quinta-feira, junho 06, 2019

Retorno ao Brasil: Relatório ou texto de agradecimento?

Lisboa

Relatório ou texto de agradecimento? Tanto faz. É  o que tenho hoje vontade de escrever. Em junho do ano passado,  quando recebi o diagnóstico de que eu estava com câncer de pulmão - o mesmo que matara, há pouco tempo,  minha irmã e meu irmão,   com menos idade do que eu - pensei imediatamente: não vou poder viajar. 



Lisboa

Lembrei-me  de Amyr Klink - ele escreveu que o maior medo do navegador é não poder partir. E eu estava com viagem planejada para o início da primavera. Senti medo intenso de não poder partir ... nem em setembro, nem nunca mais. Passados  cirurgia e  período de recuperação, alimentando-me da confiança nos meus médicos - Paulo Teixeira, Spenser Santiago e Ricardo do Amaral - recomecei a fazer projetos e já comecei a executá-los. Não há texto que traduza minha gratidão a esses sensíveis e competentes jovens.



Espanha - Segóvia

Assim, no início de maio, viajei, com Elaine e Dalva, minhas sobrinhas, para a primeira viagem pós-susto. Pela TAP, fomos de Porto Alegre a Lisboa, onde fizemos um stopover de cinco dias - com muitos passeios pela capital e arredores.  As meninas foram excelentes companheiras o tempo todo: solícitas, afetivas e solidárias comigo. Agradeço-lhes muito por esse precioso convívio.



Dalvinha e Elaine em Paris

De Lisboa, sempre pela TAP, fomos para Madrid, onde reencontrei amigos que tanto demonstraram atenção e solidariedade no período de minha cirurgia e recuperação. Foi um feliz encontro reciprocamente. Na Espanha, acompanhei minhas sobrinhas a cidades de que gosto muito, como Córdoba, Sevilha, Toledo e Segóvia. Minha paixão por esse país só aumenta.



Espanha - Toledo

Admiro Paris, mas não o amo de paixão. Ir à Capital da França, entretanto, eu encaro como um dever a cumprir, especialmente quando estou com pessoas que não a conhecem. A novidade da vez foi um dia todo dedicado ao Museu D`Orsay. Delicado e deslumbrante. Como gosto muito de esculturas, não conseguia afastar-me de lá. De resto, gosto de rever lugares, especialmente pelas memórias evocadas - como meus passeios, por parques e praças, com Ronald e Mile.



Paris - Museu D`Orsay

Não posso virar a cabeça para aquele lado sem incluir a Bélgica. Fomos, de trem é óbvio, a Bruxelas, a Bruges e a Antuérpia. Longas caminhadas, com chocolates, batatas fritas e algumas comprinhas - lá mora a Kipling por exemplo. Bateu-me saudades da Alemanha - e eu precisava comprar aspirina! fomos, então, a Aachen, uma cidade entre três fronteiras. Da Bélgica, retornamos diretamente à minha Madrid, pela Ryanair - companhia que faz a gente expiar culpas ou pagar pecados.



Bélgica

O mais relevante nesta viagem, além do precioso convívio com minhas sobrinhas, foi ter conseguido partir, relembrando sempre que eu estava viva, podia caminhar, ver, escutar, respirar, rir e chorar. Voltei agradecida por ter ido, ter encontrado Lúcia, Guiga, Rui,  Arlete, Marisol, Nicole e tantos conhecidos, como o pessoal das cafeterias, onde sou assídua frequentadora.
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Lúcia e eu - amizade que permanece ao longo do tempo.

Como meu medo maior e não poder partir, cheguei já planejando voltar - preciso ir à Romênia, à Armênia e à Georgia, no segundo semestre.  Iniciarei logo um recorrido aos médicos que me tratam e  um treinamento que me permita melhores condições físicas, pois sinto ainda alguns problemas respiratórios. Não aprecio alimentar esperanças seja de que for; aprecio, no entanto, ter a realidade e a lucidez como companheiras. 



A Dalvinha e Elaine, minha gratidão.

Com muito carinho, agradeço as mensagens de tanta gente que me acompanhou nesta e em todas as outras viagens. Pretendo escrever com mais dedicação e pontualidade aqui, no Correndomundo. Tenho muito o que contar. Aguardem minha preguiça passar! 



Item de um mural em Lisboa
Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos..." Amyr KlinK







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