sábado, julho 30, 2016

A Antiga e Inovadora Avilés das Astúrias

Igreja e escola infantil de freiras católicas + uma pomba exibida


Distante 26 km de Oviedo - um trajeto que se pode fazer de trem, em 30 minutos - Avilés é o terceiro núcleo urbano  mais importante das Astúrias. Com pouco mais de 90 mil habitantes, é uma pequena e bonita cidade, que  encanta tambén pela sua proximidade com o mar Cantábrico e pela  beleza natural de todo seu entorno. Em 2 ou 3 horas, seu Centro Histórico pode ser todo percorrido a pé, mas....

Centro Niemeyer

...reserve algumas horas a mais para percorrer o Centro Niemeyer, obra do grande arquiteto brasileiro e objetivo primordial desta nossa visita. Sobre esse Centro, já postamos texto e fotos : http://correndomundo.blogspot.com.es/2016/06/orgulhosamente-apresento-lhes-o-centro.html


Prefeitura de Avilés

Cidade pequena, mas com importância grande e história longa na região. Embora já existisse bem antes, foi em 1085 que teve reconhecida essa  importância, quando Afonso VI concedeu-lhe o status de Vila com Foro - espaço de decisão dos moradores. Mais tarde, Afonso X torna-a independente de Oviedo. No século  XIX, veio-lhe o desenvolvimento da indústria e com ele o aumento de população e de orçamento.


Porto no rio Avilés


O Centro Histórico local ficou bastante preservado. O aumento da cidade deu-se ao redor dele. Tiveram o cuidado de transformar muitas de suas ruas em peatonais e afastar os movimento de carros nos lugares onde poderiam causar danos aos prédios históricos principalmente. As indústrias, incluindo a siderúgica, estão no lado do rio, oposto ao lado do centro da cidade.


Igreja de São Tomás

Entre as muitas igrejas da cidade, como a Igreja de Santa Maria, Madalena e a  Igreja de São Nicolau de Bari, está a imponente Igreja de São Tomás, na Praça de la Merced, que se destaca por suas grandes proporções. É uma construção neogótica, terminada em 1903, no lugar onde era o antigo Convento de la Merced. Exibe duas torres muito altas, que ladeiam a parte central, onde se vê o escudo da cidade.
Centro de Avilés

Há lugares bem inteessantes em Avilés, além das Igrejas, que valem destaque e visita. tais como a Praça Espanha, popularmente conhecida como Plaza Mayor, onde está a Prefeitura - Ayuntamiento - construção iniciada no séc. XVII, junto à desaparecida Muralha Medieval;  o Palácio del Marquês de Ferrara, do final do séc.XVII também, onde está o sepulcro de Pedro de Avilés, considerado um ilustre filho da cidade, que chegou a governador nos Estados Unidos.



Centro Histórico


Em Avilés - e nas Astúrias em geral - a gastronomia  é admirável, com produtos do mar, do campo e da montanha - com a presença forte da Fabada Asturiana, uma sopa feita com bacon, linguiça, morcilia, toucinho, açafão e feijão branco graúdo. Deliciosos e variados são também são os queijos, feitos com leite de vaca ou de ovelha.



Produtos da Região


Avilés tem, ainda, a oferecer aos visitantes espetáculos diversos, tanto no Teatro Palácio Valdes, quanto no Centro Niemeyer.  Contam, para isso, com visitas de grupos artísticos locais e de diferentes países. Quando lá estive, havia , por exemplo, uma apresentação de Kijote Kathakali, gênero teatral nascido em kerala, na Índia, com epopeias revividas através de danças e histórias representadas.



Floreiras no Centro de Avilés


Astúrias é belíssima. Lamentei não ter visitado Gijón - chovia muito! Quando fui a Avilés, gostei de ter viajado em um trem lentinho, o que me possibilitou ver melhor a bonita paisagem asturiana. Voltei apaixonada pela cidade de Oviedo.

Nas páginas de As mil e uma noites, se aconselha: 
-Vá, amigo! Abandone tudo e vá! Para que serviria a flecha se não escapasse do arco? Soaria como soa o harmonioso alaúde se continuasse a ser um pedaço de madeira?

Com o texto acima, Eduardo Galeano me representa!

