quarta-feira, outubro 01, 2014

Santiago de Compostela - vale mesmo sem o Caminho...


Centro Histórico de Santiago de Compostela
Aqui mesmo, no Correndomundo, escrevi sobre lugares religiosos que, ao longo de muito anos,  eu havia visitado, procurando, assim,  garantir , com rezas e presença, um lugarzinho no céu - já que meus méritos na terra são bastante modestos.

Peregrinos do mundo todo...
Foram muitas e diversificadas  minhas visitas : de templos indus a terreiros de  candomblé. Tracei seguramente mais de uma centena de  sítios sagrados. Sentia, entretanto, falta de mais alguns, entre eles, Santiago de Compostela, uma das maiores cidades peregrinas, que recebe cerca de quatro milhões de visitantes por ano.

Parte da Igreja em reforma
Declarada Patrimônio da Humanidade, em 1985, pela UNESCO, é a capital política e administrativa da Comunidade Autônoma da Galícia. Impressiona pela arquitetura, pela arte, pela atmosfera que mescla a constante movimentação de peregrinos, turistas,  visitantes, executivos e estudantes universitários.

Detalhes do altar da Catedral
Com mais de cinco séculos de história, a Universidade de Santiago de Compostela abriga cerca de trinta e cinco mil estudantes. Estivemos, Cleber, meu sobrinho e eu, quatro dias em Compostela,  dedicados basicamente ao Centro Histórico, onde se concentram os principais monumentos da cidade... e fantásticas cafeterias.

Centro Histórico
Além da parte estrutural e funcional da cidade, pode-se estar horas e horas a observar os diferentes tipos humanos que transitam pelas ruas - sempre com muita gente em constante movimento. Os peregrinos são facilmente identificados pelos cajados, pelas mochilas e , talvez , pelas expressões de paz e serenidade. São adolescentes, jovens, adultos e muitos, mas muitos mesmo, velhos - em idade e quantidade. Vamos no próximo ano?

Detalhe do Centro Histórico hoje
Procurei saber sobre as origens da cidade. Tudo remete ao achado do sepulcro do Apóstolo Santiago em 813. Um eremita - Paio - teria vislumbrado  estranhas luzes , em forma de estrelas, sobre o monte Livredón - Campus Stelae ( Campo de Estrelas ) de onde provém o nome Compostela.

Centro Histórico

O fenômeno foi levado ao conhecimento do Bispo, que foi ao lugar indicado pelo eremita, acompanhado de pessoas de sua confiança. Chegando lá, descobriram um monumento funerário com três corpos. Na cabeça de um deles , estava a identificação de Santiago. Os outros dois seriam seus discípulos Teodoro e Atanasio.

Missa dos peregrinos

Há muitos detalhes que explicam ou tentam explicar como os cadáveres chegaram até o lugar onde hoje se ergue a cidade. Lenda ou não, o relato atraiu, já no século IX, os primeiros peregrinos. Encontram-se, ainda, em diferentes textos, anotações sobre disputas de poder, envolvendo igreja e reinados, na configuração econômica trazida pela fama do local. Até aí, nada de novo...

Detalhe da Catedral
Ao admirar-se a Catedral, seguramente uma das maiores obras barrocas da Espanha, é impossível não relembrar  os grandes mestres de obra e arquitetos, que, vindos de diferentes localidades, ali trabalharam durante longo tempo. Foram eles que, mais além da construção da Catedral, deram identidade à Compostela, tornando-a um harmônico conjunto barroco, mundialmente reconhecido.
Padre Fonseca II, consolidador da Universidade.
O surgimento da Universidade , no século XVI,  impulsionou muitíssimo o crescimento e a consolidação de Compostela como cidade intelectual. Seu mentor principal foi o Pe.Fonseca II , um homem considerado extremamente sábio, mecenas de numerosos artistas e sábios daquele momento. Considerado o homem do Renascimento, frequentava os grandes círculos de intelectuais da época.

Um dos prédios da Universidade
A língua galega, nome oficial no Reino da Espanha, na União Europeia e na UNESCO, é o idioma natural da Comunidade Autônoma da Galícia. O idioma alego me encanta. Parece-me, real e familiarmente, ouvir e falar um português antigo. Acredito que em pouco tempo, poderia escrevê-lo também.
Um dos verdes parques de Santiago de Compostela
Do ponto de vista da literatura, minha grande descoberta foi Rosalia de Castro de Murguia, figura proeminente nas letras, no século XIX. Publicou Cantares Gallegos, um livro de poesia que li durante uma noite toda. Bem interessante. Selecionei partes de dois poemas de Rosali, que transcrevo a seguir.
Esculturas do parque acima
"Aló nas tardes serenas,
Alo nas tardes caladas,
Fanse mais duras as penas,
Que nas brandas alboradas.

Aló nas tardes sombrisas
Aló nas tardes escuras,
Fanse mais cortas as risas
Mais negras as desventuras."


Igreja de São Francisco
Do poema de Rosalia Non che digo nada...Pero vaya , transcrevo a primeira estrofe, sugerindo a leitura do poema todo.
"Pasam n' aquesta vida,
Cousiñas tan estrañas,
Tan raros feitos vense
Neste mundo de trampas
Tantos  mlagros vellos
Tan novas insinanzas
E tan reboltos allos
Com nome d' ensaladas,
Que non che digo nada...
Pero vaya!"
Um dos prédios da Universidade

Saio de Compostela pensando em retornar. Sinto ainda o sabor e a textura da Torta de Santiago - uma delícia. Escuto a sonoridade das vozes de tantos idiomas, e a alegria dos peregrinos chegando de manhã cedo. Penso nas pessoas para quem gostaria de comprar as joias que vi, principalmente umas com design de inspiração celta. Penso, mais ainda, nas pessoas que eu gostaria de ver passeando nas ruas tão particulares de Santiago de Compostela. Please! Decidam-se e venham.


Agradeço por tudo o que vi nesta cidade.  Agradeço ao Cleber, meu sobrinho, que me acompanhou. E agradeço muito às pessoas que me ajudaram a reunir força e energia para continuar a viajar ...e a viver. 

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