quinta-feira, abril 30, 2015

Malta: mais de Cinco Milênios de História - Parte I


Igreja das Carmelitas em Sant Julián
Ainda no Brasil, comprei, no site a Ryanair, os bilhetes de ida e volta a Malta. No aeroporto de Madrid, uma surpresa irritante. Eu havia feito o check in pela internet, mas não havia imprimido o cartão. Fui, então, avisada de que deveria entrar numa fila ( + 20 min!!!) e pagar uma taxa. Paguei 15 euros e  ainda assinei um papel dizendo que concordava com esse pagamento. De posse do recibo e só depois de mostrá-lo, recebi o cartão de embarque. Explicaram-me que se tratava de uma norma dessa companhia! Guardei bem a informação.

 Cores do Mediterrâneo
De Madrid a Malta, 2h10min de voo.. Chegada tranquila. Aeroporto simplinho e pequeno. Ali mesmo comprei táxi e paguei, antecipadamente, 20 euros, até a Baía de Saint´s Jullian, onde ficava o hotel que eu havia reservado. Percebe-se, desde a chegada, que o trânsito é pesado e caótico. Nos dias seguintes, priorizei o transporte publico - fui avisada para ter cuidado com os táxis e acertar sempre o preço antes.Taxímetro não é comum usarem, e uma mesma corrida pode custar entre 15 e 25 euros.

Balluta Bay
O Arquipélago de Malta está localizado no centro do Mediterrâneo, entre o sul da Europa - 90 km daItália, mais especificamente, da Sicilia - e o norte da África, mais ou menos 350 km da Líbia e um pouco menos daTunísia. É um país bastante povoado, pois tem 320 quilômetros quadrados e uma população de 420 mil habitantes. Suas  ilhas principais são Malta, Gozo e Comino.

San Julián
Está entre os  10 países mais áridos do mundo, onde 55% da água depende da dessalinização,  o que é feito  em modernas estações.  Há , ainda, grandes depósitos para o armazenamento de águas da chuva e muitos poços que extraem água de lençóis subterrâneos. O período de sol é longo e forte; as secas ocupam mais da metade do ano. Há fortes campanhas visando à economia de água.

Bandeiras de Malta e UE
Disseram-me que os invernos são úmidos e suaves e que outono e primavera são curtos, predominando, portanto, o tempo ideal para praia - o que determina um fluxo grande de turistas. O turismo, de fato, é imprescindível para Malta. Li, numa publicação local, entretanto, que o esforço atual do país é para ter um turismo sustentável, que se afaste do tradicional turismo de massas low cost, modelo que ainda impera na tipologia turística maltesa.

Vista panorâmica do Norte de Malta
Faz a gente pensar num mix de culturas,decorrente, é óbvio, de uma história que tem ao redor de 5 mil anos ou mais... Os povos que viveram em Malta deixaram suas marcas, algumas rapidamente identificáveis e superficiais, como, por exemplo, carros com mão inglesa ( direção no lado direito ), cabines telefônicas vermelhas, cafeterias e restaurantes tipicamente italianos e igrejas, mesquitas e sinagogas.

Cabines telefônicas de Malta
Impressiona a longa e movimentada história de Malta. Há vestígios dos primeiros povoadores na Ilha de Gozo, há 4 mil anos a.C. Os muitos templos de pedra, considerados hoje Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, datam de 2500 a.C. Em 550 a.C. gregos e fenícios começaram a frequentar as ilhas em suas rotas de navegação pelo Mediterrâneo.

Catedral de Mdina
Quando Cartago enfrentou Roma, em 257 a.C. as ilhas foram saqueadas e ocupadas pelas tropas romanas. A ilha era ocupada pela colônia fenícia cartaginês. No ano 60 d.C. São Paulo e São Lucas tiveram um naufrágio na costa maltesa, o que  colocou Malta em texto bíblico. Após 454 d.C. o arquipélago maltês, dominado, então , pelos romanos, viveu uma etapa de prosperidade, estabilidade e desenvolvimento agrícola e comercial. Os produtos malteses eram muito apreciados pelos romanos.