Entre Oviedo e Avilés, da janela do trem...

terça-feira, julho 26, 2016

Oviedo, a Cidade das Esculturas.

Woody Allen

" Oviedo es una ciudad deliciosa, exótica, agradable, tranquila, peatonalizada, es como si no perteneciera a este mundo, como si no existiera......Oviedo es como un cuento de hadas".

Wood Allen é Prêmio Príncipe de Asturias das Artes - 2002



A Bailarina

Tenho de Oviedo fotos lindas de praças, parques, jardins, palácios, igrejas, ruas e pessoas. Optei, porém, em especial homenagem a Capital do Principado de Asturias, por mostrar , em toda esta postagem, apenas esculturas - algumas das 110 esculturas que a cidade exibe. Arte em espaço público é parte das minhas - conservadas - utopias de militante.



Maternidade - escultura de Bottero

Logo na entrada da cidade, vindo da estação de trens para o Centro Histórico, encontrei uma escultura - bem destacada - de Fernando Botero, famoso  artista colombiano, nascido em Medellín, em 1932. Botero fez escola! Sua identidade é inconfundível. Suas gordas, reconhecidas. Nos anos 50, estudou em Madrid. Completou sua formação em Firenze. De sua cidade natal, um dos espaços mais conhecidos é a praça que leva seu nome e que exibe 23 de suas esculturas - planejo vê-las em Medellín, ainda em 2016.






Pode-se conhecer Oviedo perseguindo as esculturas... Se visitarem as Vendedoras del Fontán - bonita escultura de Favila ( 1996 ) - terão certamente visitado a  Praça del Fontán e o Mercado El Fontán. Se for em final de semana, estará acontecendo, na Praça,  um movimentadíssimo mercado de rua. Nas proximidades, também está a Igreja ( barroca)  de  San Isidoro  e, num belo edifício de 1780, está , Prefeitura ....e, ao redor, outras tantas esculturas.


Vendedoras del Fontan

Oviedo, como Gijon e Avilés, são cidades da exuberante e bonita região das Astúrias, que foi território celta antes da chegada dos romanos. Conhecida como Paraíso Verde ou Paraíso Natural, tem como uma de suas grandes riqezas a abundância de água, raridade em outras áreas da Espanha. Há um site , bastante completo, sobre Asturias :  https://www.turismoasturias.es 



A Pensadora

Intrigava-me a denominação de Principado de Astúrias. Descobri que foi assim chamada essa região por concessão de Juan I de Castilla y León, em 1388, buscando compensá-la do isolamento gradativo que passou a sofrer após a Reconquista do Sul. Até hoje o herdeiro do trono espanhol tem o título de Príncipe das Astúrias. Equivalente ao Prêmio Nobel, é o Prêmio Príncipe das Astúrias, anualmente entregue a pessoas e instituições, que se destacaram em áreas como artes, comunicação, letras, esporte e ciências.


Esperança caminhando...



A cerimônia de entrega desse Prêmio acontece no Teatro Campoamor de Oviedo, no mês de outubro, em grande e badalado evento. Ao longo dos anos da existência dessa premiação, além de Wood Allen, já foram recebidos aqui figuras ilustres, como: Leonard Cohen, Francis Ford Coppola, Leonardo Padura, Carlos Fuentes, Humberto Eco, Pedro Almodóvar, Paco de Lucia, Jurgen Habermas, Michael Schumacher, Fernando Alonso - este ,ilustre filho de Oviedo - e nosso querido brasileiro, Sebastião Salgado.



                                                                                                        O Viajante
                                                             

Distante de Madrid cerca de 450 km, Oviedo, cidade declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, com mais de 230 mil habitantes, tem uma longa história. Fundada no século VIII, provavelmente ao redor do ano 760, foi capital do extinto reino de Astúrias, que existiu entre os séculos VIII e X. Está localizada no extremo norte do Território Espanhol, no alto de uma planície, por onde também passa o Caminho de Santiago de Compostela.



Mafalda , inaugurada por Quino, em frente a um lago, olha patos e gansos...

Segundo dizem, a Capital do Principado de Astúrias é uma cidade tradicional e demasiado aristocrática. Seus habitantes são elegantes e bem vestidos. A par disso, achei-os também gentis e educados. Conhecidos, ainda, como pessoas cultas, muito vinculadas às artes. Mesmo não sendo uma cidade grande, Oviedo tem, por exemplo,  a quarta mais importante temporada de óperas da Espanha - vem logo depois de Madrid, Barcelona e Valência.



