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Laguna |
Viajar é mover-se. Não importa para onde. Há pessoas que sonham com viagens longas e não conhecem sua própria cidade ou as cidades próximas a ela. Como militante em favor de viagens, do alto dos meus 70 anos, arrisco um conselho: mova-se até o limite do possível, considerando tempo, dinheiro e disponibilidades. Force esse limite. Tente ir além dele. Mova-se. Encanta-me ver pessoas , de diferentes idades, abrirem mão de compras para poderem andarilhar. Encanta-me ver pessoas que aproveitam qualquer oportunidade para conhecerem lugares e aprenderem mais sobre este mundão bonito.
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Detalhe do centro histórico de Laguna |
Moro atualmente em Torres, muito perto do rio Mampituba, que separa o Rio Grande do Sul de Santa Catarina. Gosto de levar minhas visitas a passear pelas redondezas. Estou próxima de Gramado, Canela, Itaimbezinho, São Francisco de Paula e tantas outras cidades gaúchas; estou próxima de Araranguá, Morro dos Conventos, Criciúma, Tubarão, Laguna e tantas outras cidades catarinenses. Estou perto de Ermo,Turvo e Sombrio, um trio de pequenas cidades que só os nomes já constituem atração. Meu último bate-e-volta - com Ronald e Cléber, meu querido sobrinho, foi a Laguna, distante 166 km da minha casa. Belo passeio.
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Praça Central e Igreja Matriz |
Com praias lindas, boa infraestrutura hoteleira e uma história que remete a antigas povoações , através dos Sambaquis, Sítios Arqueológicos Milenares, Laguna é cidade de muitas atrações, que atendem a diferentes interesses de turistas e viajantes. É um belo programa para família. Fundada em 1676 por Domingos de Brito Peixoto, já incluía, na sua memória histórica, o documento sobre o Tratado de Tordesilhas, celebrado entre Espanha e Portugal.
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Monumento ao Tratado de Tordesilhas |
Segundo o referido documento, firmado em 1494, deveriam pertencer à Espanha as terras e ilhas situadas ao norte de uma linha meridional imaginária, a 370 léguas a
Oeste de Arquipélago de Cabo Verde; as terras fora dessa determinação
pertenceriam a Portugal. Essa linha do meridiano passa em Belém do Pará, ao
Norte, e em Laguna, ao Sul. Para recordar esse tratado, Laguna construiu um monumento numa praça, próxima à Rodoviária. Há sempre turistas ali, com crianças fazendo foto e relembrando, certamente, tópicos do programa escolar.
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Anita Garibaldi |
Quando se menciona Laguna, pensa-se em Anita Garibaldi, não é mesmo? Embora a cidade tenha muito a oferecer, a lembrança da Heroína de Dois Mundos ( Brasil e Itália) costuma sobrepor-se às outras. Ana - ou Anita, como a chamava Garibaldi - nasceu em Laguna, em 30 de agosto de 1821, e morreu na Itália, em 04 de agosto. Tornou-se símbolo de mulher forte e de caráter independente. Sobre ela, Garibaldi falou: Era Anita a mãe de meus filhos, a companheira da minha vida nas boas e nas más horas, a mulher cuja coragem tantas vezes desejei fosse minha.
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Centro histórico |
Santa Catarina decidiu homenagear
Anita Garibaldi com este belo monumento, tão forte e tão significativo nas características que dela ressalta. Um grupo de lagunenses batalhou, durante 14 anos, para conseguir que essa homenagem fosse concretizada . Sua inauguração foi em setembro de 1964 - 115 anos após sua morte. O escritor Ildefonso Juvenal disse:
A não existência de vistoso monumento consagrado à memória de Anita é lacuna imperdoável. Foi construído e hoje é , certamente, o lugar mais visitado e fotografado de Laguna.
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Detalhe do prédio do Museu |
O histórico prédio do
Museu de Laguna está localizado na Praça República Juliana, perto do monumento para Anita Garibaldi. Foi construído em 1747 para ser cadeia pública , no térreo, e Câmara Legislativa Municipal, no piso superior. Nele, foi assinada e proclamada a
República Juliana, em 1839, quando Santa
Catarina separou-se do regime monárquico e, em Laguna, instalou-se a
Capital dessa República. Bastante eclético, mas com muitas peças interessantes, o Museu tem boa recepção e acompanhamento para as visitas.
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Detalhe do Centro Histórico |
Nestes 337 anos de fundação, Laguna acumulou outros elementos valiosos para um roteiro histórico-cultural, tal como a arquitetura. Suas primeiras construções , como
Vila, eram de pau-a-pique, cobertas com palha. Mais tarde, foi a vez do
adobe, tijolo rústico, e da pedra. Houve, ao longo do tempo, contribuições de portugueses, italianos e alemães. Hoje o
Centro Histórico mostra cerca de 600 casarios e monumentos, tombados desde 1978 por decreto de lei da Prefeitura Municipal de Laguna. Esse mesmo
tesouro foi tombados pelo
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em 1985. Bom para a cidade.Bom para os visitantes.
