domingo, maio 31, 2020

Aprendendo sobre AI com meu filho - 1a.Parte

Apresentação

Há temas que muito me interessam, mas, por falta de tempo, de acesso a informações e bibliografias atualizadas, pouquíssimo sei sobre eles. Entre essas temas, destaco Inteligência Artificial. Venho mantendo conversas sobre AI com meu filho do meio, Paulo de Tarso ( Patati ), que é muito estudioso, tem bastante acesso a informações sobre tecnologia e, em especial, tem muita paciência para me transmitir conhecimentos. Pedi a ele que escrevesse um texto abordando  alguns tópicos sobre os quais conversávamos - como já fiz muitos aniversários, demoro mais para aprender. Patati o escreveu como se estivesse conversando comigo - mais coloquial, menos técnico. Ao ler, pensei que outras  pessoas poderiam usufruir dessas informações. Decidi publicá-las no Correndomundo ( licença, meu filho!) Agradeço-lhes pela leitura. Solidário abraço. Cuidem-se. Aldema Menini Mckinney

TEXTO DE PAULO DE TARSO MENINI TRINDADE

" Nestas horas de irrealidade cotidiana é bom parar um pouco, pensar e falar em outras coisas que não sejam vírus, pandemia, Bolsonaro e isolamento social. Vale a pena respirar fundo e lembrar que tudo passa, inclusive isso. Para este tempo, portanto, um assunto mais leve e interessante. Olhem estas fotos:

 



 
  
Você conhece essas pessoas? Este senhor não é um epidemiologista famoso? Ela não foi secretária de cultura de São Paulo? 
As respostas em ordem são não, você não os conhece, não é nenhum epidemiologista e ela não foi secretaria de nada. Eu sei disso com certeza porque essas pessoas não existem. Essas fotos acabam de ser inventadas meio segundo antes de eu começar a escrever, por um programa de Inteligência Artificial. Para ver a prova e gerar suas próprias “pessoas”, vá ao site thispersondoesnotexist.com. Este site foi criado pelo pesquisador americano Phillip Wang para demonstrar uma técnica de inteligência artificial chamada Redes Neurais Adversarias. O site gera uma nova “pessoa” cada vez que se abre ou atualiza.

Por mais que pareça bruxaria ou uma coisa muito complicada, essa técnica de Redes Neurais não é difícil de entender. É importante entender o que elas são e como funcionam porque as redes neurais estão se tornando cada vez mais presentes em nossa vida diária, desde a maneira como a Netflix decide que programas lhe sugerir, à maneira como o Facebook reconhece quem é uma pessoa numa foto. Em um futuro muito próximo estas redes vão decidir quem será contratado para uma vaga de trabalho que senta do seu lado, qual é o diagnostico de sua radiografia de pulmão, e qual deve ser o preço do leite no supermercado da esquina. Nada disso é ficção científica, cada uma dessas coisas já acontecem em diferentes partes do mundo. Isto não é o futuro, é o presente, somente ainda não está distribuído de maneira homogênea pelo mundo, mas já,  já, vem. Não é diferente de quando começaram os celulares ou a Internet.

Este assunto é mais leve que falar de pandemia, mas é muito mais importante que a pandemia que é transitória;  a inteligência artificial,  uma mudança sísmica nas bases de toda a civilização. Se a corrida nuclear foi a batalha que definiu a maior parte do século 20, e, por pouco, não matou todo o mundo, a batalha pela criação de inteligências artificiais cada vez mais capazes é a batalha que está definindo este século, que já vai a 20%.

A batalha pela inteligência artificial está sendo travada entre os centros de poder na China e nos Estados Unidos, com a Europa em um terceiro lugar distante, e a Rússia nem no páreo, porque, por mais que eles tenham uma grande tradição de matemáticos e engenheiros brilhantes, não têm as instituições políticas e de pesquisa que permitem que se faça progresso. Os Estados Unidos têm vantagem neste momento, mas suas instituições estão muito abaladas, e o futuro é mais incerto que nunca.

A China está tentando fazer progresso com sua típica maneira de pensar de cima para baixo. Comenta -se que o Premier chinês Xi Jiping ficou muito abalado quando, em 2016, um, de redes neurais da Google, ganhou repetidamente do campeão mundial no jogo de Go. Esse é um jogo de tabuleiro em que, para se ganhar, é necessário estratégia e subterfúgio - é um jogo de “manha”, tanto quanto de lógica. Desde então a China passou a investir quantidades enormes de dinheiro em pesquisa nesta área.

Em 2019, um programa de uma empresa “start-up” conseguiu repetidamente ganhar dos melhores jogadores de pôquer do mundo. O programa de redes neurais usado para gerar estas fotos é de domínio público, qualquer pessoa pode copiá-lo ou modificá-lo. O programa de pôquer e a empresa que o criaram desapareceram do mapa, com uma história esfarrapada de que era para não arruinar os cassinos online. A realidade é que, de todos os jogos, o pôquer é o mais similar à estratégia militar, e quem tem o melhor general ganha a guerra.

