sexta-feira, janeiro 11, 2013

" Até que a morte os separe" ? Texto I

Minha prima e eu : iniciação ao ritual
Para quem considera o casamento seu ritual preferido, casei poucas vezes - somente duas! A primeira vez, com 20 anos; a segunda, com 65. As duas vezes,  no civil e no religioso, com promessas, aliança, festa e o que mais trabalho me deu : troca de sobrenome. Do primeiro casamento, resultaram três filhos maravilhosos e um aprendizado imenso. O segundo, que aconteceu depois de 15 anos de solteirice, deu-me um maravilhoso companheiro-companheiro  até que "a morte nos separe".

"Chuva" de arroz nos noivos

Como me encantam rituais em diferentes culturas e como gosto de casamento,  esse foi um  ritual, durante anos,  tornou-se  um dos meus focos de viagem. As fotos aqui postadas e as histórias contadas mostram um pouco do que presenciei - antecipo que me diverti muito nessas ocasiões.


Norte de Portugal : noiva criativa, fotógrafo esforçado....

Estando, certa vez, numa ilha, entrei na catedral porque vi  pessoas produzidíssimas ali entrando e logo pensei : é casamento! Era, sim, um casamento, que se me tornou inesquecível . Foi a noiva e o noivo mais feios que vi. Muito feios mesmo. Localizei uma senhora , que pensei ter cara de mãe da noiva, e pedi para fazer umas fotos. E era , de fato, a mãe da noiva. Muito simpática e feliz , autorizou-me a fotografar. Limitei-me, entretanto, a fotografar o altar, os noivos de costa e os bonitos pacotinhos de arroz. Quando terminou a solenidade, fui convidada pela mesma senhora a ir à festa.Aceitei, claro.

Noivo a caminho da solenidade do casamento

A pedido da gentil  mãe da noiva , alguém da família levou-me no carro. Uma recepção fantástica, comida excelente e local muito bem decorado. Gostei mesmo. Horas depois, retornei ao hotel, quando já estava até achando bem bonitos os noivos. Lamento que minhas fotos dessa ocasião, foram roubadas com minha mochila ... e tudo o mais que ela continha.

Muito vermelho nos vestidos das noivas


Acompanhei , em Varanasi, no norte da Índia, um noivo que ia pelas ruas,  num  cavalo branco devidamente adornado, acompanhado de muitas pessoas e de muito barulho. Vi também duas noivas, que eram irmãs e estavam com vestidos iguais - ambos de seda pura, bordados com fios de ouro. São os chamados tecidos eternos, todos de rara beleza.


Cenário de um casamento em Illinois

Casamentos na Índia têm rituais diferentes de acordo com a região, a condição sóciocultural, a crença e a etnia. Encantaram-me as mãos de uma noiva, delicada e trabalhosamente desenhada com henna.O desenho dura , em média, uma semana. Além da beleza, contém símbolos de fertilidade, prosperidade, paz e felicidade. A mãe e as irmãs também usam esse grafismo, que se constitui em manifestação de uma arte milenar, denominada mehndi. Penso que esse respeito as tradições ajuda a construir vivências mais duradouras e harmônicas.



Lugar preferido para fotos na praça central de Kosice
Fui a um casamento, em Kosice, na Slovakia, onde se passou algo particular e interessante. Quando os noivos estavam entrando no salão da festa, pessoas jogaram , na frente deles, pratos brancos de porcelana que se espatifaram. Imediatamente o noivo recebeu uma vassoura, e a noiva, uma pazinha. Ele passou a varrer, e ela, com a pazinha, a juntar os pedaços.Terminada essa tarefa conjunta, os noivos abraçaram-se, sendo aplaudidos pelos convidados. Trata-se de um ritual para trazer boa sorte e evidenciar a solidariedade e o companheirismo na solução de problemas cotidianos. Na hora, pensei que muitos relacionamentos poderiam ser salvos com esse exercício cotidiano de juntar os cacos.



No Castelo de Praga

Em lugares fotogênicos, muitas vezes encontrei recém-casados, acompanhados de fotógrafos e cinegrafistas, registrando o acontecimento. Lembro-me bem de vê-los pelas ruas de Florença, Verona ou Veneza, pela galeria de Milano, por Paris, Catânia, Barcelona, Budapest, Praga e tantas outras cidades. Às vezes, familiares iam juntos; outras vezes, os noivos iam sozinhos.