Antigo adorno de portas em Mdina 
De 870 a 1090, o arquipélago foi conquistado por árabes tunesianos.De 2090 a 1530, os normandos puseram fim à dominação árabe, e as ilhas caíram nas mãos dos franceses, depois dos sicilianos e , depois ainda, dos catalano-aragoneses. De 1530 a 1798, Malta esteve com a Ordem dos Cavaleiros Hospitalares de São João de Jerusalém. Em 1565, durante cinco meses, as ilhas resistiram às forças Otomanas. De 1798 a 1800, as ilhas foram ocupadas pelas tropas de Napoleão.

Parte de Malta hoje
Depois da expulsão dos franceses, o Arquipélago passa a ser dominada pelos ingleses. Durante a Segunda Guerra, Malta foi devastada. Em maio de 1964, tem sua independência do domínio inglês e, em 1974, é proclamada a República. Em 2004  , Malta converte-se em membro da União Europeia. Diante da incapacidade de absorver refugiados, em 2013, reforçou suas fronteiras. Faz parte da Zona do Euro.Em 2018, Valeta, Patrimônio da Humanidade desde 1980, será a Capital Europeia da Cultura.

Portas Tradicionais 

Para conhecer o país, acredito que as duas melhores opções sejam caminhar e usar transporte público. Pode-se também pegar um desses Sightseeing , ônibus tradicionais de turismo ( hop on - hop of ).Duas companhias oferecem dois trajetos pelas ilhas: o norte e o sul. No primeiro dia, fiz o trajeto norte, com paradas em Sliema, Ta´Qali e Mdina. Depois, desisti e preferi fazer caminho solo...

Valeta
Esses ônibus de turismo andava - como os táxis também - em velocidade assustadora, nas estradinhas que são estreitas e cheias de curvas. A partir daí, passei a utilizar transporte público e , duas vezes somente, usei táxi duas vezes, grandes discussões com os taxistas pelo custo exagerado das corridas. A priori, havia já selecionado, nas atrações listadas em diversas publicações, às que mais me interessava - e passei a percorrê-las tranquilamente.

Sliema
La Valeta, como é mundialmente conhecida  a capital do Arquipélago, está localizada no  centro da ilha de Malta, numa peninsula, entre dois portos naturais : Marsamxett e Gran Puerto. É a menor capital de estado entre os atuais membros da União Europeia - tem menos de um quilômetro quadrado e uma população de 7700 habitantes. Foi fundada em 1566. De La Valeta, partem transportes para qualquer ponto do País. É visita imprescindível de que se precisa ao menos um dia.

Co-Catedral de São João em La Valeta
Meu recorrido, começou pela Catedral, aliás, pela Co-Catedral de São João, denominação recebida porque já existia uma Catedral, a de Mdina. A co - Catedral  foi, durante mais de 200 anos, Igreja Conventual da Ordem Militar do Hospital de São João de Jerusalém, que a dotaram dos mais ricos e luxuosos ornamentos - o piso , o teto e as paredes...  É uma das mais altas expressões artísticas do Barroco. Sua fachada é simples e austera, mais parecendo uma fortaleza. Seu interior, entretanto, é um deslumbramento total. Para mim, um desses lugares onde se fica de boca aberta...e não se consegue rezar.

Detalhe da co-Catedral de São João
Pelo mapa, observei que teria de encontrar a rua da República ( Triq ir- Repubblica em maltês) que atravessa toda a cidade - vai do Portão da Cidade até o Forte de São Telmo.O Terminal de ônibus fica em frente ao Portão Principal - perto dali há um Centro de Informações Turísticas. É só seguir, então, pela rua República e sair para as transversais quando algo lhe interessa, como o Museu de Arqueologia, o fantástico Museu de Belas Artes , os históricos e grandiosos palácios e jardins. Na Rua dos Mercados, encontrei uma feira com frutas,verduras e mil coisas mais.

