Vó Balbina que morreu há 50 , com seus 102 anos, contava que a figueira já estava ali quando ela "se deu por gente"... Sempre escutei essa história na família. Sempre a considerei uma árvore sagrada - árvore da sabedoria, árvore mencionada em textos bíblicos e, acima de tudo, para nós, árvore de nossos antepassados e de nossa infância.
Também escutei histórias de fantasmas, sentados à sua sombra - ou almas tranqüilas a mirar seus galhos - e histórias de tesouros enterrados junto a ela. Essas lendas povoaram meu universo infantil.
Nossa Figueira foi sempre muito fotografada , pois , junto a ela, compondo um conjunto e um cenário, com solidez e beleza, estava a "mesa de pedra ", grande, antiga e imponente também. Temos inclusive uma tela, aqui na Bela União, que retrata as duas.
A velha figueira , que devia se chamar Fenix , renasceu grandiosa e produtiva muitas vezes. Somente eu retirei dela mais de 20 outras figueiras , que já estão produzindo frutos. Agora, ela estava com bem mais de um metro de diâmetro e parcialmente oca - mas com muitas folhas muito verdes e muitos figos de tamanhos diversos.
Veio uma tormenta faz 3 dias. Ventos fortes e granizo. Arrancou uvas, pêssegos, ameixas, peras, laranjas... Quebrou árvores. Danificou hortas e jardins. Pior, arrancou a figueira.
( Confesso que algumas vezes pensei em usar o "espaço"da figueira para construir uma Biblioteca, mas não teria nunca coragem para "detoná-la". Ainda bem que tenho álibi : eu estava em Alegrete quando ela foi derrubada pela tormenta!)
Mas, quando a vi no chão,chorei. E meu primeiro pensamento foi para Massimo e Pedro: eles não conheceriam a velha figueira.
Súbito presencio uma cena surpreendente e triste: um beija-flor voa todo o tempo ao redor da árvore caída. Depois pousa em um galhos e fica quietinho, parado. A cena era tocante e impressionante. Imaginei que ele tivesse ninho ali. Busquei a câmera. Fiz fotos. E ele ali. O beija-flor voou quando eu já estava imaginando que era um pássaro machucado que nao se podia mover.Mandei examinar galho por galho da árvore à procura de seu ninho. Não havia nada de ninhos. Até quatro horas depois, quando a Figueira foi arrastada para longe, o beija flor esteve por perto. Creio que lhe prestava uma última homenagem.
Aldema, os ciclos vitais se fecham das formas mais inesperadas.
ResponderExcluirPeninha...só agora fui entender de qual figueira falávas. Imaginava que fosse a outra, a frondosa figueira do mato. bj