 Vendedora de Pescados

Há indícios fortes do que foi acima afirmado. No Museu de Belas Artes de Astúrias, com visita grátis, há 12 obras de El Greco, 5 obras de Pablo Picasso e muito mais... No Teatro Campoamor, óperas famosas - Verdi, Puccini, Wagner e Mozart - já foram interpretadas inclusive por Plácido Domingo e Pavarotti. Santiago Calatrava, famoso arquiteto que projeta a partir da forma do olho humano , fez o arrojado - e caro, 180 milhões de euros - Palácio de Congressos. Woody Allen fez aqui algumas locações de Vicky Cristina Barcelona....


Parte do conjunto que acompanha a Vendedora de Leite.

A Universidade de Oviedo tem mais de 400 anos. Há um público jovem na cidade que traz inovações e que quer diversão e arte. Há muitos turistas, muitos orientais,  como em qualquer cidade. Há também africanos e refugiados. Há operários pobres, como aqueles mineiros que se revoltaram, em 1934, numa terrível batalha na Guerra Civil Espanhola. E para compor o quadro, há uma rainha: Letizia nasceu em Oviedo.


Escultura de Manolo - 1930

Em Oviedo, Gijon e Avilés - principais cidades das Astúrias - e de resto, acredito, em todos os povoados, encontram-se comidas deliciosas e fortes, como a Fabada Asturiana, um dos meus pratos preferidos na Espanha. Pensei em deixar aqui a receita,  mas desisti. Em nossa cultura, comemos todas as porquerias industrializadas não-se-sabe-como, mas tememos alimentos naturais - em off posso mandar a receita. Para beber, os asturianos não dispensam a sidra - em casa ou nas várias sidrarias. Vale retornar!


Culis Monumentalibus  - bastante óbvia a denominação...

Este post é dedicado, em especial, aos meus queridos amigos de toda a vida: Sandra e José Romeu Oviedo e aos seus cinco maravilhosos filhos - com todo meu carinho e afeto.


A Vendedora de Fontan

Admirável.

domingo, julho 24, 2016

Pamplona: Tradição e Fascínio.

...de todas as idades.
Peregrinos....





















Centro histórico de Pamplona
Idem





















Meu filho - Paulo de Tarso - escreveu  ( http://correndomundo.blogspot.com.es/search/label/Cuba )
que nossos olhares sobre as cidades eram bem diferentes: eu via magia no mundo; ele  via "trânsito, pressa, gente tentando fazer o que pode para pagar as contas, criar os filhos, não morrer de câncer;  gente esperando  chegar a hora de ir para casa ..."



Plaza del Castillo

Lembrei-me da afirmação dele ao conviver com a cidade de Pamplona. Acredito que os muitos séculos  de encontro com peregrinos que fazem o Caminho de Santiago de Compostela, passando pelo meio da cidade, tenham influído sobre a cultura local, tornando as pessoas receptivas, gentis e agradáveis, ao menos com os estrangeiros.

                                                                                 
 
Centro Histórico


Não somos tratados unicamente como turistas - alguém que deixa dinheiro na cidade e incentiva outros a conhecê-la - mas como Peregrinos do Caminho, que " buscam ser gente melhor, para si mesma e para o mundo" , como me falou a senhora de uma cafeteria. Um amigo de Madrid também me havia informado de que a gente de Navarra era maravilhosamente gentil. Confirmo!





tracei partes do Caminho de Santiago em ônibus, carro e trem. Ontem realizei meu sonho: traçá-lo caminhando ......ainda que tenha feito 1,5 km.- sim! um km e meio.   De Sant Jean Pied de Port a Santiago de Compostela - o caminho mais percorrido pelos peregrinos - a distância é em torno de 800 km....mas eu iniciei...





Não se diz, em alguns discursos no lançamento de projetos ou de pedras fundamentais, que "toda jornada se inicia com o primeiro passo " ? Escutei isso algumas vezes - com um sorriso nos lábios para combinar com a assertiva - sempre me perguntando: Como iniciar com outro passo? Como pular diretamente para o segundo passo? 