Detalhe da Cúpula da co-Catedral
Bem interessante é comprar um ticket combinado e visitar a Sacra Infermeria (1574),onde era usado mel como um dos tratamentos aos doentes, e a comida lhes era servida em pratos de prata para evitar contaminações. No edifício onde foi esse histórico hospital, está hoje o Centro de Conferência do Mediterrâneo. Com o mesmo ticket, pode-se assistir La Malta Experience, um audiovisual de 45 minutos, com alta qualidade visual e auditiva, que, em 15 idiomas ( incluindo português), conta a história dos sete milênios de Malta. Imperdível.

Detalhes de edifícios históricos em Valeta
Além do que relatei - e muito mais - a Capital de Malta abriga excelentes hotéis, muitos restaurantes , bares  e cafeterias; salas de cinema, centro comerciais e lojas de moda internacionais - para qualquer um desses itens, os preços não diferem de cidades europeias. È um paraíso para quem curte compras. Não posso opinar sobre as praias, em princípio porque não me atraem e porque - nesse item - lembro-me sempre, com saudades,  das praias da Bahia.

La Valeta
"Toda a manhã que raia, raia sempre no mesmo lugar,
Não há manhãs sobre cidades, ou manhãs sobre o campo.
À hora em que o dia raia, em que a luz estremece a erguer-se
Todos os lugares são o mesmo lugar, todas as terras são a mesma,
E é eterna e de todos os lugares a frescura que sobe por tudo."


Fernando Pessoa


Paz!


segunda-feira, abril 27, 2015

Cádiz - de onde Colombo partiu duas vezes....

Porto de Cádiz
Assim que cheguei a Jerez de la Frontera, já comprei bilhetes para  Cádiz. Pertinho - uns 40 min de trem. Dois dias depois, eu chegava à cidade de onde partiu Cristóvão Colombo para duas de suas expedições ao Novo Mundo - só não consegui visualizar essas partidas porque minha imaginação foi prejudicada pelo enorme navio de cruzeiro que estava atracado no porto.

Vista do Atlântico desde o Passeio Marítimo
A cidade está localizada no sul de Espanha, na Comunidade Autónoma Andaluza,numa península estreita, que lembra La Manga, na Costa Cálida. É quase toda cercada pelo Oceano Atlântico,  com praias que se estendem por quilômetros - praias onde venta muito!  Ocupa 592 km² e tem uma população com cerca de 130 mil habitantes.

Prova de que venta muito...
Diz-se que Cádiz foi fundada pelos Fenícios em 1104 a.C. e que, provavelmente, seja a cidade mais antiga da Europa. Depois dos Fenícios, foi ocupada por gregos, cartagineses e romanos, que lhe chamaram Gades (ou Gadira) e, mais tarde, Julia Augusta Caditana. Daí o gentílico gaditano (a).

Centro Histórico
Caiu em poder dos Mouros, foi saqueada pelos Normandos e finalmente conquistada por Afonso X de Castela.Em 1587,  foi invadida por um inglês, inimigo do rei da Espanha. Em 1596, invasores anglo-holandeses queimaram quase toda a cidade. Como se não bastasse, ainda foi ocupada pelos franceses entre 1823 e 1828.

Barrio del Populo
Começou, entretanto, a desenvolver-se  depois das viagens de Cristóvão Colombo, quando se tornou um porto de grande importância econômica. Foi a Idade de Ouro de Cádiz, chegando  a usufruir de 75% do comércio espanhol  com as Américas.A primeira Constituição Liberal da Espanha ( e do mundo) foi adotada em Cadiz, em 1812.  Com a perda das colônias americanas, a cidade entrou em declínio.Sua recuperação deu-se, mais tarde,  com o turismo exercendo papel importante. 

Detalhe da Catedral de Cádiz
Atualmente, Cádiz possui um belo centro , que se divide em quatro bairros: o Barrio del Populo,  centro medieval, onde se encontra a Catedral; o Barrio de Santa María, bairro cigano, importante fonte do Flamenco; o Barrio de la Viña, antigo vinhedo, hoje o principal bairro de pesca; e o Barrio del  Mentidero, centro dos bares e a moderna vida noturna. Para mim, imperdível mesmo é o Barrio del Populo, lugar agradável e bonito.

