Tio Napoleão, penso eu, era dos filhos mais velhos de Tobias Menini. Tenho vaga lembrança dele e penso nele como uma pessoa muito doce, acolhedora, simples. Muito amigo de tio Pedro - a quem costumava visitar semanalmente. Como era costume na região, para as visitas, ele usava roupas de domingo - as melhores! - lenço branco e chapéu preto. O cavalo, bem encilhado, com pelegão claro e badana escura. Conversavam, tomavam mate, almoçavam, sesteavam, tomavam café, conversavam mais um pouco e o visitante retornava para sua casa ao anoitecer. A propriedade de Napoleão era perto da casa do Tio Mário e da Tia Maria Antônia - um bonito lugar, com cerca de 200 hectares e com rochedos nas proximidades. Ali, ele criava bovinos e ovinos e plantava milho, mandioca, batata doce e abóbora. Contam que meu tio gostava muito de garnizés - uma minigalinha, barulhenta e bonita - e que tinha muitas dessas aves. Contam que seu último momento de lucidez, na noite em que morreu, foi quando ouviu o canto de um garnizé e falou para os amigos que o estavam cuidando: Meu galinho está cantando e, assim contam, ele sorriu pela última vez.
Meu primo Gildo ( Leovegildo de Ávila Ribeiro ), neto de Tio Pedro, era afilhado de Tio Napoleão e recebeu esse nome em homenagem ao filho do padrinho, prematuramente falecido. Ouvi contar, sem, entretanto, ter encontrado documentos, como usualmente ocorria em tempos antigos, que a mãe de Pedro era irmã da mãe de Napoleão. Essas duas irmãs seriam paraguaias, descendentes de índios. Como escrevi no início deste livro, a mãe de Pedro teria morrido no parto, deixando esse único filho.
1o. de janeiro de 1947
Conforme costumava acontecer no meio rural, Tio Napoleão ficou doente em sua casa e não foi levado para a cidade. Sofria de um problema nas pernas e , em pouco tempo, não mais podia mover -se . Os parentes e amigos buscavam remédios para ele na cidade. Os vizinhos também se revezavam para cuidá-lo. Ele morreu assim, em casa, cuidado por parentes e amigos, como era comum naquela época, e ouvindo o cantar do galinho garnizé.
Meu agradecimento a Alberto Menine Conczviz, Rita Lisandra Doyle Conczviz e Leovegildo de Ávila Ribeiro pelas informações e fotos.
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