O vôo Bangalore / Delhi foi difícil. Chovia muito – são as “monsoons” nesta região. O avião “tremia “bastante – e eu também. Cheguei com duas horas de atraso. Dormi em Delhi e saí cedo , no dia seguinte, para Pushkar. Estive em dúvida se ia para Nainital ( montanhas) ou Rajisthan. Sorte que decidi pelo Rajisthan, estado de que eu conhecia somente a capital, Jaipur.
A viagem já é fantástica. A maioria das estradas são excelentes . As pessoas que encontrei no caminho, com suas roupas muito coloridas, constituem um belo espetáculo – as mulheres com a cabeça coberta por echarpes lindos; os homens ,com belos turbantes de cores fortes.
Os animais, principalmente os camelos e os elefantes, constituem um outro espetáculo belíssimo. Com muitos enfeites coloridos, alguns puxam cargas em antigas carretas, outros transportam pessoas.Dividem estradas com diferentes veículos.
Vim de carro – 9 horas de viagem. Quando vi Pushkar, senti-me recompensada. Indescritível. Trata-de de uma cidade – templo, lugar de peregrinação – possui mais de 200 templos. Está cercada por montanhas não muitos grandes , mas com formatos diversos – e sobre algumas dessas montanhas, templos e lagos sagrados. O lago principal, entretanto, está bem no centro de Pushkar, e, ao redor desse lago, distribuem-se 52 “ghats”, por onde os peregrinos alcançam as águas sagradas do lago e se banham para limpar os pecados e purificar o espírito.
Na cidade, é proibido comer qualquer tipo de carne ou ovos e é também proibido o uso de drogas e bebidas alcoólicas - achei muito divertido quando vi um menino do hotel trazer escondida uma garrafa de cerveja comprada no mercado paralelo - detalhe: a cerveja era sem álcool!De manhã cedo, fui até a ghat do principal templo hindu – levada por um amigo de um amigo de um amigo meu...como sempre me acontece.
Naquele ghat , fiz todos os rituais, como oferendas de flores (rosas vermelhas e cravos amarelos perfumadíssimos ) e alimentos ao lago, pintura na testa, preces para os antepassados mortos e pedido de saúde, paz , dinheiro aos filhos, parentes e amigos , devidamente nominados – imaginem a extensão da minha lista, embora sintetizada pelo nome da família, por exemplo, os Daudts, os do Canto, os Siqueiras, os Guterres ...
Em Delhi |
Repeti muitas preces em hindi... que não entendi , mas levei fé! Foi bem bonito e até fiquei emocionada, especialmente quando pensei em familiares e amigos. Tentei fazer fotografias que dessem conta de um pouco da beleza e da magia deste lugar. Impossível. Vi muitos camelos, um comércio pitoresco principalmente de ornamentos para camelo, ruas apinhadas de gente, muitos sadus ( santos vivos )e cerimônias em diferentes lugares.
Visitei templos e ouvi histórias, como a de Brama e suas duas esposas. Escutei previsões de astrólogos e cartomantes. Mesmo com chuva, fui percorrer a cidade a pé e descalça, pois, sendo lugar sagrado, eu não poderia estar usando sapatos. Voltei com barro até perto do joelho ( O tempo todo tive medo de pisar em um prego, pedaço de ferro ou lata - até perdi a certeza de que minha vacina antitetânica estive valendo...).
Puskar é um dos lugares mais singulares e comoventes que conheci.É um lugar de paz mas de surpresas a todo momento. Daqui a uma semana, parto da Índia para a Europa, onde devo permanecer por mais dois meses. Saio agradecendo ao Cosmos que me permite chegar a lugares inesquecíveis.
"Louvado seja Deus que não sou bom,
E tenho o egoísmo natural das flores
E dos rios que seguem o seu caminho
Preocupados sem o saber
Só com florir e ir correndo.
É essa a única missão no Mundo,
Essa — existir claramente,
E saber fazê-lo sem pensar nisso."
Fernando Pessoa
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