quinta-feira, fevereiro 06, 2014

Aachen, uma cidade entre três países.

Escultura próxima à Estação Central de Trens, em Aachen.
Três motivos levaram-me a incluir Aachen na minha wishlist para esta viagem 2013/2014:
a ) foi a primeira cidade alemã a ter um edifício - sua Catedral - incluído no Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco, isso em 1978.  Saliente-se que  eu sou perseguidora dos destaques dessa organização; 

Detalhe da parte externa da Catedral
b) durante 18 anos, dediquei uma parte de meu tempo acadêmico ao estudo de fronteiras - geográficas e culturais - tema que sempre me encantou. Aachen tem sua localização muito próxima a dois países, sendo a primeira cidade alemã quando se vem da Bélgica;
Estação Central de Aachen - Hauptbahnhof
c) e, por último, a Catedral de Aachen, que é realmente fantástica - tão fantástica que conseguiu surpreender-me mesmo depois de tê-la visto , muitas vezes, em filmes e fotos. É a mais antiga do norte da Europa e  a principal atração da cidade.
 
O encanto da paisagem de inverno
Fomos a Aachen a partir de Colônia, percorrendo 90 km de trem, por um caminho que parece ter-se materializado a partir de telas impressionistas de rara beleza. O percurso é parte do encanto desse passeio. Chega-se à  Estacão  Central de Trens em meio a uma beleza continuada. Daí, acessa-se o centro histórico por ruas bem sinalizadas.

Centro Histórico
Com menos de 300 mil habitantes, o passeio à cidade pode ser feito durante um dia, percorrendo todo o centro histórico,  caminhando e surpreendendo-se a cada trecho - ainda mais neste tempo de Mercados de Natal. Sua história é rica; seu nome, um indicativo interessante do que se vai ali encontrar.

Escultura com mobilidade
Os holandeses a conhecem como Aken; muitos belgas e alguns franceses a chamam de Aix-la-Chapelle. Interessante mesmo é seu nome latino : Aquis Grani , que remete q origens remotas do lugar. Remete ao tempo em que os Celtas veneravam Grannus , o deus das águas e das curas. Foi, no entanto, somente em 1546, que se publicou o primeiro tratado sobre o efeito curativo das águas de Aachen.


Foram os romanos , no séc. I d.C. , os primeiros a apreciar as águas minerais que jorravam das fontes de Aquisgrand. Até hoje essas águas brotam no solo com temperatura de até 70 graus. Contam que foi esse o motivo por que Carlos Magno - bem mais tarde - fez seu domicílio permanente próximo às famosas fontes. Com o tempo, tornou-se o balneário favorito da Europa - que muito contribuiu para o desenvolvimento econômico da cidade.

Mercado de Natal em Aachen
Imaginem a alegria de Carlos Magno - a quem Frederico Barbarossa santificou, em 1165, mesmo sem reconhecimento do Vaticano - ao descobrir um lugar para banho, quentinho e agradável, com propriedades curativas, numa época em que banho era raro, frio e não fazia parte dos costumes ? Foi a descoberta de um superspa! Carlos Magno, que não era bobo, transformou Aachem no centro de seu poderoso império, onde construiu palácio, capela, academia e banhos termais e onde passou a convidar e a receber as celebridades da época.Grandes banhos. Certamente grandes festas. Ainda hoje existem 27 fontes de águas medicinais na cidade.

Detalhes do Centro Histórico
Aachen é hoje uma bela cidade que combina o antigo e o novo ,  o encanto histórico e o desenvolvimento urbano e industrial. Com muita gente bonita, esculturas fantásticas pelas ruas, griffes famosas, galerias de arte, cafés, restaurantes, livrarias, teatros, pontes, universidades, castelos, igrejas  e relíquias, harmonizando estilos e narrando, dessa forma, sua trajetória. Nem parece que, em 1656, um incêndio reduziu a cinzas 90% de suas casas e que , na Segunda Guerra Mundial, dois terços da cidade foi totalmente destruída. Admirável a força e a capacidade de inovar das gentes.

Fonte das Bonecas

Dentre as inovações de Aachen, encantaram-me , em especial, três delas - em áreas e com propostas diferentes:  a Fonte das Bonecas ( Puppenbrunnen) , o prêmio da prefeitura e o prêmio do bom humor. A Fonte foi construída em 1975, pelo escultor Bonifatius Stirnberg. As figuras, com vinculação à historia e às particularidades de Aachen, são articuláveis, sendo possível mudá-las de posição e criar novas temáticas. Pedro gostou muito das experiências que lhe possibilitavam o mover das peças.