Detalhe da Cúpula da Catedral
Sempre penso que as catedrais e igrejas históricas vão além de templos religiosos, sendo, ainda, grandiosos museus de arte e de história. A Catedral de Cádiz confirma isso. Tem um estilo barroco discreto para os padrões espanhois, apenas cúpula amarela se sobressai de seu padrão sóbrio. Está localizada em frente uma grande praça repleta de cafeterias e bares, onde tomei um excelente café.


Centro Histórico
Interessante a Caminhada Costeira, uma trilha de quatro quilômetros e meio. Andando por ela, tem-se uma bonita visão da Bahia de Cádiz. Fui até a orla e vim  até o bonito Parque del Genovês, um jardim com cachoeiras e árvores diversas. Daqui, eu pretendia chegar ao Castelo de Santa Catalina e ao Castelo de San Sebastian. Começou, entretanto, a chover, a ventar mais e a ficar muito frio. Entre uma pneumonia e uma visita abortada, decidi voltar imediatamente para Madrid.

Vento frio!
Fala-se muito nas festas gatidanas, especialmente no carnaval, quando as reservas nos hoteis têm de ser feitas com muita antecedência.Para comer, o Bairro da Viña é muito indicado para quem gosta de frutos do mar. A Arroceria La Pepa é indicada para paellas. Antes de começar a esfriar e chover, era lá que eu pretendia jantar. Voltarei. Realmente a visita a Cadiz ficou incompleta. O homem planeja, e Deus dá risada! Acontece!

Daqui, decidi retornar...frio,vento e chuvinha persistente.

domingo, abril 26, 2015

Jerez de la Frontera - outro Encanto Andaluz


Monumento a Lola Flores, cantora de flamenco
Continuando minha peregrinação pela Andaluzia, parti de Córdoba, de trem, passando por Sevilha e chegando a Jerez de la Frontera ainda pela manhã. Embora a Estação de Trens seja bonita e vistosa, a cidade não impressiona à primeira vista - aos poucos, vai-se descobrindo os tesouros que guarda. 

Belas as ruas estreitas
Entre esses tesouros, menciono os bairros ciganos Santiago e São Miguel, berço de famosos cantores de flamenco; as bodegas ( adegas ) - cerca de 20 - a maioria delas abertas ao público e com visitas guiadas; os cavalos andaluzes e os espetáculos que eles apresentam e o flamenco, que está por toda parte.

Domínio das pombas
Fiquei, por sorte , hospedada no Hostal Fênix (www.hostalfenix.com), um lugar simples, charmoso, agradável, com boa localização e excelente custo-benefício. O prédio - século XVII - é bem cuidado, a decoração é discreta e os donos são competentes e simpáticos. Servem café da manhã, o que é bastante raro nos tradicionais hostais espanhois - não confundir com bed &breakfast.

Detalhe do Hostal Fênix
Assim que cheguei, fui caminhar pela cidade, à procura de uma boa cafeteria e de conhecimentos que me permitissem traçar a cidade com meu minimapa. Minhas primeiras fotos foram do monumento à famosa cantora de flamenco, Lola Flores. Ela era uma mulher de personalidade muito forte e de apaixonante figura - o que foi muito bem traduzido pelo escultor No youtube, há várias interpretações dela como cantora e bailarina.

Lola Flores
Fiz, ainda, nesse primeiro dia, a visita ao Alcázar, sólida fortaleza cuja construção foi iniciada em 1140 e concluída em 1212. Tem impressionante torre octogonal de onde se podem ter vistas lindas da cidade. No seu interior, há também uma mesquita, convertida por Afonso X,  em capela, no ano de 1264.

Torre do Alcázar

Após o jantar, uma rápida olhada numa apresentação de flamenco e muitas horas de sono - o que começava a me fazer falta. Acordei pensando que gostaria de retornar a Jerez , em fevereiro, durante o Festival de Flamenco, que dizem ser o melhor e mais movimentado  da Andaluzia. Como sempre digo, vai-me faltar vida para todas as viagens e todos os passeios que eu gostaria de fazer.

