Na Medina de Marrakech |
Li - e achei curioso - que o nome Marrakech significa, na língua berbere, Marra Kech! que quer dizer Anda Depressa. A origem do nome seria anterior à fundação da cidade. O local era, então, habitado por bandidos muito perigosos, que costumavam roubar os cavalos dos viajantes que por ali passavam. Para conseguir escapar dos ladrões , gritavam Marra Kech! Marra Kech! Com esse nome, mais tarde, a nova cidade foi batizada.
Produção tradicional de Óleo de Arkan |
Reconhecendo o potencial estratégico do lugar, já que muitas caravanas do deserto o atravessavam, um líder berebere - Yusuf ibn Tasfin - construiu, em 1062, muralhas ao redor do acampamento e canalizações subterrâneas. Foi também ele que começou a utilizar, no local , a típica arquitetura de adobe de cor levemente rosada. Desenvolveu-se até que a cidade , outra vez, foi invadida e parcialmente destruída.
Medina |
Foi recuperada , tempos depois, por Yacub Al-Mansur, que construiu mercados cobertos, magníficos jardins e uma Porta Triunfal - e ainda reconstruiu a Mesquita. Com o passar do tempo, entretanto, as atenções reais voltaram-se para Meknés e Fez e só retornaram a Marrakech no século XVI, ao estabelecerem nela um importante ponto comercial na rota de venda de açúcar. Em 1558, foi criado um Mellah, bairro judeu protegido, que muito contribuiu com a cidade.
À espera ... |
Por muitos anos, houve idas-e-vindas históricas importantes para /em Marrakech,incluindo a triste retirada de tesouros daqui para levar a outras cidades. Em 1912, o Protetorado francês outorgou ao pachá Glaui poder sobre o sul de Marrocos, enquanto os colonizadores franceses e espanhois construíam a Ville Nouvelle, ampliando,assim, a cidade e melhorando as condições de vida da população.
Detalhes do interior da Medina |
Depois da Independência de Marrocos, a cidade ficou sem um projeto definido. Houve, a seguir, um ressurgimento inesperado e sem precedentes: Hippies impulsionaram a cidade, fazendo dela um mito, durante as décadas de 1960 e 1970. Foram relevantes, nesses anos, as visitas dos Rolling Stones, dos Beatles e de Led Zeppelin. Na década de 90, mansões particulares transformaram-se em B&B e começaram também os voos low cost, em finais de semana, para Marrakech. A situação se manteve boa até 2008, quando a crise mundial atingiu os mercados europeus, responsáveis por 80% dos visitantes.
Artesanato tradicional: luminárias |
Em abril de 2011, um militante islamista colocou duas bombas num café, na praça El Fnna, que mataram 17 pessoas. A cidade foi muito prejudicada: turistas cancelaram suas reservas e investidores cancelaram negócios. Em 2013, começou um retorno gradual do turismo e dos investimentos. Para 2016, está prevista a inauguração do maior museu de arte contemporânea da África, aqui em Marrakech. Aposta-se na divulgação da cidade e no consequente aumento do turismo e do crescimento da economia.
Artesanato típico |
O artesanato desta região é cuidadosamente feito e de muito boa qualidade. Misturam-se, algumas vezes, elementos inovadores com elementos tradicionais. Surgem galerias de arte que mostram e vendem trabalhos originais, que vão muito além de antigas figuras, como as mulheres de harém. Procurei endereços de galerias novas; faltou-me, porém, tempo para percorrê-las. Informaram-me que a Galeria Rê ( www.galeriere.com) e a Matisse Art Gallery ( www.matisseartegallery.com) têm um acervo bem interessante.
Google + mudou minha foto para P&B.Gostei |
Em relação a compras, é um lugar bastante tentador. Gostaria de ter visitado a Assouss Cooperative d`Argane, a Cooperative Artisanale des Femmes de Marrakech e a L´Art du Bain Savonnerie Artisanale. Mencionando cooperativas, lembrei-me de ter visto um grande forno comunitário onde as pessoas preparam o pão e levam ali para assar - parece que a cultura associativista é bem desenvolvida no País.
Interior da Medina |
A Medina de Marrakech é a maior do Norte da África. Alberga hoje mais de 250 mil pessoas. As ruas, assim como em Fez, são também um labirinto, embora sejam mais largas e com a luz do sol mais presente. Está dividida em zonas ( ou bairros ) tal como funcionavam as cidades da Idade Média. Em cada zona, há Souks ( mercados) onde predomina a comercialização de um tipo de produtos. No concorrido Souk Smarine ,por exemplo, os tecidos constituem o produto principal à venda.
