domingo, julho 26, 2015

Agradecimento

Queridas pessoas

Gosto de fazer aniversário, embora não me agrade que esse evento seja anual - pois , assim sendo, a idade aumenta muito rapidamente.


Precioso, entretanto, é o recebimento de mensagens e telefonemas. Li cada palavra recordando quem a escrevera...o lugar onde morava...como eu a conhecera e como nossas histórias de vida se entrelaçavam. Foram belos e sensíveis momentos - agradeço-lhes muito por eles. Muito mesmo.Beijos

PS. A foto  acima, meu filho fez, no dia 24 mesmo, dia do meu aniversário, de surpresa e com o celular. Pela definição dela, não consegui  ampliá-la.

quarta-feira, julho 22, 2015

O Fantástico Museu Guggenheim de Bilbao

                                                                   

Tulipas - Jeff Koons
                                                      
A cidade basca de Bilbao possui um dos cinco museus, no mundo,  pertencentes à Fundação Salomon Robert Guggenheim. Salomon ( 1861 - 1949 ) nasceu na Filadélfia, nos Estados Unidos e foi educado em escolas públicas e privadas, tanto na sua cidade natal, quanto na Suíça, país de origem de Meyer Gugenheim, seu pai.

Puppy

O pai deixou-lhes uma grande e sólida empresa - a Guggenheim Brothers - dividida entre seus seis filhos. Os irmãos multiplicaram a herança. Salomon passou a colecionar obras de arte abstrata da década de vinte. A par disso, continuou com os trabalhos filantrópicos, que eram uma marca forte da empresa. Com o intuito de atingir um grande público e de divulgar a arte moderna, criou a Fundação Guggenheim, responsável hoje por museus mundialmente conhecidos.

Guggenheim de Bilbao visto desde o rio Nervion
Até este ano, são cinco os Museus mantidos pela Fundação, sendo o de Nova Iorque e o de Bilbao os mais famosos . Os dois exibem arte moderna e pós - moderna. O museu americano foi construído por Frank Lloyd Wright; o espanhol, por  Frank Gehry.

Outra perspectiva do Museu de Bilbao
A Fundação é reconhecida por contratar arquitetos famosos e por construir edifícios fantásticos e singulares, que fogem aos padrões já estabelecidos. Em razão dessa característica , existe uma crítica bastante divulgada de que os edifícios são mais famosos e mais conhecidos do que os trabalhos artísticos neles expostos.

Interessantes combinações...

Verdade que o Museu Guggenheim projetou Bilbao no panorama cultural  mundial e tornou-se um ícone da Espanha do século XX. A ideia de um grande museu na cidade nasceu no final dos anos 80, quando o governo basco, face aos problemas com a extração de ferro, decidiu diversificar as atividades econômicas através de uma requalificação da área portuária.  O país atravessava um momento bastante difícil com a crise da indústria siderúrgica.Era preciso abrir novos caminhos - tornar-se atraente para o turismo seria um deles.


Jeff Koons

Assim como a construção do Museu Guggenheim de Bilbao, surgiram muitos  -  e arrojados - projetos na cidade - aeroporto, metrô, ponte pedonal, centro cultural. Se o objetivo era a revitalização de Bilbao, pode-se afirmar que foi plenamente alcançado. Mais de um milhão de visitantes, no ano passado, viram a cidade e comentaram o Guggenheim - valeu para toda a região. Além de tudo isso, uma cidade que tem um povo hospitaleiro, gentil, agradável.
Puppy - Jeff Koons

Ouve-se , com frequência, um comentário brincalhão de que Puppy , imperdível pelas sua dimensão e colorido, foi o primeiro cachorro que ganhou uma grande casa antes mesmo de nascer. Com um sistema interno de manutenção do que seria um grandioso jardim, essa obra de Jeff Koons, à entrada principal do Museu, encanta adultos e crianças, especialmente pela originalidade e engenhosidade.



Esculturas na parte externa do Museu
Em 1992, a construção do Guggenheim de Bilbao foi iniciada. Foi concluída cinco anos mais tarde. Trabalharam, em conjunto, na elaboração do projeto, duas equipes, uma em Bilbao; outra, em Los Angeles. A grande dificuldade estava nos cálculos estruturais. Muitos especialistas questionaram sua execução em razão das formas bastante complexas. As discussões foram longas e complexas.

      

Contrastes


" Externamente, o museu é coberto por superfícies de titânio curvadas em vários pontos, que lembram escamas de um peixe, mostrando a influência das formas orgânicas presentes em muitos trabalhos de Gehry. Do átrio central, que tem 50 metros de altura e lembra uma flor cheia de curvas, partem passarelas para os três níveis de galerias. Visto do rio, o edifício parece ter a forma de um barco, homenageando a cidade portuária de Bilbao que teve bons anos de festa marítima"...www.guggenheim.org/bilbao

Interatividades
As exposições , neste museu, mudam frequentemente, mantendo, entretanto , a característica de terem sido feitas ao longo do século XX. Predominam as instalações artísticas, sendo as obras tradicionais de pintura e de escultura bem minoritárias. Somente a exposição de esculturas de aço, desenhadas por Richard Serra, é permanente.