Pois fiz o primeiro passo e mais um mil e tantos passos....embora continue lamentando jamais ter encarado ao menos os 180 km finais do Caminho. Resta-me esperança de ter vida e tempo ainda para fazê-lo - esperança renascida depois de ver , em Burgos, León, Oviedo e Pamplona, dezenas de velhinhas e velhinhos caminhando... Alguém se dispõe a ir comigo?



                                                 Hemingway , em frente à Plaza de Toros...


Parece mesmo ter sido Ernest Hemingway que, ao publicar o livro O sol nasce sempre, em 1926, tornou Pamplona e sua Fiesta de San Fermin mundialmente conhecida. As homenagens, Hemingway  as recebe até hoje ; a Fiesta - Los Sanfermines - segue acontecendo durante oito dias, sempre de 6 a 14  de julho, para comemorar o aniversário do Santo. Não há touradas atualmente, mas acontece o encierro - a corrida de touros.



                           A foto não é minha. Busquei-a em material de divulgação da Fiesta.


O encierro - tema de grandioso monumento do escultor bilbaíno Rafael Huerta, inaugurado em 2007 -  é nuclear na Fiesta de San Fermin. Todos os dias, às  23  horas  da  noite, 6 touros são soltos para correr 440 metros pela cidade, no silêncio e quase às escuras, a caminho da Plaza de Toros, onde antes aconteciam as touradas. Muitos homens correm à frente dos touros. Contaram-me que o magnetismo do ato é inesquecível para quem participa ou para quem comtempla.






Na Festa de San Fermin, portanto, muitos homens correm com esses touros...ou fogem deles, arriscando a vida. E chamam isso de divertimento - ou de grande emoção. Além do encierro, há fogos de artifício, rituais, desfiles, festas, músicas e danças. Esperei que a festa terminasse para ir a Pamplona - há muito turista e ... emoção demais para minha idade...nos dias de Los Sanfermines...



                                                          Detalhe da Plaza de Toros



Pamplona, cidade do norte da Espanha, capital de Navarra desde o século IX, tem, no entanto, bem mais a oferecer aos visitantes, além de ser parte do Caminho e de ter a tradicional corridas de touros. Encantei-me com o traçado da ciudadela no formato de uma estrela; encantei-me com suas muralhas,  parques, praças e passeios; suas muitas - mas muitas mesmo - igrejas e conventos; seus palácios, museus e universidades. E tem, ainda, o rio Arga, suas pontes e seu belíssimo verde ao redor.



                                                                          Rio Arga


Nas muralhas, construídas por Felipe II com o objetivo de defender a cidade das invasões francesas, estive um tempo olhando o rio Arga, com suas pontes e suas margens belamente ajardinadas e bem cuidadas. Após, fui caminhar no Parque de la Taconera, o mais antigo e bonito de Pamplona, onde se podem ver cervos, gansos e pavões reais que moram nos fossos das muralhas. Há também o Parque de la Media Luna, situado num dos extremos das muralhas , com miradores para o rio Arga.



                                                                   Plaza del Castillo                        



A Praça do Castelo é o coração da cidade - lugar de encontro de pamploneses e visitantes. Neste espaço grande, com 14 mil metros quadrados, muitos eventos já se realizaram: mercados, torneios, concentrações políticas, desfiles militares e corridas de touros até 1844, ano da construção de uma praça de touros permanente. Muito bonita a Praça do Castelo ... porém  sem nada de castelo por perto. O nome provém de um castelo erguido pelo rei Luis El Hutin, no século XIV, e desaparecido no século XVI.


                                             Detalhe da Catedral de Santa Maria la Real
                                                      

A Catedral de Santa Maria foi construída, nos séculos XIV e XV, onde antes havia um templo românico, destruído em 1276. Mostra fachada neoclássica e interior gótico, cuja nave central mede cerca de 27 metros de altura. É uma construção muito sóbria e austera. Dentro dela, na nave central, está o túmulo do rei Carlos III e de sua esposa Leonor. Diz-se que tanto a Catedral quanto esses túmulos,  constituem-se em joias arquitetônicas de Pamplona.