                                                            Bela noiva  em Guillin , na China


Tradicionalmente, as noivas usam branco. Já, entretanto, encontrei  noiva usando vermelho e, em outra cidade, uma usando preto - com véu preto também. Estranhíssima. mas linda! Linda também essa noiva chinesa, que encontrei na entrada  do Hotel Sheraton, em Guillin, e que gentilmente permitiu que eu a fotografasse  várias vezes. Agradeci e me afastei. Minutos depois, fui surpreendida quando ela e o noivo me chamaram  para, delicadamente, me presentear  com uma bela caixa de doces, Chorei! Delicadeza sempre me comove.


Casamento em Sofia, na Bulgária

O vestido mais surpreendente que vi, era branco, de seda, com véu e cauda longos. De costa, era um vestido tradicional; de frente, apenas uma mini blusa e um sensual shortinho , brancos também. Os noivos estavam sendo fotografados, junto com a família, num histórico casarão, na Estônia.
O véu é uma tradição que tem origem no Antigo Testamento, na história de Rebeca, que se cobriu com um véu quando se aproximou de Isaac, seu futuro marido. Diferentes adereços, no entanto, podem substituir o véu - alguns porque , assim, determina a tradição.


A noiva com seu terceiro vestido de modelo tradicional


Na China, as noivas não usam apenas o vestido de noiva. Tradicionalmente, usam três vestidos. O primeiro, qipao ou cheongsam tradicional, um vestido bordado, em geral vermelho, por ser a cor traz sorte. Em seguida, a noiva pode trocar por um vestido branco, bonito e muito trabalhado. Por último, usa vestido na recepção, modelo tradicional, de seda, na  cor à sua escolha. Nos nossos padrões , seria um vestido alto esporte.



Acompanhei um casamento na Escócia, impressionada com a elegância e a desenvoltura do noivo e de seus convidados, com as tradicionais roupas escocesas. Lamentavelmente, não me foi possível esperar a chegada da noiva. Lindas são as decorações das igrejas. Lindos os buquês das noivas,que remetem à antiquidade, quando eram feitos com plantas aromáticas e enfeitados com alho para dar sorte e afastar mau olhado.


Rumênia 


Na Grécia, vi um casamento onde o noivo entrava com o buquê de flores, com que presenteava a noiva logo que ela chegava ao altar. No Peru, o tradicional lançamento do buquê para as solteiras é substituído por fitas colocadas dentro de um bolo, ficando uma  parte delas para fora. Cada moça puxa uma das fitas: casará primeiro a que puxar a fita que tem , na sua outra extremidade , uma aliança. Há, ainda, uma simbologia nas flores escolhidas para compor o buquê. Rosa vermelha, por exemplo, indica paixão; orquídea, sensualidade; margaridas, virgindade e inocência. Não sei por que margaridas andam pouco utilizadas...

A bonita embalagem da tradicional bomboneira italiana

Uma tradição, que me encanta na Itália, é a de presentear os convidados com um bomboneira, de porcelana ou de cristal, cheia de confeitos. São lindas e vêm em pacotes belíssimos. Tenho várias delas. Contou-me Lídia, minha grande amiga italiana, que, atualmente, por conta do espaço que tomam na casa, as bomboneiras vêm sendo substituídas por outras lembrancinhas, como recipientes com sementes de flores, que nascem assim que são umedecidas. Lamentei. Gosto de ver lojas especializadas em presentes e adereços nupciais e gosto de encontrar nelas as tradicionais bomboneiras.

Nos US, bolo dividido em duas partes.

Lembro-me que escrevi , aqui no Correndomundo, dois posts sobre casamento, sendo um na Itália, com ênfase à festa e ao cardápio, e outro nos Estados Unidos, onde o noivo escolhe uma cor temática, e a noiva escolhe outra e os balões, que os convidados recebem e soltam ao final da cerimônia religiosa, têm essas duas cores. Também , nos US, o bolo da noiva é dividido em duas partes: uma é cortada pelos noivos e servida aos  convidados; a outra, congelada para ser comida no primeiro aniversário de casamento.


A noiva escolheu lilás; o noivo, verde como cores da festa.
Pensei , agora, nos lugares em que encontrei maior número de noivos, posando para fotografias. Foram muitos em Veneza, onde eles fazem ainda um passeio de gôndola, devidamente registrado em fotos e vídeos. Em Firenze, Napoli, Milano e Roma, persegui vários recém casados pelos lugares históricos. Em Praga, especialmente no castelo, também os fotografei várias vezes. A cena, entretanto, que mais apreciei, foi numa praia do Mediterrâneo, lugar onde o jovem casal despia-se das roupas tradicionais, ficando a noiva de biquini e o noivo de short, e jogavam-se na água do mar. As fotos devem ter ficado belíssimas.


