terça-feira, outubro 22, 2013

Laguna, praia e história.

Laguna
Viajar é mover-se. Não importa  para onde. Há pessoas que sonham com viagens longas e não conhecem sua própria cidade ou as cidades próximas a ela. Como militante em favor de viagens, do alto dos meus 70 anos, arrisco um conselho: mova-se até o limite do possível, considerando tempo, dinheiro e disponibilidades. Force esse limite. Tente ir além dele. Mova-se. Encanta-me ver pessoas , de diferentes idades, abrirem mão de compras para poderem andarilhar. Encanta-me ver pessoas que aproveitam qualquer oportunidade para conhecerem  lugares e aprenderem mais sobre este mundão bonito.

Detalhe do centro histórico de Laguna

Moro atualmente em Torres, muito perto do rio Mampituba, que separa o Rio Grande do Sul de Santa Catarina. Gosto de levar minhas visitas a passear pelas redondezas. Estou próxima de Gramado, Canela, Itaimbezinho, São Francisco de Paula e tantas outras cidades gaúchas; estou próxima de Araranguá,  Morro dos Conventos, Criciúma, Tubarão, Laguna e tantas outras cidades catarinenses. Estou perto de Ermo,Turvo e Sombrio, um trio de pequenas cidades que só os nomes já constituem atração. Meu último bate-e-volta - com Ronald e Cléber, meu querido sobrinho, foi a Laguna, distante 166 km da minha casa. Belo passeio.

Praça Central e Igreja Matriz
Com praias lindas, boa infraestrutura hoteleira e uma história que remete a antigas povoações , através dos Sambaquis, Sítios Arqueológicos Milenares,  Laguna é cidade de muitas atrações, que atendem a diferentes interesses de turistas e viajantes. É um belo programa para família. Fundada em 1676 por Domingos de Brito Peixoto, já incluía, na sua memória histórica, o documento sobre o Tratado de Tordesilhas, celebrado entre Espanha e Portugal.


Monumento ao Tratado de Tordesilhas
Segundo o referido documento, firmado em 1494, deveriam pertencer à Espanha as terras e ilhas situadas ao norte de uma linha meridional imaginária, a 370 léguas a Oeste de Arquipélago de Cabo Verde; as terras fora dessa determinação pertenceriam a Portugal. Essa linha do meridiano passa em Belém do Pará, ao Norte, e  em Laguna, ao Sul. Para recordar esse tratado, Laguna construiu um monumento numa praça, próxima à Rodoviária. Há sempre turistas ali, com crianças fazendo foto e relembrando, certamente, tópicos do programa escolar.


Anita Garibaldi
Quando se menciona Laguna, pensa-se em Anita Garibaldi, não é mesmo? Embora a cidade tenha muito a oferecer, a lembrança da Heroína de Dois Mundos ( Brasil e Itália) costuma sobrepor-se às outras. Ana - ou Anita, como a chamava Garibaldi - nasceu em Laguna, em 30 de agosto de 1821, e morreu na Itália, em 04 de agosto. Tornou-se símbolo de mulher forte e de caráter independente. Sobre ela, Garibaldi falou: Era Anita a mãe de meus filhos, a companheira da minha vida nas boas e nas más horas, a mulher cuja coragem tantas vezes desejei fosse minha.

Centro histórico
Santa Catarina decidiu homenagear Anita Garibaldi com este belo monumento, tão forte e tão significativo nas características que dela ressalta. Um grupo de lagunenses batalhou, durante 14 anos, para conseguir que essa homenagem fosse concretizada . Sua inauguração foi em setembro de 1964 - 115 anos após sua morte. O escritor Ildefonso Juvenal disse: A não existência de vistoso monumento consagrado à memória de Anita é lacuna imperdoável. Foi construído e hoje é , certamente, o  lugar mais visitado e fotografado de Laguna.

Detalhe do prédio do Museu
O histórico prédio do Museu de Laguna está localizado na Praça República Juliana, perto do monumento para Anita Garibaldi. Foi construído em 1747 para ser cadeia pública , no térreo, e Câmara Legislativa Municipal, no piso superior. Nele, foi assinada e proclamada a República Juliana, em 1839, quando Santa Catarina separou-se do regime monárquico e, em Laguna, instalou-se a Capital dessa República. Bastante eclético, mas com muitas peças interessantes, o Museu tem boa recepção e acompanhamento para as visitas.

Detalhe do Centro Histórico
Nestes 337 anos de fundação, Laguna acumulou outros elementos valiosos para um roteiro histórico-cultural, tal como a arquitetura. Suas primeiras construções , como Vila, eram de pau-a-pique, cobertas com palha. Mais tarde, foi a vez do adobe, tijolo rústico, e da pedra. Houve, ao longo do tempo,  contribuições de portugueses, italianos e alemães. Hoje o Centro Histórico mostra cerca de 600 casarios e monumentos, tombados desde 1978 por decreto de lei da Prefeitura Municipal de Laguna. Esse mesmo tesouro foi tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em 1985. Bom para a cidade.Bom para os visitantes.