                                                                      Fachada da Prefeitura


A Prefeitura  está construída no lugar da junção dos três burgos - Navarreria, San Saturnino e San Nicolás - que foram unificados por Carlos III o Nobre, com a promulgação , em 1423, do Privilégio da União, que visava a acabar com as tensões existentes entre os burgos. A fachada deste Ayuntamento é do século XVIII, nela estão as esculturas da justiça, da prudência, da força e da fama. À noite, fui tomar um café nesse lugar - muita gente e muita festa. Depois do café, tracei toda a Calle Mayor, principal via de passagem de peregrinos. Belo passeio!


 
                         Todas as indicações estão em Espanhol e em Euskara, idioma basco.  
Ao redor do ano 70 a.C. o general romano Pompeo estabeleceu um acampamento militar estratégico, num povoado basco, chamado Uruna - foi o início da cidade que teria o nome de Pamplona. A partir daí, a pequena cidade romana seguiu a mesma sorte dos impérios, com alto e baixos, dores e alegrias.





Foi conquistada pelos godos, invadida pelos árabes, teve suas muralhas destruídas por Carlos Magno, tornou-se protegida de Sancho III o Maior, conhecido, nas crônicas árabes como O Senhor dos Bascos. vieram  franceses e, depois deles outros estrangeiros, surgiram novos burgos, os burgos foram unificados, foi governada por Foros, sofreu invasão das tropas de Napoleão, precisou destruir um pedaço das muralhas ao sul, para que a cidade crescesse e incluísse os que viviam do lado de fora delas. Tem hoje mais de 200 mil habitantes, uma Universidade Pública, um Centro de Pesquisas Médicas Aplicadas e...é uma cidade bonita, tranquila, com alto padrão de vida e muito bem organizada.



Se você pensa visitar Pamplona - o que aconselho vivamente - reserve um tempo para ir com calma e caminhar muito, olhando para todos os lados, o tempo todo, surpreendendo-se certamente com que vê. Estude-a bem antes de ir, assim terá mais condições de apreciá-la. Procure hospedar-se dentro das muralhas, mas passeie também fora delas. Desfrute do convívio com as gentes de Navarra. De Madrid a Pamplona, vai-se, num trem Alvia,  em 3h10 min - procure viajar em poltrona de janela, assim terá o bônus de ver o Aqueduto de Olite e alguns castelos espalhados pelo percurso. 




O meu olhar azul como o céu
É calmo como a água ao sol.
É assim, azul e calmo,
Porque não interroga nem se espanta...

Se eu interrogasse e me espantasse
Não nasciam flores novas nos prados
Nem mudaria qualquer coisa no sol de modo a ele ficar mais belo..."

Fernando Pessoa


                                                Campos de Navarra, perto de Pamplona.


terça-feira, julho 19, 2016

León : Peregrinos, Catedral, Gaudí...e muito mais!

Ruas estreitas 
Peregrinos
Catedral



Catedral - vitrais



















































As Catedrais Góticas me chamam...e , para diferentes cidades e países, lá vou eu encontrá-las. Foi assim em Burgos, Sevilha, York, Colônia, Viena, Milano, Firenze, Paris....e León. O estilo me encanta em especial pela verticalidade e a luz.






A Catedral de León - século XIII - foi o  leitmotiv para minha visita à cidade, onde constatei  que havia outras tantas razões para ir-se  até lá, incluindo o Caminho de Santiago, na rota Burgos-León, rota bastante conhecida dos peregrinos, que a percorrem a pé , através de  seus 182 km.



Coral grandioso,

A Catedral - Patrimônio Histórico da Espanha - exibe uma das maiores coleções de vitrais do mundo, nada menos de 1800 metros quadrados, que estão num prédio  com  90 metros de comprimento, 30 metros de altura, e paredes com 125 janelas, sendo que 31 são  janelões de grande dimensão.



Imensas rosáceas


Foi construída no lugar onde estiveram umas termas romanas e uma antiga catedral românica. Sua construção começou no século XIII, mas continuou nos séculos posteriores. A decoração mostra temas da vida - artes, ciências, virtudes, vícios - e temas relacionadas à história cristã.



Detalhe da porta da Catedral de León


Há que se estar atento à beleza e às particularidades de alguns espaços externos e internos, como a Porta da Virgem, a Porta de São Froilán e as esculturas de todos os portais; o Coro Catedralício, a Capela da Virgem do Caminho e a Galeria do Claustro - além dos magníficos vitrais, é óbvio.