Detalhe do Alcázar
Em 1587, Francis Drake, um ousado corsário elisabetano, saqueou Cádiz e saiu de lá com três mil barris de vinho produzido na região. Esse forte vinho espanhol ganhou popularidade entre os britânicos. Para satisfazer a demanda, nasceu a primeira indústria, seguida de tantas outras. E, em 1835, um andaluz e um ingês formaram uma aliança anglo-espanhola e começaram a produzir o famoso Tio Pepe. 

Tradicional Bodega
As principais Bodegas de Jerez são as Gonzáles Byass, que detêm a marca Tio Pepe, e aceitam visitas com reserva antecipada; as Tradición, famosa pelo xerez envelhecido 20 anos e pela coleção de artes que abriga e que inclui Velasquez, Zubarán e Goya e as Sandman, bastante conhecidas internacionalmente.

Feira Escolar de Ciências
As marcas de xerez estão em toda a cidade, inclusive na Feira de Ciências, um evento escolar que visitei na Praça Arenal e que me aportou interessantes informações. Alunos adolescentes mostravam seus conhecimentos em diferentes áreas, com ênfase em bem-estar e desenvolvimento sustentável. Um grupo ensinava como plantar hortaliças em apartamentos e fornecia mudas de plantas aromáticas. Adorei. Obviamente não pude aceitar as plantinhas...por mais que as quisesse.

Laranjeiras floridas
Como de resto em toda a Andaluzia, também em Jerez de la Frontera os laranjais estão por todo lado, e o perfume que exalam na primavera,  é realmente inesquecível. Assim como na Grécia, variedade ( variedade se diz? )  plantada é de laranja azeda por ser mais forte e mais resistente - foi o que me disseram..

Catedral
A Catedral de São Salvador combina de maneira harmoniosa elementos barrocos, neoclássicos e góticos. Em 2012, inaugurou-se o Museu da Catedral, em salas e capelas depois do altar principal, onde podem ser vistas pinturas de Zubarán, objetos litúrgicos e pratarias variadas. Nesta Catedral, encontra-se também um jardim com laranjeiras, vestígio da Mesquita que ali havia.

Relógio na rua principal do Centro Histórico

Desta vez, não visitei dois lugares bem interessantes: a famosa Real Escola Andaluza de Arte Equestre, que treina cavalos e cavaleiros,  e os Banhos Árabes ( Hammam Andalusi), a mais significativa influência do passado islâmico. Lamentável.

Árvore da Praça Angústias
De Jerez de la Frontera, viajei para Cadiz, um percurso bem mais curto -  faz-se em 40 minutos de trem. Já estava um pouco cansada e muito sensibilizada com o que vira e o que aprendera nesses dias. Mundo bonito esse nosso! lamentável que sejam as pessoas a destruí-lo e a torná-lo por vezes difícil e até inabitável em alguns lugares. Lamentável também que a relações interpessoais sejam pouco amistosas e solidárias numa travessia que termina para todos. Tudo poderia ser mais simples, se o ter não superasse o ser.

Centro de Jerez

"Se eu sentir sono
E quiser dormir,
Naquele abandono
Que é o  não sentir,

Quero que aconteça
Quando eu estiver
Pousando a cabeça
Num chão qualquer,

Mas onde sob ramos
Uma árvore faz
A sombra em que achamos
A sombra da paz."

Fernando Pessoa


Palmeiras no Alcázar


Córdoba - 2a.parte


Mesquita/Catedral de Córdoba:
A Mesquita/Catedral de Córdoba é símbolo do maior esplendor da cidade e uma mostra da superposição de civilizações que se sucederam neste lugar, como se pode constatar pela  cronologia seguinte.

