sexta-feira, março 04, 2016

Planejamento - em continuidade...


Todas as fotos deste post,   eu as fiz na China 

Tive ótimas pessoas como companheiras de viagem - especialmente Ronald durante quase cinco anos. A maioria das minhas viagens, entretanto, eu as fiz sozinha. Em razão disso, construí algumas estratégias tranqüilizadoras tanto para mim quanto para minha família. Algumas delas relatarei aqui.




Reafirmo, entretanto, que eu sinto prazer em viajar na companhia de mim mesma. Sou bem minha amiga e tenho belas recordações para evocar. Além disso, viajar sozinha torna-nos mais livres para fazer escolhas, tomar decisões e aproveitar bem o tempo. Sim! Muitas vezes gostaria de ter alguém para comentar, por exemplo, um acontecimento inesperado, comovente ou divertido. Nessas horas, costumo escrever.





Se o planejamento de uma viagem é importante, para quem viaja sozinha, então, torna-se imprescindível. Costumo deixar com minha família e alguns amigos o itinerário que pretendo
fazer. Se o altero, aviso a todos. Se tenho amigo(s) no país em que estou visitando, informo-o(s) por onde ando e quanto tempo pretendo permanecer ali - se bem que hoje, com tantos recursos tecnológicos, tudo nos foi facilitado.




Deixo também cópias do passaporte e dos seguros de viagem. Sempre viajo com reservas de hotel - faço isso desde que tive de dormir numa estação de trem, em plena temporada de ópera, em Verona. Já perdi ou cancelei reservas por mudar roteiro, mas isso foi uma escolha deliberada.





A seleção dos hotéis eu as faço recorrendo a endereços já conhecidos ou a cadeias bem conceituadas - depois de analisar detidamente, no mapa, a localização do hotel. Reservo - os por internet e quase não tive problemas com isso. Somente uma vez debitaram algumas diárias de um desconhecido hotel no meu cartão. Após alguns e-mails e telefonemas para a operadora, o indevido total me foi estornado no mês seguinte. Já faz alguns anos que uso o booking.com para hospedagem. Para tudo o mais, sou fiel cliente da Ktour , em Santa Maria - agência impecável.






Uso mala, devidamente etiquetada, que eu possa carregar sem depender de ajuda. Uma vez pedi a um senhor que me ajudasse a descer uma mala de um trem, e ele me respondeu que não e ainda acrescentou: nunca leve o que você não pode carregar sozinha! Reconheci a razão dele e fiquei com vergonha de ter feito o pedido. Atualmente, já no aeroporto, fotografo minha bagagem - em caso de perda, agiliza as informações.





Já perdi malas muitas vezes. Nem me preocupo quando isso acontece. Faço os registros na companhia aérea e vou para o hotel sem stress.  Sempre as recebi de volta. Aprendi, apenas, a carregar algumas roupas, medicamentos e objetos a que dou muita importância, na mesma mochila em que levo o notebook.



Procuro chegar com antecipação em aeroportos e estações de trem. Não perco de vista, nem por instantes, a minha bagagem. Mesmo assim, uma vez esqueci a mala, na frente do aeroporto, em Israel, em plena guerra, fazendo pessoas e policiais correrem alarmados à procura do dono da mala e dos especialistas em bombas. Um vexame!  Acabei tendo que preencher muitos formulários e responder a uma entrevista, que teria passado sem ela.





Neuroticamente, já dormi com a bolsa embaixo do travesseiro e já construí uma armadilha de
cadeiras e mesas encostadas na porta. Atualmente, não mais me estresso, mas continuo cuidadosa:   meu medo maior é  a perda do passaporte. Para tanto, costumo dizer que não se deve dar chance ao azar.





Apesar desses cuidados todos, já enfrentei alguns problemas. Uma vez, ao sair do hotel para o aeroporto de Delhi, pedi que ao recepcionista que chamasse um táxi, desse meu roteiro, acertasse o preço e, ainda dei-lhe o dinheiro para pagar a corrida – o que foi feito na minha presença. Quando passávamos por um lugar mais deserto, o motorista parou o táxi e me disse que, se eu não desse a ele mais dinheiro, ele me deixaria ali mesmo. Mandou que abrisse minha bolsa e mostrasse o quanto tinha de dinheiro havia dentro dela.....






