quarta-feira, maio 28, 2008

"Não foi nada...."

Palermo

Uma vez - já faz muito tempo - eu morava em Alegrete, tinha meus filhos pequenos, estudava e trabalhava em três empregos. Andava sempre exausta e exaurida. Em um sábado, em que eu ia cansadíssima para uma reunião numa das escola onde eu lecionava, atravessei uma rua sem estar atenta e atropelei uma bicicleta. Caí, raspei joelhos e mãos e levantei com dor e vergonha brutais - não sem antes ouvir do ciclista que, se eu queria me matar, fosse me jogar na frente de um caminhão. Ao chegar à Escola, encerrei-me no banheiro e chorei, mas chorei muito, de dor e de pena de mim mesma.

Palermo

Lembrei desse fato faz três dias. Aconteceu que eu vinha por uma bela e histórica rua de Palermo (foto) , desta vez muito tranqüila e descansada, quando fui semi-atropelada por uma moto, que deslizou de uma subida e bateu no meu braço , empurrando-o para trás. Sei que dei um grito horrendo. Ouvi do rapaz da moto que "nada se passara" e foi embora. Um senhor de uma dessas pequenas lojas de venda de alimentos, tão comuns na Itália, percebeu meu susto e chamou-me, deu-me água para beber e um medicamento para passar no braço. Perguntou se eu podia mover o braço e se ombro não doía. Veio à tona minha fragilidade naquele momento. Comecei a chorar. Chorava pelo susto. Chorava pelo acidente que poderia ter sido grave. Imaginava uma clavícula quebrada, um braço fora do lugar. Quanto mais o pobre homem falava, dizendo que o motoqueiro tinha sido irresponsável, que devia ter -me levado a um hospital, mais eu chorava. Então, tocou o meu telefone. Atendi e , com isso, estanquei o fiasco!


Palermo

Agradeci ao meu benfeitor e saí em direção ao Hotel. Saí agradecendo também ao meu Anjo da Guarda por ter sido pouca coisa e prometendo a Ele que seria mais atenta. Verdade que , no dia seguinte, não pude carregar a mochila com o notebook no ombro acidentado. À noite, tomei um antiinflamatório e passou a dor. Foram , portanto, embora em condições muito diversas, os dois acidentes de que vou sempre lembrar e que me farão temer qualquer coisa que se mova com duas rodas.

Sicilia : Palermo

Um comentário:

  1. Aldema!!
    E como uma história puxa outra, vou contar minha experiência com moto.
    Vinha eu, pela Lima e Silva, na calçada, quando um motoqueiro, saindo da farmácia para entregar medicamentos, passa com sua "possante" por cima de meu pezinho 36, calçado com sandálias douradas, hehehe!!
    Bem, sou defensora de direitos e sei bem dos meus, enquanto pedestre ou caminhante pela calçada.
    Peguei o braço do cara, que já estava vermelho e assustado com minha atitude. Segurei a camisa dele de uma forma que se quisesse escapulir me levava erguida. Ele parou e ficou me olhando, de olhos esbugalhados.
    Passei uma descompostura pior do que seria uma prestação de serviço à comunidade como pena alternativa.
    Demorei tudo o que podia. Em nossa volta juntaram-se muitas pessoas e eu aproveitei o público daquele espetáculo de rua e falei nos deveres dos condutores de moto e que ele devia respeitar a integridade física e emocional das pessoas. Citei a legislação e tudo o que sabia de boas maneiras e cavalheirismo. Ele, às vezes, falava junto comigo, e me dizia, quer que te leve pro hospital? Quer entrar na farmácia??
    Que nada!! Eu queria deixar o cara vexado pra ele não esquecer o que fez e respeitar as pessoas com medo de alguém que possa admoestá-lo outra vez!!
    Uma vez li sobre penas alternativas aplicada por juízes, na Inglaterra, e numa delas o infrator deveria ir a um lugar, sentar à mesa frente a um educador que o censurava por sua atitude e dependendo do ato praticado, aumentava o tempo que o cara era submetido a "conselhos" periódicos. Diziam os educadores que esse era um dos "castigos" mais temidos. Bem, me inspirei nesse processo e apliquei essa pena ao motoqueiro descuidado que passou em cima de meu pezinho. Voltei pra casa com o telefone e endereço dele para chamá-lo caso sentisse dor mais tarde. Não senti nada...

    ResponderExcluir

Obrigada. Logo responderemos sua mensagem.