Já lhes contei que gosto muito de chuva, tanto de noite quanto de dia ou em qualquer estação do ano. Noites chuvosas me trazem doces lembranças de infância com a água batendo na cobertura de zinco da casa onde fui criada: uma propriedade, bastante isolada entre serros, chapadões e matos. Para além da sonoridade da chuva, eu experimentava a paz e a ausência de medo, advindas da certeza de que os bandidos também não saíam a fazer maldades em noites assim, com chuvas, raios e trovoadas. Eu acreditava que até eles, os maus, respeitavam a natureza.
Pobre criança! Hoje, já deixei, pela estrada da vida, a telúria e o romantismo rural. Há muito aprendi, entre outras tantas coisas, que os bandidos saem a qualquer hora, não respeitam a natureza, agridem o meio - ambiente e, para serem reconhecidos como do bem, precisam, isto sim, de informações, marqueteiros, suporte material... e aceitação de muitos...
Minha casa, minhas plantas.
Não lhes contei, no entanto, que, por gostar de chuva há tantas décadas, elegi março como o meu mês favorito - não só pelas Águas de Março, que leio como uma bela metáfora de Tom Jobim, sobre a vida e a morte, mas também como o sinal de espera das modificações e das surpresas que esse mês pode trazer, já que, no meu país, é comum se postergar afazeres e decisões para depois do carnaval.
Minha colheita de pêssegos/2023
"São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração"
Meu jardim
"Guardo ainda, como um pasmo
Em que a infância sobrevive,
Metade do entusiasmo
Que tenho porque já tive.
Quase às vezes me envergonho
De crer tanto em que não creio.
É uma espécie de sonho
Com a realidade ao meio."
Fernando Pessoa
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