Campanário com seus 93 metros de altura
No ano 600, fundou-se a igreja cristã-visigoda de São Vicente, no lugar onde hoje está a Mesquita/Catedral. Em 785, o emir Abderramán I a converteu em Mesquita. De 822 a 987, fazem-se nela ampliações e embelezamentos.

Imponente e multicolorida
Em 1236, depois da tomada de Córdoba por Fernando III de Castilla, convertem-na em templo cristão. Os cristãos , portanto,  em lugar de destruí-la, decidem transformá-la. Em 2004, o Vaticano nega o pedido feito pelos muçulmanos espanhóis para celebrar ali ofícios religiosos. Hoje seguramente ela é a maior atração turística da cidade.

Entrada com magníficas  laranjeiras, oliveiras e palmeiras
Como Mesquita, é a maior do mundo islâmico no Ocidente. Sua superfície total alcança 24 mil metros quadrados. Está cercada por muralhas feitas com enormes pedras quadradas, onde se vêem muitas portas interessantes, como a Porta do Perdão, construída no século XIV, em estilo Mudejar - um estilo próprio da Espanha, um ponto de encontro entre o Cristianismo e o Islamismo.

Colunas e arcos em branco e terracota
Na terceira ampliação da Mesquita, feita pelo ministro Almanzor, em 987, que a deixou com o tamanho que hoje tem, havia 1013 colunas. Posteriormente, as reformas feitas para transformá-la em um templo cristão, deixaram-na com 856 colunas, as que se mantêm até hoje.

Dimensões impressionantes
Mesmo antes de entrar na Mesquita/Catedral, há muito o que ver, como o belíssimo Jardim das Laranjeiras, que se pode visitar gratuitamente, a qualquer hora. Também no interior desse templo pode-se entrar gratuitamente todas as manhãs - com exceção dos domingos - das 8h30min às 10h. Nesse período, não são permitidas as visitas de grupos - o que torna esse tempo mais sereno e acolhedor.

Sobriedade e beleza
Precisa-se de tempo e calma para ver, detalhadamente, sua parte interna, como as  capelas, cada uma com suas especificidades;  o coro, uma incorporação cristã de 1750, com impressionante teto barroco;o mihrab, um local de oração que  assinala a direção da Meca, destacando-se nele os cubos de mosaico de ouro - enfim, tudo o que promove a sensação de amplitude e infinitude.

Nas imagens, a delicadeza das cores.
Córdoba fez jus a tão bela mesquita. Era a maior cidade da Europa ocidental, com uma economia próspera, baseada na agricultura e no artesanato, e com uma população que chegou a 500 mil habitantes. Abderraman III ( 912 - 961 ) deu-lhe esplendor e sabedoria. A corte dele era frequentada por eruditos judeus, árabes e cristãos. Era um centro de saber econvivência na época e era também um lugar e peregrinação para os muçulmanos que não podiam ir à Meca ou a Jerusalém.

Riqueza de cores e variedade de estilos 
O que mais me impressionou na Mesquita/ Catedral foi a grande variedadede  de estilos e de gostos arquietônicos, resultado de todos os anos e de todas as culturas que se entrelaçaram na construção desse templo - lamentável, entretanto, que sua influência no sentido de harmonizar culturas e religiões não se transladou para o mundo, apesar dos esforços de sábios como o muçulmano Averrões e o judeu Maimónides, que muito lutaram para combater a ignorância e a intolerância.

A beleza das muitas portas da Mesquita/Catedral

Obs. No próximo mês, pretendo volver a Córdoba. Três fortes motivações carregam-me para lá: 1) o Festival de los Pátios Cordobeses, quando, além da escolha dos mais belos pátios particulares, há um intenso programa de concertos de Flamenco nas praças, pátios e jardins; 2) a visita ao Alcázar dos Reyes Cristianos e 3) assistir a um show com os cavalos andaluzes - contaram-me detalhes muito interessantes dessa apresentação.

Achados expostos no Templo
"Dorme, que a vida é nada! 
Dorme, que tudo é vão! 
Se alguém achou a estrada, 
Achou-a em confusão, 
Com a alma enganada."
Fernando Pessoa
Porta externa