
Siracusa |
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa a meio deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista a chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram tudo e também não podem olhar
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.
Fernando Pessoa
"... fecham a vista à chave..." |
" ...nossa única riqueza é ver..." |
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada. Logo responderemos sua mensagem.