domingo, abril 30, 2017

Os chineses são supersticiosos?





















A mim, os chineses pareceram muito supersticioso.Escutei muitas narrativas sobre as superstições na China. Imaginem que os andares 4, 14 e 24 de muitos prédios não existem, porque o ideograma do 4, embora diferente do ideograma de morte, tem a pronúncia parecida com essa palavra que tanto os assusta. Celulares terminados em 4 ou com muitos 4 são bem mais baratos, e muito utilizados por estrangeiros. Muitos hotéis não têm apartamentos no quarto andar - usam esse espaço para depósito ou atividades administrativas. 





                                                                                 














Já o número 8 tem o ideograma que lembra o da prosperidade. Pagam uma fortuna para que o carro ou a casa tenham um 8 na sua numeração. Não foi ao acaso que os Jogos Olímpicos de Pequim começaram no dia 8 de agosto de 2008, às 8:08 da noite.





















Se você estiver numa mesa com chineses, jamais deixe os palitinhos fincados no arroz, pois isso representa morte e seria como desejar a morte do anfitrião ou de pessoas ali presentes. Os palitinhos devem ficar na lateral do prato.






















Tradicionalmente, acreditam nos maus espíritos, que podem entrar nas casas e causar muitos males ou desavenças. Para que isso não aconteça, tomam-se várias providências. Os maus espíritos são muito feios - e não sabem dessa sua feiúra. Assim, colocando-se espelhos na porta da casa, eles se olham, assustam-se e vão embora. Também os maus espíritos caminham arrastando os pés - sem levantá - los portanto. Em razão disso, na busca de proteção, as casas antigas todas têm um portal alto. Eles tropeçam ali e voltam sem entrar na casa.























Os grandes leões, que são vistos nas entradas dos palácios, têm um objetivo preciso: assustar os maus espíritos e impedir que entrem nas áreas dos palácios. Se a gente pensar bem, vai lembrar desses leões em muitas casas , mesmo fora da China.Nos telhados de casas e palácios, observam-se animais enfileirados colocados ali para cuidado e proteção dos prédios e dos moradores consequentemente. A figura do dragão traz boa sorte - ele pode ser visto em casas, embarcações, jardins, muros, amuletos.






















Há, ainda, superstições associadas a cores , gestos e palavras. Fácil de imaginar que um país tão antigo, quando a ciência não explicara ainda os fenômenos da natureza, criasse explicações para o frio, o calor, a chuva ou a ausência dela, que tanto prejudicava a colheita de alimentos. Quantas vezes o imperador, que era considerado o representante na terra do deus chinês que vivia nos céus, deve ter feito oferendas para agradar a esse deus, que, raivoso por algum acontecimento, mandava raios e trovões, tempestades ou estiagens?




segunda-feira, abril 24, 2017

Sabedoria de Pessoa...


Bloomington - detalhe do conjunto de esculturas numa Escola

"A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.


Bloomington - USA

Ah, como hei de encontrá-lo? Quem errou 
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.



Antiga Escola em Bloomington - Ill

Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar.



Conjunto de esculturas na Estação de trens em Champaign, Illinois USA

Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim."
Fernando Pessoa



Champaign - Illinois - USA

PS> Para iniciar a semana, meu desejo de bons encontros consigo mesmo - num momento histórico de difíceis encontros com quem nos devia representar.

quarta-feira, abril 19, 2017

Comemorando 11 anos do Correndomundo...

Nas comemorações dos 11 anos deste Blog, incluo alguns dos primeiros textos do Correndomundo.

Eu, em 2006.
"TRANSIÇÕES são dificuldades duríssimas para mim. Abandonar um emprego, trocar de cidade, ser traída por uma amiga, terminar um relacionamento,ver um filho partir, largar tudo, começar tudo de novo, foram passagens doídas, transições sofridas - e sofridas. Nos intervalos dessas transições, já engordei 10 kg em um mês, já fiz pneumonias várias, já tive crises alérgicas terríveis. Mudei. Felizmente mudei. Abandonei as somatizações.Tornei-me mais produtiva. Bordei uma toalha de jantar imensa, em ponto-de-cruz, para a Téssia, em uma semana; em outra crise, teci cinco blusões em dez dias; em outra, viajei durante cinco dias e cinco noites praticamente sem dormir; e, ainda, em uma outra, bordei um tapete de dois metros quadrados em um mês... A transição que faço agora, neste primeiro semestre de 2006, deixando a Bahia depois de sete anos e voltando para o Sul, faz surgir este BLOG...Gugu viajou.Foi para a Alemanha. Depois vai para a Índia. Falo sempre que a vida é isso: uma sucessão de chegadas e partidas. Mas como dói!"

