quarta-feira, abril 12, 2017

Alegrete e o "Negrinho do Pastoreio"de Vasco Prado


Foto by Vinicius Marcanth

Negrinho do Pastoreio, a lenda mais conhecida no Rio Grande do Sul, tanto rural quanto urbano, foi muito contada e comentada pelos brasileiros que defendiam o fim da escravidão. Meio cristã, meio africana, surgiu e ganhou espaço no século XIX - e nunca mais foi esquecida. Está presente, principalmente, em músicas, esculturas e rezas e promessas quando se procura algo perdido.


Foto by Vinicius Marcanth

É comum no Rio Grande do Sul , principalmente em área rural, pessoas recorrerem ao Negrinho do Pastoreio para encontrar objetos perdidos. Deve - se, para tanto,   acender uma vela, próxima ao moirão de uma cerca ou deixar ali algumas flores para o Negrinho,  acompanhando esse ato com as eguintes palavras: Foi por aí que eu perdi... Foi por aí que eu perdi... Foi por aí que eu perdi... Afirma-se que, se ele não achar, ninguém mais encontrará o que doi perdido.


Foto by Vinicius  Marcanth


 " Conta a lenda que nos tempos da escravidão, havia um estancieiro malvado com negros e peões. Em um dia de inverno, fazia muito frio e o fazendeiro mandou que um menino negro de quatorze anos fosse pastorear cavalos e potros que acabara de comprar. No final do tarde, quando o menino voltou, o estancieiro disse que faltava um cavalo baio. Pegou o chicote e deu uma surra tão grande no menino que ele ficou sangrando. Disse o estancieiro: "Você vai me dar conta do baio, ou verá o que acontece". Aflito, o menino foi à procura do animal. Em pouco tempo, achou o cavalo pastando. Laçou-o, mas a corda se partiu e o cavalo fugiu de novo. De volta à estância, o estancieiro, ainda mais irritado, bateu novamente no menino e o amarrou nu, sobre um formigueiro. No dia seguinte, quando ele foi ver o estado de sua vítima, tomou um susto. O menino estava lá, mas de pé, com a pele lisa, sem nenhuma marca das chicotadas. Ao lado dele, a Virgem Nossa Senhora, e mais adiante o baio e os outros cavalos. O estancieiro se jogou no chão pedindo perdão, mas o negrinho nada respondeu. Apenas beijou a mão da Santa, montou no baio e partiu conduzindo a tropilha. A partir disso, entre os andarilhos, tropeiros, mascates e carreteiros da região, todos davam a notícia, de ter visto passar, como levada em pastoreio, uma tropilha de tordilhos, tocada por um Negrinho, montado em um cavalo baio..." http://www.sohistoria.com.br/lendasemitos/negrinho/


Foto by Vinicius Marcanth
Em 1968, para a cidade de Alegrete, no Rio Grande do Sul, o famoso Vasco Prado esculpiu em bronze o Negrinho do Pastoreio - que Vinicius Marcanth fotografou ( obrigada, Vinicius!). Ao ser colocada no Parque Rui Ramos, despertou a ira de muitos gaúchos, que até cogitaram de laçar a escultura e jogá-la no rio Ibirapuitã. Nesse período, eu morava em Alegrete e já me interessava por arte. Guardei a expressão muitas vezes ouvida com tristeza: " não entendo de arte, mas aquele cavalo parece um porco ( gordo ), e o Negrinho é magro demais, tem a cabeça pequena e vai com os braços levantados - isso não é jeito de montar a cavalo". O tempo, entretanto ,  passou. Novos sentidos foram sendo gerados. Hoje, é um símbolo e uma atração turística da cidade - com razão! 

Foto by Vinicius Marcanth

À esquerda da escultura, uma homenagem a Rui Ramos, famoso político alegretense, onde se lê: "A Rui Ramos, humanista preocupado com a terra e com o homem, a homenagem do povo que luta por um Negrinho do Pastoreio triunfante, sem os grilhões de uma economia atrasada e com a esperança de um mundo livre e sem medo, tal como ele o desejou (20-09-1968)".


Parque Rui Ramos by Vinicius Marcanth

Retornei de Alegrete há três dias. É minha cidade preferida no Rio Grande do Sul. Se você não a conhece,..visite-a  e, se  possível, faça isso na Semana do Gaúcho, em setembro. Assistirá a uma das maiores e mais bonitas  festas tradicionalistas do Sul do Brasil. Se não for em setembro, em qualquer outro mês a cidade estará linda - e a escultura de Vasco Prado poderá  ser admirada.

Autor: Eroni Alves 

Negrinho do Pastoreio
Barbosa Lessa

Negrinho do Pastoreio
Acendo esta vela pra ti
E peço que me devolvas
A querência que eu perdi
Negrinho do pastoreio
Traze a mim o meu rincão
Eu te acendo esta velinha
Nela está meu coração.

Quero ver meu lindo pago
Coloreado de pitanga
Quero ver a gaúchinha
A brincar n'água da sanga

Quero trotear pelas coxilhas
Respirando a liberdade
Que eu perdi naquele dia
Que me embretei na cidade

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https://www.letras.mus.br/barbosa-lessa/212848/


Com meus agradecimentos a Vinicius Marcanth

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