Noivos na Polônia - Varsovia

Em 2012, na estação de trens, na Bélgica, roubaram minha mochila. Foi-se meu PC com mais de cinco mil fotografias; meu IPod , com mais de quinhentas. Lamentei, agora, quando senti falta de muitas fotos de noivos, inclusive uma em que o noivo ia bem à frente da noiva, conversando com o fotógrafo, e ela sozinha, descalça, segurando  a cauda do vestido e carregando os sapatos. Por sorte, foi num país onde existe o divórcio!




Você já foi a casamentos que o(a) surpreenderam por ser diferente? Conte-me , por favor.


13 comentários:

  1. Que maravilha de texto!!!!!!!!!!!

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  2. malumaldaner4:22 AM

    Aldema
    Adorei conhecer as diversas formas de se realizarem casamentos.Obrigada por compartilhar conosco essas maravilhas .Parabéns!
    Lúcia

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  3. aldema ( www.correndomundo.blogspot.com )4:25 AM

    Obrigada,Rosana.Sabes bem quanto me é importante tua opinião.Bj

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  4. aldema ( www.correndomundo.blogspot.com )4:28 AM

    Obrigada,Lucinha. Quando reunir as fotos, penso escrever sobre o ritual da morte.Meio macabro,não?
    Beijo

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    1. Lembro de teres me contado de um ritual da morte na Índia, em que apenas homens podem participar e que espiastes todo por uma janela escondida. Já estou dando spoiler :-)

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  5. Edilma6:33 AM

    Pois é Aldema,

    O casamento é uma cerimonia lindissima, adoro os bolos, lembro-me de quando eu era pequena e ía a casamentos em que os bolos eram feitos pela família da noiva, enormes, deliciosos,para mim era a melhor hora, rsrsr

    bjos

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  6. aldema ( www.correndomundo.blogspot.com )7:01 AM

    Tens razão,Edilma. Os bolos eram deliciosos. De criança, tenho a memória de um bolo com gosto de manteiga, no casamento da minha irmã mais velha. Nunca mais senti o mesmo gosto. Era gostosíssimo!
    Beijos
    Aldema

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  7. Em viagem já vi muitas coisas com relação a casamento mas uma que sempre lembro foi em Montevideo. Era madrugada de sexta feira e eu e o Luis Behares estavamos caminhando pela cidade e paramos na praça do Entrevero para descansar. Notei em poucos minutos a praça cheia de noivos tirando fotos com suas famílias, noivos de todos os estilos e poder aquisitivo tirando fotografias na praça. Luis me contou que isso era normal de acontecer lá.

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  8. aldema ( www.correndomundo.blogspot.com )5:07 AM

    Gugu, eu lembro de um casamento em Alegrete: havia mais curiosos na frente da igreja do que convidados.
    Obrigada pelo comentário.Beijos

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  9. Sogra, lindo o texto! No meio onde vivo há tão poucos casamentos, as cerimônias são raras, os casais querem só o civil ou só moram juntos... Quem sou eu para falar! São sempre lindos e representam um momento de amor e esperança de duas pessoas que querem viver e crescer juntas. AS famílias juntas é a parte mais gostosa, a comida, as conversas e as amizades que se fazem nessas ocasiões. Festa é sempre bom!

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  10. aldema ( www.correndomundo.blogspot.com )5:50 PM

    Concordo,Adri. Sabes bem o quanto eu gosto de casamentos - um ritual importante e bonito mesmo.Beijos

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  11. aldema ( www.correndomundo.blogspot.com )5:34 AM

    Oi Aldema.
    A foto que estou te enviando é uma comemoração de casamento na calçada. Havia os noivos, uma dama de honra, alguns amigos e uma caixa no chão onde estava o espumante. Estavam todos muito alegres. Warnemunde é uma pequena cidade alemã de 80 mil habitantes, às margens do rio Warnow já na sua foz com o mar Báltico. Foi no mês de julho de 2012.
    Brincadeirinha: e os cadarços de ovos que eu te ensinei a fazer?
    Um grande abraço em ti e no Ron.
    Sônia Correa

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    1. Aldema M Mckinney4:41 PM

      Querida Sônia Correa
      Obrigada pelo relato.
      Inesquecível aquela aula prática que tu, pacientemente, me deste sobre "fios de ovos" . Prestei atenção e fiz anotações. Ao fazê-los , entretanto, sem o teu assessoramente, saíram, em vez de " fios" cadarços, cordões e fitas...Concluí que eras uma artista nata...Beijos

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