segunda-feira, maio 18, 2020

O que faço sem viajar neste 2020/1 ?

Meus tricôs!

Ainda em fevereiro, quando percebi  que seria impossível  fazer a  viagem já roteirizada para  2020/1, pensei, com certa tristeza:  e  agora, que farei? Eu não percebia, naquele momento, que me   rondava uma tristeza muito mais triste e uma dor   bem maior do que o simples cancelamento de uma viagem. 
Comecei logo,logo, a sentir medo por fazer parte do grupo de risco: além da idade e da asma, há menos de dois anos, uma cirurgia retirara metade de meu pulmão esquerdo, e a totalidade de um câncer genético que ali se alojara ( esclareço que nunca fui fumante!) 
Meu medo foi, gradativamente, crescendo e ampliando o espaço geográfico brasileiro, onde vivo, e passou a incluir os Estados Unidos, onde vive Patati, meu filho; a China, onde vive Jim, meu enteado; o Uruguai, o Canadá,  a Espanha, a Itália, a Grécia, a Alemanha, a Índia e outros espaços em que  vivem tantos amigos e parentes. Logo, veio a inclusão de todas as pessoas - gente como a gente que fazem a dor e a alegria de cada lugar ser o que é.
O medo foi cedendo lugar à tristeza - tristeza continuamente intensificada nesses dois meses de isolamento social, quer  pelas notícias, quer pelo rumo dos acontecimentos. A inveja, um dos pecados capitais de que eu me julgava distante, apareceu agora na Pandemia. Invejo profundamente os países que são governados por pessoa séria, competente, sensível, democrática e - se não for pedir demais - sem fanatismo religioso e com linguagem adequada ao momento. 
Estou na casa e na companhia de Maria do Horto e Potiguara Brites - amigos/irmãos  há  mais de 50 anos. Estaria bem se não fosse a saudade de muitas pessoas, e a dor que se espalha pelo mundo. A constante imagem de crianças assustadas, de olhares suplicantes, de pessoas que choram, vêem seus mortos em caixões fechados e os enterram em covas rasas, mais do que sensibilizam, machucam,  agridem, revoltam. Para algumas pessoas, entretanto, essas que enxergam o outro unicamente no limite de próprio umbigo, os números da estatística de mortes só farão sentido quando tiverem a cara de um familiar ou amigo. 
Mas o que faço eu sem viajar neste 2020/1 ?  Espero pela vacina - obrigada, Claudio Zoppi, pela boa notícia - acompanho declarações de governantes e faço tricô. Acolho as tristezas deste momento que será estudado por gerações futuras. Busco sobreviver - afinal ainda não fui a Teruel.


8 comentários:

  1. Texto coerente professora!
    Cada um de nós sente-se diferente, e até impertinente neste momento tão único e inusitado.
    Fique bem!

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    1. Havia um problema com os comentários postados no Correndomundo. Não os encontrava. Precisei deste tempo de isolamento para encontrá-los. Agradeço muito, Denise Pimenta.

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  2. E tece lindamente, tal qual o teu olhar pela belezas do mundo! Arriba! Passaremos!

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    1. Havia um problema com os comentários postados no Correndomundo. Não os encontrava. Precisei deste tempo de isolamento para encontrá-los. Agradeço muito, Dorotéia. Mil desculpas por não havê-los respondido.

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  3. Edilma1:49 PM

    Aldema querida realmente estamos vivendo tempos tristes,tua inveja é a de muitos,penso que neste momento precisamos manter-nos com nossa mente o mais sadia possível, as artes manuais nos dão um pouco mais de calma, tenho feito muito crochê, quisera eu fazer trico como os teus,bjos,

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    1. Edilma, havia um problema com os comentários postados no Correndomundo. Não os encontrava. Precisei deste tempo de isolamento para encontrá-los. Agradeço-os muito.Bjs

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  4. da incisividade provocativa da pulsante juventude, nas aulas do ensino médio, a este texto feito colo de avó - como somos ambas !!! - cheio de carinho, afeto, doçura, e esta aceitação resiliente que o tempo traz. amei, claro. e também deveras os tricôs

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    1. Querida Gicela, minha bonita aluninha!
      Havia um problema com os comentários postados no Correndomundo. Não os encontrava. Precisei deste tempo de isolamento para encontrá-los. Agradeço muito. Bjs

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