terça-feira, junho 09, 2015

Meknes - Vale uma Visita!










 











Das quatro cidades imperiais de Marrocos - Rabat, Marraquexe, Fez  e Meknes -  a minha preferida é Fez. Gostei muito de voltar a vê-la passados vinte anos. Marraquexe continua sendo a mais conhecida, barulhenta e famosa. Rabat é tranquila e elegante. Meknes é a mais modesta, mais calma e sempre me pareceu a mais acolhedora. 



Situada em parte no  Médio Atlas, com um milhão de habitantes, possuidora de uma terra fértil, Meknes contribui fortemente com a economia do País, produzindo  cereais, azeitonas, uvas, frutas cítricas e outros produtos agrícolas. As plantações de trigo e de oliveira me encantam. Seus campos lembram delicadas aquarelas. 




Rodeada por  muralhas, a cidade de Meknes está dividida em dois agrupamentos urbanos bem diferenciados, o antigo - onde está a Velha Medina -  e o moderno - realização dos franceses -  que não é tão moderno assim...Ao sul da Medina, está a tumba de Mulay Ismail, o sultão que deu a Meknes seus dias mais gloriosos e que nela reinou por 55 anos.


         
Embora tenha sido fundada, no século X, por uma tribo Beribere, o esplendor de Meknes só apareceu mesmo em 1662, com o domínio de Mulay ar- Raschid. Ao morrer Raschid, assumiu o comando da cidade seu irmão Mulay Ismail, que , entre outros feitos, dotou a cidade de 25 km de muralhas, 20 portas monumentais e 50 palácios.  Morrendo Ismail , em 1727,  a cidade perdeu muito de seu brilho. 




Mohammed III , neto de Ismail, preferiu mudar-se, então, para Marraquexe. O terremoto de 1755 - aquele que devastou Lisboa - afetou também a Meknes. A partir de 1912, o protetorado francês converteu a cidade numa sede militar - e chegaram, então, agricultores franceses que foram assentados nas férteis terras da localidade.

Túmulo de Ismail

Depois da Independência de Marrocos, a maior parte das propriedades foram recuperadas pelo governo e arrendadas a agricultores locais. Hoje, o turismo tem importante papel na economia do País , incluindo Meknes é óbvio. 




Penso que, na paralela histórica da Humanidade, as fofocas sempre correram e tiveram um espaço insuperável. E fofocas - em qualquer tempo e espaço - envolvem , prioritariamente, sexo e dinheiro ( quem conhecer outro tema básico de fofocas, por favor , avisem-me...tenho procurado muito outros temas, sem, porém, localizá-los). Pois bem, a seguir, conto mais uma. 




Ismail tornou-se amigo do rei da França - Luís XIV? - e tentou casar com a filha dele, Maria de Bourbon O rei não gostou nada disso. Sem querer perder o amigo e aliado, entretanto, buscando uma compensação, presenteou-lhe com uma rara e preciosa coleção de relógios - coleção que está hoje no Museu de Ismail, junto ao seu Mausoleu. Acrescente-se que o marroquino referido tinha um harém com mais de 500 mulheres e cerca de 800 filhos. Foi também um grande reprodutor.




O Mausoléu de Moulay Ismail é um dos mais ricos e suntuosos que eu conheci. Para a construção de seu túmulo, foram trazidas pedras de diferentes palácios. Inclui pedras também de Volubilis, ruínas romanas distantes 33 km de Meknes. É um dos poucos monumentos islâmicos marroquinos que podem ser visitados por não-muçulmanos - desde que descalços e sem entrarem na mesquita. O Mausoléu é visto como um lugar sagrado. O atual rei - Mohammed VI - quando está em Meknes, ocupa o último grande  palácio construído por Ismail.





Parece que o tempo acentua as cores com que são pintadas as figuras históricas - para o bem ou para o mal, sem considerar a mescla que é todo se humano. O reinado de Moulay Ismail  foi realmente esplendoroso - o que pode ser visto até hoje. Ao mesmo tempo, foi um reinado brutal e violento. Era extremamente religioso e costumava castigar com crueldade quem não praticasse integralmente a doutrina do Islão.



Há muito o que ver em Meknes, especialmente na Medina, o centro histórico local. Admirei a praça Pl el-Hedim, coração da cidade antiga, construída por Mulay Ismail e originamente utilizada para anúncios reais. Transformou-se hoje num lugar de descanso para turistas, espaço para crianças jogarem futebol e desfile de vendedores ambulantes. 




A enorme porta Bab el Mansur, nessa praça,  é de impressionante beleza e grandiosidade. Sempre muito fotografada. Não se pode, entretanto,  cruzá-la. É preciso contorná-la e passar por uma porta lateral. Há mercados onde se vende de tudo, com destaque para frutos secos e especiarias; há museus em predios magníficos; a  Madraza Bu Inania, onde os muçulmanos iniciam ou aperfeiçõam sua formação religiosa; Mausoleus, como o Dar Jamal, o Mulay Ismail e o Sidi ben Aissa. E muitos bons hoteis e bons restaurantes, com preços mais acessíveis do que os europeus. Realmente, vale uma visita - ou duas, como eu fiz e gostei.


" Ide, ide de mim!
Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.
Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
Corre o rio e entra no mar
e a sua água é sempre a que foi sua.
Passo e fico, como o Universo."

Fernando Pessoa

PS.Minhas desculpas por não ter conseguido legendar as fotos. Mudei a formatação e não soube fazer isso....prometo aprender.


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