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Renda de Bilro no Centro de Artesanato |
Perto do Museu, pode-se visitar um pequeno e singelo Centro de Artesanato. Chamam a atenção dos visitantes as imagens e as pequenas peças em renda de bilro - arte popular, trazida pelas famílias açorianas que vieram, há três séculos, para a Ilha do Desterro, espalharam-se pelo litoral e chegaram até Laguna.Transmitida de mãe para filha, é uma técnica que exige conhecimento, muita rapidez e habilidade.Agulhas não são usadas nessa confecção. Para o entrelaçamento dos fios, usa-se o bilro, uma espécie de pé de metal ou madeira onde a linha é presa. Quem vê o trabalho sendo feito, certamente o compra.
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Centro de Artesanato de Laguna |
O artesanato de barro é mais antigo em Laguna; o de vidro, mais recente. No barro , predominam as imagens de santo, especialmente São Francisco de Assis e Santo Antônio. Quando comprei apenas um São Francisco, lembrei-me de Fernando, meu sobrinho e afilhado que, com seis anos, durante uma viagem, pediu-me que lhe comprasse duas imagens de um santo. Indagado por que duas imagens, esclareceu-me : para que eles possam lutar um com o outro.
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Fonte da Carioca |
Eis um lugar onde se pode encontrar pessoas da localidade. Elas vêm buscar água na Fonte da Carioca que, asseguram-me, tem poder de cura, além de poderes afrodisíacos. Um menino me diz que devo beber três goles dessa água e , depois, jogar um pouco de água para trás de mim. Já encontrei essa mesma crença em muitos lugares e, em razão dela, já bebi muita água de três em três goles e joguei muita água para minhas costas. Construída por escravos, em 1863, a Carioca ainda fornece água potável para muita gente. Sua nascente é protegida e fiscalizada, e filtros de areia completam o processo de depuração natural.
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Igreja Matriz de Laguna |
O bandeirante Domingos de Brito Peixoto, fundador de Laguna, em 1696, determinou a construção de uma capela de pau-a-pique, consagrada a Santo Antônio dos Anjos, de quem era devoto. A atual Igreja Matriz tem sua origem nessa capelinha. Em 1735, construiu-se, em estilo barroco, grande parte dessa Igreja, com quatro altares laterais folheados a ouro. O Santo Antônio, que está no altar principal, foi entalhado em 1803. A Matriz abriga também uma tela de Nossa Senhora da Conceição, feita pelo pintor Victor Meirelles.É uma das bonitas igrejas do estado de Santa Catarina.
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Casa de Anita |
Fotogênica e interessante é a Casa de Anita, muito próxima da Igreja Matriz. A
construção de 1711 foi transformada em um pequeno museu, cujo acervo
lembra essa heroína e sua época.Anita não nasceu nem viveu nessa casa. Conta-se , entretanto, que essa denominação advém do fato de ela ter - se vestido de noiva neste lugar, quando da realização de seu primeiro casamento - antes de Garibaldi surgir em sua vida.
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Nossa Senhora da Glória |
Visitar o Morro da Glória, o ponto mais alto de Laguna, com 126 metros, usualmente é parte do programa dos visitantes. Há muito tempo - lembro bem - era possível , desde o alto desse morro, avistar todo o centro histórico, bairros, praias e
lagoas. Hoje a vegetação impede ou dificulta essa visão. Mesmo assim, é interessante chegar até o topo e ver a imagem de Nossa Senhora da Glória, com 14 metros de altura, que foi idealizada
pelo padre Gregório Warmeling, e construída, em 1953, pelo casal
alemão Alfredo Staege e Elisa Faccio Staege.O acesso é fácil, apesar da estradinha, com asfalto e lajota, estar um pouco danificada. Recomenda-se ir devagar. É interessante ler as placas de agradecimento por graças recebidas, fixadas aos pés da imagem.
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Praias de Laguna |
Além da parte histórica de Laguna, as praias constituem relevante atração, mesmo fora de temporada, quer pelo traçado, quer pela cor. Na Praia do Gi, pode-se ver a Pedra do Frade, um desses enigmas da natureza. A Praia do Mar Grosso parece ser a preferida dos visitantes. A Praia dos Molhes recebe muitos adeptos de surf e bodyboard e é , ainda, um dos lugares preferidos para pescarias. Itaperubá e Prainha do Farol ficam bem movimentadas na temporada de verão. Há bons restaurantes, bares e hotéis nas praias. De carro ou de ônibus, chega-se a Laguna pela BR 101. Bom lugar para visitar durante o ano todo.
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Belas casas revestidas com azulejos |
É interessante também,
para todas as idades, percorrer Laguna, olhando-a atentamente e fazendo descobertas. É uma cidade média na região, que, durante o ano, tem pouco mais de 50 mil habitantes, mas que, no verão, pode chegar a 300 mil. Um passeio imperdível é o
Farol de Santa Marta, o maior farol das Américas e um dos mais altos do mundo. Também o mercado público merece uma visita. Para quem curte carnaval, a cidade é endereço certo, com blocos de rua e festas animadíssimas. Se precisarem de guia, podem buscar informações na
Associação de Guias de Laguna, no telefone (48) 3644 - 2441.
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Praia vista a partir da estradinha que leva ao Morro da Glória |
"Bom vento do mar,bom vento
Que vens de cima do mar,
Vem dizer ao meu pensamento
Que o melhor é não pensar.
Se acreditar no que existe
Faz triste quem o não é,
Mais vale ninguém ser triste
E não ter crenças nem fé.
Mas tu, bom vento que vens
De cima de ondas sem fim,
Nem fé nem descrenças tens
Tomara eu ser assim".
Fernando Pessoa