domingo, abril 25, 2021

Pedro Pedreiro... Esperando, esperando, esperando...

 

                                                                  Escultura - Noruega                                                                       

"Esperando, esperando, esperando

Esperando o sol
Esperando o trem
Esperando o aumento
Para o mês que vem
Esperando a festa
Esperando a sorte
E a mulher de Pedro
Esperando um filho
Pra esperar também..."
Hoje acordei pensando no Pedro Pedreiro, magnífica criação de Chico Buarque. Deixando de lado as reflexões que já fiz em aula sobre esse texto, subjetivei-o. Estou assim ... desde o início de 2020 - Esperando, esperando, esperando...

- esperando inicialmente as notícias dos amigos da Europa, pois, quando voltei de lá, já se falava em epidemia;
- depois sofrendo com as incertezas : onde seria melhor permanecer, que tratamentos faríamos, como reagiriam os planos de saúde, se haveria desabastecimento, se os preços subiriam muito, e outras tantas dificuldades de projeção futura;
-  esperando as reações da população brasileira, do Presidente da República e do Ministro da Saúde;
-  pensando em como seriam as reações dos poucos realmente ricos e dos muitos que pensam ser ricos;
- preocupando-me com a pobreza extrema de tantos brasileiros e de como seria o acesso deles à prevenção e à sobrevivência já dificil.


                                                                 Noruega - escultura


Aos poucos, o contexto foi-se tornando analisável, com muita dor, mas sem grande surpresa ;
- começaram os primeiros casos de covid19  que foram desvelando nossas fragilidades  e a nossa  incapacidade de mirar outros países atingidos antes de nós e colher deles informações e experiências;
- inicialmente as contaminações chegaram pelos aeroportos e, em pouco tempo, tornaram-se  comunitárias; 
- mas o SUS  foi o milagre esperado - seus profissionais deram conta até do que parecia impossível;
- o governo - apesar de esforços do então Ministro da Saúde, foi o desastre que antevíamos -  conseguiu o presidente  superar-se com o descrédito demonstrado pela Ciência, com a incapacidade comunicativa, a falta de sensibilidade e, ainda, com uma sequência de erros, alguns primários;
- esperando, esperando, nossos temores foram aumentando :  negações inacreditáveis face a informações já recebidas, orientações equivocadas  sobre o controle da contaminação, ausência de sensibilidade com a dor de tantas pessoas, falta de respeito até com os mortos  e muitos palpites, frutos da ignorância, até sobre a duração da pandemia.


                                                                            Idem

 
Tínhamos a certeza, até metade  do ano,  de que 2020 seria o ano difícil, mas podíamos esperar melhoras para 2021. Até um pouco antes de novembro, veio o temor de que o ano vindouro poderia ser  igual ao anterior. Mas, em dezembro, veio um pouco de esperança com a vacina, apesar do que nos parecia ser torcida contra dos que detinham o poder. 

Passamos a esperar a nossa vez de sermos vacinados - esperar a primeira dose da vacina, esperar depois a segunda dose ...e esperar passar 14 dias depois dela. Esperar que filhos, netos, irmãos , sobrinhos, tios,  primos, amigos, vizinhos, o país inteiro fossem  vacinados porque somente assim nos sentiremos mais seguros . Continuamos esperando...esperando...


                                                                                   Idem


A pior , entretanto, de todas as esperas foi a do número de mortos. No início, apenas números. Com o passar do tempo, rostos conhecidos nos números - e a dor foi-se tornando maior e mais próxima de nós. Passei a ter medo dos comunicados via-internet e até do toque do telefone - assim eu soube da morte do pai da minha nora, de um professor-índio que trabalhara mais de dez anos num projeto de que participei, do Sebastião, fisioterapeuta de meu filho em Alegrete, do pai de uma grande amiga na Espanha, de João, um primo meu ... e até agora foram mais de trinta pessoas próximas de mim, parentes, amigos, colegas, vizinhos e ex-alunos...

Logo, logo os mortos serão 400 mil mortos ...famílias sofrendo, histórias de vida canceladas, filhos sem pais,  pais sem filhos...Não , não era a gripezinha que muita gente esperou,   é a dor, é a saudade, é a espera de que a imunização ande mais rápida e que o desastre não seja ainda maior.  





"Pedro pedreiro fica assim pensando
Assim pensando o tempo passa
E a gente vai ficando pra trás..."


                                                                           México

 

Um comentário:

  1. Ótima inspiração a canção de Chico Buarque, belíssima reflexão com nosso momento de espera sem fins, tristíssima é a nossa sina. Mas com esperança acima de tudo de que sairemos, melhores ou piores, sairemos e vivos!

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