Entender o método de “redes neurais adversárias” que inventou as pessoas nestas fotos, começa por entender que, no mundo da tecnologia, muitas vezes, grandes avanços se geram na resolução de problemas menores ou não relacionados. Um exemplo disto foi um trabalho publicado pelo matemático inglês Alan Turing, em 1936, no qual Turing sugeria um método novo para comprovar um teorema matemático. Turing tinha 24 anos quando publicou este trabalho, e o método que descreveu era uma máquina que Turing chamava de “computador”, escrito assim, entre aspas. Durantes muitas décadas os computadores foram chamados “Maquinas de Turing”, e o chip do computador, em que você está lendo agora, é feito milhões de Máquinas de Turing, desenhados com base nos princípios que ele descreveu em 1936, tentando provar um teorema matemático obscuro ao qual ninguém nunca deu bola.

 A história humana é uma repetição dos mesmos tipos de pessoa, com variações sobre os mesmos temas. As pessoas são boas, malvadas, heroicas, traidoras, mas no agregado a humanidade não mudou muito nos últimos 10 mil anos. Existem registros históricos, com mais de 4 mil anos, de gente reclamando que “esta juventude de hoje não é como antigamente”.

 Se a humanidade não mudou, o que mudou foi a nossa tecnologia, que é nossa capacidade de usar conhecimentos abstratos para modificar nosso mundo concreto. A tecnologia nos levou dos sinais de fumaça ao telefone à internet, das pedras ao arco e flecha e às armas nucleares. ( continua...)




PS. 1) Não poderia deixar de postar uma foto do meu filho ( mãe é sempre assim).
2 ) Testei o site thispersondoesnotexist.com. Me diverti "criando" fotos de pessoas que não existem. 
3 )  O texto publicado é bastante longo. Resolvi dividi-lo em três partes. Vale a leitura!
4 )  Agradeço a Rosana Zucolo pela ajuda na formatação e mudança de programa. 
5 ) Bom domingo. Amanhã, postarei a 2a. Parte.

domingo, maio 24, 2020

Fernando Pessoa - Bom fim de semana!

Norte da Bulgária  /  2019/2o.semestre

"Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
E se a terra fosse uma cousa para trincar,
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz,
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol, 
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedo e erva...

O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
E que se assim é, é porque é assim."

Fernando Pessoa


Norte da Bulgária  /  2019/2o.semestre




segunda-feira, maio 18, 2020

O que faço sem viajar neste 2020/1 ?

Meus tricôs!

Ainda em fevereiro, quando percebi  que seria impossível  fazer a  viagem já roteirizada para  2020/1, pensei, com certa tristeza:  e  agora, que farei? Eu não percebia, naquele momento, que me   rondava uma tristeza muito mais triste e uma dor   bem maior do que o simples cancelamento de uma viagem. 
Comecei logo,logo, a sentir medo por fazer parte do grupo de risco: além da idade e da asma, há menos de dois anos, uma cirurgia retirara metade de meu pulmão esquerdo, e a totalidade de um câncer genético que ali se alojara ( esclareço que nunca fui fumante!) 
Meu medo foi, gradativamente, crescendo e ampliando o espaço geográfico brasileiro, onde vivo, e passou a incluir os Estados Unidos, onde vive Patati, meu filho; a China, onde vive Jim, meu enteado; o Uruguai, o Canadá,  a Espanha, a Itália, a Grécia, a Alemanha, a Índia e outros espaços em que  vivem tantos amigos e parentes. Logo, veio a inclusão de todas as pessoas - gente como a gente que fazem a dor e a alegria de cada lugar ser o que é.
O medo foi cedendo lugar à tristeza - tristeza continuamente intensificada nesses dois meses de isolamento social, quer  pelas notícias, quer pelo rumo dos acontecimentos. A inveja, um dos pecados capitais de que eu me julgava distante, apareceu agora na Pandemia. Invejo profundamente os países que são governados por pessoa séria, competente, sensível, democrática e - se não for pedir demais - sem fanatismo religioso e com linguagem adequada ao momento. 
Estou na casa e na companhia de Maria do Horto e Potiguara Brites - amigos/irmãos  há  mais de 50 anos. Estaria bem se não fosse a saudade de muitas pessoas, e a dor que se espalha pelo mundo. A constante imagem de crianças assustadas, de olhares suplicantes, de pessoas que choram, vêem seus mortos em caixões fechados e os enterram em covas rasas, mais do que sensibilizam, machucam,  agridem, revoltam. Para algumas pessoas, entretanto, essas que enxergam o outro unicamente no limite de próprio umbigo, os números da estatística de mortes só farão sentido quando tiverem a cara de um familiar ou amigo. 
Mas o que faço eu sem viajar neste 2020/1 ?  Espero pela vacina - obrigada, Claudio Zoppi, pela boa notícia - acompanho declarações de governantes e faço tricô. Acolho as tristezas deste momento que será estudado por gerações futuras. Busco sobreviver - afinal ainda não fui a Teruel.