Entrada principal da Catedral

Nessa área histórico-religiosa, há outra visita imprescindível. Refiro-me à Real Basílica de São Isidoro, um dos conjuntos românicos mais importantes da Espanha. No século X, o rei Fernando I e sua esposa, dona Sancha escolheram este lugar para enterramento real. Em 1063, os restos de São Isidoro foram transladados de Sevilha - e a igreja passou a ter o seu nome. 


Detalhe da Basílica de São Isidoro

Também em 1063, construiu-se um espaço a mais, com teto ricamente decorado, destinado a ser o Panteão Real - razão por que esse espaço algumas vezes foi chamado de Capela Sistina da Arte Românica. Nesse Panteão, estão enterrados onze reis e catorze rainhas, junto a infantes, condes e nobres. Não vi o Museu, nem o Arquivo da Biblioteca, que guarda preciosos manuscritos com mais de mil anos - deixei-os para a próxima visita.


Detalhe da Basílica de São Isidoro

Quando decidi visitar León, fiz o que sempre faço: comecei a pesquisar e a ler sobre a cidade. Minhas informações sobre ela, eram poucas e restritas, na maior parte, à Catedral, ao Caminho de Santiago e aos edifícios da famosa rua Ancha. Surpreendeu-me, então, encontrar o nome do modernista  Antoni Gaudí, que é parte do meu encantamento em Barcelona, como  arquiteto também ligado a León.


Gaudí desenhando...

Antes mesmo de ver o Edifício de Botines, por ele projetado, esbarrei com uma escultura fantástica, em que ele está desenhando e tem, na guarda do banco em que está sentado, uma graciosa pomba de bronze. Gaudí projetou esse edifício para um grande armazém de tecido, cujo nome de um dos proprietários determinou o nome do prédio. Atualmente é a sede de um banco.



Edifício de Botines

A construção pouco lembra as arrojadas obras de Barcelona, mas lembra muito os palácios medievais. Pareceu-me realmente estar inserida no design da cidade. Perto do Edifício  de Botines, está o elegante Palácio dos Guzmones e outros históricos prédios, incluindo igrejas, como a Santa Maria do Mercado, que conserva parte de sua estrutura românica.


Detalhe do Palácio dos Guzmanes


O Palácio dos Guzmanes  pertenceu à poderosa família que levava esse nome. O começo da construção desse edifício deu-se em 1559. É charmoso e bonito em sua quase simplicidade. São lindos os seus balcões, cercados por grades de ferro, minuciosamente trabalhadas, em que  não faltam os escudos com as armas da família. Atualmente, é sede da Deputação Provincial, que o ampliou, mas conservou-lhe estilo e caracteristicas.





As Muralhas , edificadas no final do século III, correspondem aos antigos limites do que foi outrora: um acampamento romano. Apesar do tempo e das invasões que ocorreram, elas ainda podem ser reconhecidas como muralhas que estão parcialmente preservadas. Uma de suas portas - a Porta Castilho - ainda subsiste. Constituem imagens bonitas e que dão o que pensar...


Feira de Artesanato : batiks

Nos dois dias em que estive em León, estava acontecendo lá a XX Feria de Artesania Ciudad de León. Muitos expositores, muitos trabalhos bem originais. Embora eu tenha-me tornado muito resistente a compras, acabei levando uma dessas echarpes em seda, com um primoroso e delicado trabalho de batik -  e desta vez não senti nenhum arrependimento, pois era bem leve, num pacote bem pequeno.


Escultura - Parte de As Três Infantas

O passeio a León é fácil de ser feito -  trens e ônibus chegam até ela em diferentes horários, vindos, por exemplo,  de Madrid, Barcelona, Burgos e Oviedo. A cidade é agradável - um mix entre o novo e o antigo, entre o sisudo e o jovial. Registro duas informações : o documento mais antigo sobre o sistema parlamentarista conta-se que foi produzido em León; a Semana Santa é um evento tradicional e internacional, com a duração de 10 dias. Tem também excelentes restaurantes, e a comida local é deliciosa. Visita aconselhada - com certeza.


Escultura no Centro Histórico de León

"Começo a conhecer-me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os que outros me fizeram,
ou metade desse intervalo, porque também há vida...
Sou isso, enfim..."

Fernando Pessoa