 
Bela União


"...Meu pai, a quem eu era muito apegada, morreu aos 44 anos , de tétano. Eu tinha 11 anos ...paguei muita terapia até compreender bem esse fato. Minha mãe , Anália Pinto Menine, uma mulher forte,inteligente, amorosa e perspicaz, morreu aos 84 anos. Viveu na fazenda até pouco tempo antes de morrer. Levantava bem cedo, de madrugada mesmo , e , quando questionada sobre esse hábito , respondia sempre que era para " aproveitar bem a vida". A maior prova de sua inteligência era o fato de conversar com cada um de seus sete filhos sobre o assunto que interessa a eles. Comigo conversava muito sobre plantas, índios e viagens, embora achasse perigoso esse meu costume de andar sempre "CORRENDO MUNDO" - daí a origem da denominação deste Blog...."


Meus Pais 

No início deste blog, sem pensar ainda na sua continuidade, um lugar já era reservado a Fernando Pessoa.

"Viver não é necessário;
o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida;
nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo
e a minha alma a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso." 

Fernando Pessoa

Valentina, minha quase bisneta.

No Correndomundo, ainda está um pequeno texto que explicita para quem ele é dirigido:

"Este blog destina-se à minha família - restrita e ampliada - principalmente aos pequenos, como Pedro e Massimo, porque talvez eu não os veja adultos. Nele, optei por registrar uma das minhas grandes paixões, que é " andarilhar", e escrever sobre a razão do meu viver, que são os meus espaços e os meus afetos." 


Pedro e eu, no Uruguai, em 2010.

Este Blog foi muito, mas muito além do que dele eu esperava. Serviu como canal para reencontrar amigos, alunos, colegas e parentes; através dele conheci pessoas fantásticas que me possibilitaram valiosas interlocuções; foi não só espaço de registro de memórias, como também um companheiro em horas bem difíceis. Com alegria e gratidão, percebi que sua leitura incentivava algumas pessoas a viajarem - parte da minha utopia de um mundo mais amplo, diverso, acolhedor e fraterno. 

Valeu muito o incentivo para continuar a escrevê-lo. Agradeço-lhes com flores:


quarta-feira, abril 12, 2017

Alegrete e o "Negrinho do Pastoreio"de Vasco Prado


Foto by Vinicius Marcanth

Negrinho do Pastoreio, a lenda mais conhecida no Rio Grande do Sul, tanto rural quanto urbano, foi muito contada e comentada pelos brasileiros que defendiam o fim da escravidão. Meio cristã, meio africana, surgiu e ganhou espaço no século XIX - e nunca mais foi esquecida. Está presente, principalmente, em músicas, esculturas e rezas e promessas quando se procura algo perdido.


Foto by Vinicius Marcanth

É comum no Rio Grande do Sul , principalmente em área rural, pessoas recorrerem ao Negrinho do Pastoreio para encontrar objetos perdidos. Deve - se, para tanto,   acender uma vela, próxima ao moirão de uma cerca ou deixar ali algumas flores para o Negrinho,  acompanhando esse ato com as eguintes palavras: Foi por aí que eu perdi... Foi por aí que eu perdi... Foi por aí que eu perdi... Afirma-se que, se ele não achar, ninguém mais encontrará o que doi perdido.