Ruelas da Medina |
Há outros Souks bem interessantes. O Larzal é o mercado de lãs; o Btana comercializa as peles, principalmente as peles de ovelha de cheiro muito desagradável. Mas eu gostei mesmo foi dos boticários, profissão muito antiga e variada no oriente. Todas as Boticas oferecem cosméticos tradicionais para serem usados nos lábios e nos olhos. A henna , muito procurada, é o único cosmético que as mulheres solteiras podem usar. O óleo de Arkan é a estrela da temporada - faz sucesso entre os estrangeiros.Vendem-se também componentes necessários para os feiticeiros, curandeiros ou magos, indivíduos bem respeitados, já que a magia é parte do cotidiano do país.
Praça de D´jemmaa El Fnna |
D`jemma El Fnna, significa Praça dos Mortos. É assim chamada porque nela, antigamente, eram executados os condenados à morte. Tornou-se um dos lugares mais festivos e movimentados da cidade, que consegue reunir tradição e modernidade - a parte antiga da cidade com a parte nova. No final da tarde, é ponto de encontro entre moradores, turistas e viajantes.É movimentada até a meia-noite.
Feira na Praça D´Jemma El Fnna |
Há um grande café e restaurante, onde se pode ficar de frente para a Praça D´Jemma El Fnna e apreciar a diversidade de eventos que diariamente são oferecidos. As pessoas, por exemplo, formam círculos ao redor de equilibristas e saltibancos, encantadores de serpentes, músicos, contadores de histórias, mágicos, e lutadores de box. Os vendedores de água são figuras tradicionais também. Todos eles mostram suas habilidades em troca de moedas que esperam receber após o espetáculo ou a fotografia em que apareceram.
Os jardins, que sempre tiveram muita importância na cultura árabe, são locais de reflexão, repouso e tranquilidade.Desta vez, não visitei a nenhum deles. Costumam ter , no seu centro, um pequeno lago ou tanque, como reservatório de água para as plantas. O mais famoso é o da Menara, que tem a extensão de 88 hectares com 88 mil oliveiras, que foram inicialmente plantadas no século XII. O Olival da Menara era reservado para o sultão. Atualmente é um jardim aberto ao público.
Encontrei essas fotos antigas , em Marrocos, que muito bem mostram a minha antiguidade...São do tempo em que eu conseguia carregar, no ombro, em viagens, uma bolsa grande assim. A primeira foto é no majestoso e requintado Palácio da Baía. Desta vez, entretanto, no dia em que o grupo foi conhecê-lo, eu fiz um programa solo, caminhando pela Cidade Nova e vendo suas alterações. Gostei das cafeterias - cafeterias mesmo, onde não se oferece apenas chá de menta ( hortelã ).
Duda, minha amiga, e eu na represa, a caminho de Marrakech. |
Passados quase 20 anos da primeira vez que fui a Marrocos, senti - e vi - que ocorreram algumas mudanças no País. Não estou fazendo juízo de valor, nem consigo opinar sobre países onde não vivo cotidianamente. As mudanças mais simples e aparentes para mim, no entanto, referem-se às mulheres, frequentando cafeterias, bares e restaurantes - algo que era inadimissível; mulheres dirigindo carros e motos; casais passeando lado-a-lado; além de flexibilização das leis de modo a dar condições e oportunidades a todos. As estradas estão bem cuidadas, há muitos hoteis e restaurantes considerados bons. Marrakech é uma interessante cidade - mas eu continuo preferindo Fez.
Represa que abastece grande área de Marrocos |
Viajei a Marrocos com a parte terrestre comprada na KTOUR, em Santa Maria. Comprei o pacote, que incluía as viagens internas, numa van com motorista e guia turístico: um senhor marroquino, bastante competente, fluente em português, inglês e italiano - as três línguas faladas no grupo, que era composto por 11 pessoas de três nacionalidades. Incluía, ainda, 8 diárias de hoteis 4 ou 5 estrelas e duas refeições por dia - mais os ingressos para todas as visitas e um jantar de encerramento com espetáculo folclórico. Excelente custo-benefício. A parte aérea fiz pela Ibéria, desde Madrid, em 1h20min de viagem. Considerei boa a exceção de ter viajado com grupo desta vez, já que não costumo viajar empacotada. Gostei. Recomendo.
Feira à margem da estrada |
"O meu olhar azul como o céu
É calmo como a água ao sol.
É assim, azul e calmo,
Porque não interroga nem se espanta...
Se eu interrogasse e me espantasse
Não nasciam flores novas nos prados
Nem mudaria qualquer coisa no sol de modo a ele ficar mais belo..."
Fernando Pessoa
Vista do Médio Atlas a caminho de Marrakech |
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