.......Eu tinha apenas rúpias suficientes para um café no aeroporto – o equivalente a cinco dólares. Entreguei o dinheiro todo, incluindo moedas. Talvez porque eu estivesse muito tranqüila, ele acreditou que meu dinheiro era só aquele. Felizmente salvei alguns euros que tinha numa subdivisão da bolsa. O taxista deu a partida e deixou-me no aeroporto. Quando me vi fora do táxi e de posse da minha mala, pensei em avisar a polícia. Desisti. Eu havia vivido, durante meses, muito bem e viajado por muitos lugares lindos da Índia. Não queria outro mau momento, logo na minha saída. Já me bastava o cretino do motorista!




Os mapas das cidades, que normalmente estudo antes da viagem, eu os olho e analiso novamente ainda no hotel - nada de "dar bandeira" olhando-os na rua e  demonstrando que o lugar me é desconhecido. Evito ficar pedindo informações o tempo todo. Basta também usar o GPS...






Quando quero alguma foto minha, costumo pedir a outro turista que a faça – gosto de pedir para japoneses que são, em geral, muito gentis e conhecedores de câmeras. Não chego a ser tão desconfiada quanto quatro senhoras brasileiras, a quem me ofereci, em Insbruck, para fotografá-las juntas, e elas não só fugiram de mim como saíram gritando: pensa que somos idiotas, sabemos que vocês roubam máquinas fotográficas assim!!! Fiquei mais assustada do que elas! Depois ri muito, rememorando a cena.





Antes de partir, faço uma cuidadosa, mas pequena, aquisição de medicamentos para gripe, alergia e problemas estomacais - resultantes, em geral, de mudanças bruscas na alimentação. Compro, ainda, antibiótico, que as farmácias não vendem sem receita, aqui ou em muitos outros países. A partir dos meus setenta anos, passei a fazer uma consulta antes de partir, ainda que seja só para ouvir o médico dizer que estou ótima. Fico mais tranqüila!




Viajo com tênis, sapatos ou sandálias, todos usados e bem testados. Em geral, abandono sapatos e roupas - também muito usadas - pelo caminho. Assim fazendo, posso carregar algumas comprinhas, embora eu tenha aprendido a comprar muito pouco.




Com câmera, livro, telefone,Ipod e notebook, estou equipadíssima para muitos meses. Atualmente é muito fácil viajar com serenidade. Sabe-se notícias de casa o tempo todo. O retorno já não é cheio de surpresas: as fotografias postadas já contaram quase tudo. Parte do encanto do retorno foi anulado pelo uso constante da internet. 




Considero que ler muito sobre os países a serem visitados, antes e durante a viagem, continua sendo garantia de aproveitamento e tranquilidade - seja viajando sozinha ou acompanhada. Foi ótimo ter lido bastante sobre a Índia e sobre a China, países que considero complexos para o entendimento dos ocidentais. Li, com muito cuidado, a Bíblia, antes de viajar para Egito, Israel e Palestina. Os lugares
visitados adquirem outra dimensão quando se tem um conhecimento prévio. 




É fundamental, ainda, em qualquer viagem, ter o olho limpo, para poder enxergar cada cidade como única. Não compará-la com nenhuma outra. As comparações limitam o olhar.  Ensinei aos meus filhos que o mundo é redondo, bonito e fácil de andar. Estar atento, sim! Ter medo, não. Ou se tiver medo, administrá-lo.




“O meu olhar é nítido como um girassol.

Tenho o costume de andar pelas estradas

Olhando para a direita e para a esquerda,

E de, vez em quando olhando para trás..




E o que vejo a cada momento

É aquilo que nunca antes eu tinha visto,

E eu sei dar por isso muito bem...




Sei ter o pasmo essencial

Que tem uma criança se, ao nascer,

Reparasse que nascera deveras...

Sinto-me nascido a cada momento

Para a eterna novidade do Mundo.”

Fernando Pessoa



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