Renda de Bilro no Centro de Artesanato
Perto do Museu, pode-se visitar um pequeno e singelo Centro de Artesanato. Chamam a atenção dos visitantes as imagens e as pequenas peças em renda de bilro - arte popular, trazida pelas famílias açorianas que vieram, há três séculos, para a Ilha do Desterro, espalharam-se pelo  litoral e chegaram até Laguna.Transmitida de mãe para filha, é uma técnica que exige conhecimento, muita rapidez e habilidade.Agulhas não são usadas nessa confecção. Para o entrelaçamento dos fios, usa-se o bilro, uma espécie de pé de metal ou madeira onde a linha é presa. Quem vê o trabalho sendo feito, certamente o compra.

Centro de Artesanato de Laguna
O artesanato de barro é mais antigo em Laguna; o de vidro, mais recente. No barro , predominam as imagens de santo, especialmente São Francisco de Assis e Santo Antônio. Quando comprei apenas um São Francisco, lembrei-me de Fernando, meu sobrinho e afilhado que, com seis anos, durante uma viagem, pediu-me que lhe comprasse duas imagens de um santo. Indagado por que duas imagens, esclareceu-me : para que eles possam lutar um com o outro.

Fonte da Carioca
Eis um lugar onde se pode encontrar pessoas da localidade. Elas vêm buscar água na Fonte da Carioca que, asseguram-me, tem poder de cura, além de poderes afrodisíacos. Um menino me diz que devo beber três goles dessa água e , depois, jogar um pouco de água para trás de mim. Já encontrei essa mesma crença em muitos lugares e, em razão dela, já bebi muita água de três em três goles e joguei muita água para minhas costas. Construída por escravos, em 1863, a Carioca ainda fornece água potável para muita gente. Sua nascente é protegida e fiscalizada, e  filtros de areia completam o processo de depuração natural.

Igreja Matriz de Laguna
O bandeirante Domingos de Brito Peixoto, fundador de Laguna, em 1696, determinou a construção de uma capela de pau-a-pique, consagrada a Santo Antônio dos Anjos, de quem era devoto. A atual Igreja Matriz tem sua origem nessa capelinha. Em 1735, construiu-se, em estilo barroco, grande parte dessa Igreja, com quatro altares laterais folheados a ouro. O Santo Antônio, que está no altar principal, foi  entalhado em 1803. A Matriz abriga também uma tela de Nossa Senhora da Conceição, feita pelo pintor Victor Meirelles.É uma das bonitas igrejas do estado de Santa Catarina.

Casa de Anita
Fotogênica e interessante é  a Casa de Anita, muito próxima da Igreja Matriz. A construção de 1711 foi transformada em um pequeno museu, cujo acervo lembra essa heroína e sua época.Anita não nasceu nem viveu nessa casa. Conta-se , entretanto, que essa denominação advém do fato de ela ter - se vestido de noiva  neste lugar, quando da realização de seu primeiro casamento - antes de Garibaldi surgir em sua vida.

Nossa Senhora da Glória

Visitar o Morro da Glória, o ponto mais alto de Laguna, com 126 metros, usualmente é parte do programa dos visitantes. Há muito tempo - lembro bem - era possível , desde o alto desse morro, avistar todo o centro histórico, bairros, praias e lagoas. Hoje a  vegetação impede ou dificulta essa visão. Mesmo assim, é interessante chegar até o topo e ver a imagem de Nossa Senhora da Glória, com 14 metros de altura, que foi idealizada pelo padre Gregório Warmeling, e construída, em 1953, pelo casal alemão Alfredo Staege e Elisa Faccio Staege.O acesso é fácil, apesar da estradinha, com asfalto e lajota, estar um pouco danificada. Recomenda-se ir devagar. É interessante ler as placas de agradecimento por graças recebidas, fixadas aos pés da imagem.

Praias de Laguna
Além da parte histórica de Laguna, as praias constituem relevante atração, mesmo fora de temporada, quer pelo traçado, quer pela cor. Na Praia do Gi, pode-se ver a Pedra do Frade, um desses enigmas da natureza. A Praia do Mar Grosso parece ser a preferida dos visitantes. A Praia dos Molhes recebe muitos adeptos de surf e bodyboard e é , ainda, um dos lugares preferidos para pescarias. Itaperubá e Prainha do Farol ficam bem movimentadas na temporada de verão. Há bons restaurantes, bares e hotéis nas praias. De carro ou de ônibus, chega-se a Laguna pela BR 101. Bom lugar para visitar durante o ano todo.

Belas casas revestidas com azulejos

É interessante também, para todas as idades, percorrer Laguna, olhando-a atentamente e fazendo descobertas. É uma cidade média na região, que, durante o ano, tem pouco mais de 50 mil habitantes, mas que, no verão, pode chegar a 300 mil. Um passeio imperdível é o Farol de Santa Marta, o maior farol das Américas e um dos mais altos do mundo. Também o mercado público merece uma visita. Para quem curte carnaval, a cidade é endereço certo, com blocos de rua e festas animadíssimas. Se precisarem de guia, podem buscar informações na  Associação de Guias de Laguna, no telefone (48) 3644 - 2441.

Praia vista a partir da estradinha que leva ao Morro da Glória

"Bom vento do mar,bom vento
Que vens de cima do mar,
Vem dizer ao meu pensamento
Que o melhor é não pensar.

Se acreditar no que existe
Faz triste quem  o não é,
Mais vale ninguém ser triste
E não ter crenças nem fé.

Mas tu, bom vento que vens
De cima de ondas sem fim,
Nem fé nem descrenças tens
Tomara eu ser assim".


Fernando Pessoa

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