Foto by Vinicius  Marcanth


 " Conta a lenda que nos tempos da escravidão, havia um estancieiro malvado com negros e peões. Em um dia de inverno, fazia muito frio e o fazendeiro mandou que um menino negro de quatorze anos fosse pastorear cavalos e potros que acabara de comprar. No final do tarde, quando o menino voltou, o estancieiro disse que faltava um cavalo baio. Pegou o chicote e deu uma surra tão grande no menino que ele ficou sangrando. Disse o estancieiro: "Você vai me dar conta do baio, ou verá o que acontece". Aflito, o menino foi à procura do animal. Em pouco tempo, achou o cavalo pastando. Laçou-o, mas a corda se partiu e o cavalo fugiu de novo. De volta à estância, o estancieiro, ainda mais irritado, bateu novamente no menino e o amarrou nu, sobre um formigueiro. No dia seguinte, quando ele foi ver o estado de sua vítima, tomou um susto. O menino estava lá, mas de pé, com a pele lisa, sem nenhuma marca das chicotadas. Ao lado dele, a Virgem Nossa Senhora, e mais adiante o baio e os outros cavalos. O estancieiro se jogou no chão pedindo perdão, mas o negrinho nada respondeu. Apenas beijou a mão da Santa, montou no baio e partiu conduzindo a tropilha. A partir disso, entre os andarilhos, tropeiros, mascates e carreteiros da região, todos davam a notícia, de ter visto passar, como levada em pastoreio, uma tropilha de tordilhos, tocada por um Negrinho, montado em um cavalo baio..." http://www.sohistoria.com.br/lendasemitos/negrinho/


Foto by Vinicius Marcanth
Em 1968, para a cidade de Alegrete, no Rio Grande do Sul, o famoso Vasco Prado esculpiu em bronze o Negrinho do Pastoreio - que Vinicius Marcanth fotografou ( obrigada, Vinicius!). Ao ser colocada no Parque Rui Ramos, despertou a ira de muitos gaúchos, que até cogitaram de laçar a escultura e jogá-la no rio Ibirapuitã. Nesse período, eu morava em Alegrete e já me interessava por arte. Guardei a expressão muitas vezes ouvida com tristeza: " não entendo de arte, mas aquele cavalo parece um porco ( gordo ), e o Negrinho é magro demais, tem a cabeça pequena e vai com os braços levantados - isso não é jeito de montar a cavalo". O tempo, entretanto ,  passou. Novos sentidos foram sendo gerados. Hoje, é um símbolo e uma atração turística da cidade - com razão! 

Foto by Vinicius Marcanth

À esquerda da escultura, uma homenagem a Rui Ramos, famoso político alegretense, onde se lê: "A Rui Ramos, humanista preocupado com a terra e com o homem, a homenagem do povo que luta por um Negrinho do Pastoreio triunfante, sem os grilhões de uma economia atrasada e com a esperança de um mundo livre e sem medo, tal como ele o desejou (20-09-1968)".


Parque Rui Ramos by Vinicius Marcanth

Retornei de Alegrete há três dias. É minha cidade preferida no Rio Grande do Sul. Se você não a conhece,..visite-a  e, se  possível, faça isso na Semana do Gaúcho, em setembro. Assistirá a uma das maiores e mais bonitas  festas tradicionalistas do Sul do Brasil. Se não for em setembro, em qualquer outro mês a cidade estará linda - e a escultura de Vasco Prado poderá  ser admirada.

Autor: Eroni Alves 

Negrinho do Pastoreio
Barbosa Lessa

Negrinho do Pastoreio
Acendo esta vela pra ti
E peço que me devolvas
A querência que eu perdi
Negrinho do pastoreio
Traze a mim o meu rincão
Eu te acendo esta velinha
Nela está meu coração.

Quero ver meu lindo pago
Coloreado de pitanga
Quero ver a gaúchinha
A brincar n'água da sanga

Quero trotear pelas coxilhas
Respirando a liberdade
Que eu perdi naquele dia
Que me embretei na cidade

.............................................................................

https://www.letras.mus.br/barbosa-lessa/212848/


Com meus agradecimentos a Vinicius Marcanth

sábado, abril 01, 2017

Bem - Vindo, Abril...

Jardins no Sul da Índia
Abril....
.....um mês excelente para viajar... como qualquer outro...Faça planos, ainda que sejam para visitar uma cidade próxima da sua. Lembre-se da finitude de nosso tempo por aqui.Viva-o intensamente.


Jardins do Sul da Índia

"Ditosos a quem acena
Um lenço de despedida!
São felizes : têm pena...
Eu sofro sem pena a vida.
Dôo-me até onde penso,
E a dor é já de pensar,
Órfão de um sonho suspenso
Pela maré a vazar...
E sobe até mim, já farto
De improfícuas agonias,
No cais de onde nunca parto,
A maresia dos dias."

Fernando Pessoa


Jardins do Sul da Índia