Centro Histórico
Desde 1950, a cidade entrega, anualmente, o Prêmio Internacional Carlos Magno. Recebem essa distinção personalidades ou organizações que se destacaram por seu trabalho em prol da unificação da Europa. O outro prêmio , que me encantou ainda mais, foi o prêmio contra a sisudez , outorgado a personalidades da vida pública que, desde os seus postos de trabalho, destacam-se pelo bom humor e pelo senso de humanidade. Cruelmente, ocorreu-me pensar numa mescla de Miss Simpatia com Madre Teresa...

Maquete da Catedral de Aachen
A Catedral  de Aachen é uma das mais peculiares e mais bonitas que eu conheço. Foi construída a partir da Capela , mandada fazer por  Carlos Magno, no fim do século VIII , como parte do conjunto palaciano. Serviram-lhe de modelo os edifícios bizantinos de planta centralizada. Mostra hoje influências de diferentes épocas e estilos - como o coro gótico e as cúpulas barrocas. Na Catedral, está sepultado Carlos Magno.

Catedral de Aachen
Encontram-se , ainda, na Catedral, belíssimas colunas de mármore e granito, que , por ordem de Carlos Magno, foram trazidas de Ravenna e de Roma. Napoleão Bonaparte também gostou dessas colunas, tanto que determinou que as colunas do pórtico fossem levadas para a França. Algumas regressaram à cidade; outras foram quebradas ao serem transportadas. Quatro delas, entretanto, permanecem no Louvre.

Detalhe das colunas da Catedral
Concordo que a Catedral é o tesouro arquitetônico maior de Aachen. Há, todavia,  outros tesouros que merecem acurada visita, como: as igrejas de São Nicolau e São Paulo; o Paço Municipal (Rathaus, em alemão), construído no século XIV;  a Sede do Bispado; a universidade técnica, o Museu Suermondt, o Museu Internacional do Jornal,  a praça do mercado (Marktplatz), a fábrica de chocolates Lindt e o Jardim Zoológico. extremamente bem montado, no seu limite ocidental. Para quem curte hipismo, no mês de julho, anualmente, acontece um famoso torneio internacional, que reúne milhares de pessoas na cidade.
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Loba de Bronze na entrada da Catedral
Havia esquecido da lenda que explica a presença de uma loba na entrada da Catedral. Antes tarde que nunca, passo a reproduzi-la como a ouvi ... Andavam os cidadãos de Aachen irritados e com inveja da vizinha cidade de Colônia, que estava construindo uma grande catedral. Queriam uma também, que além de grande fosse de rara beleza. Faltava-lhes, entretanto, dinheiro para acelerar e embelezar a construção. Esses cidadãos, então,  fizeram um pacto com o diabo para obterem dinheiro e construirem a catedral rapidamente.

A alma da loba teria saído pelo orifício do peito
A condição imposta pelo diabo foi que ele pegaria a alma da primeira criatura que entrasse lá depois da inauguração. Na inauguração, entretanto, fizeram entrar , em primeiro lugar, uma Loba. O diabo ficou enfurecido e quis agredir a todas as pessoas, que se trancaram no interior da Catedral. Ele tentou abrir com a mão, mas ele prendeu o polegar direito na maçaneta, e perdeu-o  ali. Esse polegar ainda está na maçaneta - enxerguei - o como um pino! Mais furioso ainda, o diabo chutou a porta com o pé direito : no lugar do chute,  porta tem uma rachadura.

Pedro conversando...
Lembrar de Aachen, faz-me lembrar, entre outras coisas,  dos Printen,  doces típicos da cidade, uma espécie de pão de mel com confeitos e recheios de frutas e sementes;  dos 50 mil  estudantes universitários vindos de todos os cantos do mundo; do Museu Internacional da Imprensa da cidade, que se vem transformando em um museu de mídias, com mais de 200.000 jornais de todo mundo; do convívio harmonioso do novo com o antigo. Como se isso não bastasse, Aachen é a cidade onde nasceu nosso querido Emanuel Arintzis, filho de Alex e Gisela.

Ronald e Pedro, retornando à Estação de Trens.

"Como o olhar, a razão
Deus me deu, para ver
Para além da visão - 
Olhar de conhecer."

Fernando Pessoa

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