Aço,cores,luzes
Impressiona e encanta a localização do museu. Está num terreno alongado, na curva do rio, ocupando os 32.500 m2 de uma antiga fábrica abandonada, O espaço interior, ocupado por exposições, tem 11.000m2. A revitalização proposta pelo Governo Basco procurou tornar o rio Nervion o foco do visual da cidade. A construção do museu nesse local foi ponto de partida para recuperação e valorização dessa área.
Proximidade com o rio Nervion

" O projeto do prédio segue o estilo de Frank Gehry. Inspirado nas formas e texturas de um peixe, pode ser considerada uma escultura, uma obra de arte em si. As formas não têm nenhuma razão geométrica ou governado por qualquer lei. O museu é essencialmente um shell que evoca o passado industrial e do porto de Bilbao vida , suas indústrias tradicionais , metalurgia e construção naval estão presentes nos materiais e formas: de titânio e aço , velas , barcos e peixes imenso ...."www.guggenheim.org/bilbao


Vista do lado oposto do rio

Construído em calcário , vidro e titânio,   foram usadas 33 mil peças de titânio, a  metade com um milímetro de espessura , cada uma com forma única de acordo com o seu lugar. Essas peças tão fina encaixam-se  perfeitamente nas curvas necessárias . O vidro usado teve um tratamento especial para deixar passar o sol, mas não o calor, e evitar que a luz natural pudesse danificar as exposições.O calcário usado , em tom ocre, veio de Granada. Foi, de fato, uma obra de arte delicada e complexa.


ludicidade e cor
Os Museus Guggenheim, especialmente os de Bilbao e Nova Iorque já foram concebidos para a função que exercem. Eles albergam obras de arte constituem motivo para visita às cidades onde se situam e - mais ainda - ilustram a filosofia da Fundação: “A Arquitectura em prol das Artes.”


Visitantes refletidos na escultura

"Por outras palavras, a ideia e um dos principais objectivos da fundação, para além de coleccionar peças de arte contemporanea e promover a sua divulgação, é fazer rodear a arte de mais arte, na forma do próprio museu." Material de divulgação do Museu


Arte que acolhe arte

sexta-feira, julho 17, 2015

Guernica : o Painel e a Cidade

Teto Atual da Casa de Las Juntas
" Gernika es el pueblo más feliz del mundo. Sus asuntos los gobierna una junta de campesinos que se reúne bajo un roble, y siempre toman las decisiones más justas."
Jean Jacques Rousseau ( 1712 - 1778 )

Maria e eu junto ao Roble Neto
Emocionou-me, repetidas vezes, a grande tela pintada a óleo, produzida, em 1937, por Pablo Picasso e hoje principal obra do Acervo do Museu Reina Sofia, em Madrid - a única que não se pode fotografar. Guernica é um painel que mede 7,82 m X 3,5 m - grandioso como arte e  contundente como documento histórico. Um doloroso repúdio à Guerra.

Tronco do Roble Filho
Embora Guernica me impressionasse muito como arte e como visão do artista em relação à Guerra Civil Espanhola, eu não a relacionava com um espaço específico, delimitado e real, onde tão horrendo massacre aconteceu. Quando cheguei a Bilbao, Norte da Espanha, no País Basco, meus queridos amigos Pedro e Maria esperavam-me com intensa e movimentada agenda, a qual incluía Guernica, a pequena e histórica cidade, reconstruida após cruel destruição.

Casa das Juntas
Transcreverei , a seguir, partes de um texto do professor Voltaire Schilling, gaúcho, nascido rm Porto Alegre. Ele  refere , nesse texto, à comunidade de Guernica, de forma clara, concisa e precisa, descrevendo-a tal como li, escutei e vi esse lugar tão impressionante. O texto completo está em http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/guernica_eta.htm

     
Jardim da Casa das Juntas em Guernica

"
" Era uma segunda-feira, dia de feira-livre na pequena cidade de Biscaia. Das redondezas chegavam às suas estreitas ruas os camponeses do vale de Guernica, no país dos bascos, trazendo seus produtos para o grande encontro semanal. A praça ainda estava bem movimentada quando, antes das cinco da tarde, os sinos começaram os seus badalos. Tratava-se de mais uma incursão aérea. Até aquele dia fatidico - 26 de abril de 1937 - Guernica só havia visto os aviões nazistas da Legião Condor passarem sobre ela em diregão a alvos mais importantes, situados mais além, em Bilbao. Mas aquela 2a. feira seria diferente......





.....A primeira leva de Heinkels-11 despejou sua bombas sobre a cidadezinha precisamente às 16h45min. Durante as 2h e 45 min seguintes os moradores viram o inferno desabar sobre eles. Estonteados e desesperados correram para os arredores do lugarejo onde mortíferas rajadas de matralhadora disparadas pelos caças os mataram aos magotes. No fim da jornada, contaram-se 1.654 mortos e 889 feridos, numa população não superior a 7 mil habitantes. Quase 40% haviam sido mortos ou atingidos.....



Prédio Público - detalhes em ferro


Na realidade a tragédia começou oito meses antes, na noite de 25 de julho de 1936, quando, entre um acorde e outro de uma ópera wagneriana, Hitler decidiu-se a apoiar Franco. Na semana anterior, o general espanhol havia sublevado o exército contra o governo republicano-esquerdista da Frente Popular. O Führer estava em Bayreuth para prestigiar o tradicional festival musical quando recebeu uma carta do caudilho. A solicitação era modesta. Tratava-se de saber se o governo nazista contribuiria com uma dezena de aviões de transporte e algumas armas. Hitler não hesitou. 



Pintura representando a Junta e o  Roble Pai





A escolha da pequena Guernica deveu-se a vários motivos. A cidade era um alvo fácil, sem proteção antiaérea, além de não ter uma população numerosa. Além disso abrigava um velho carvalho (Guernikako arbola) embaixo do qual os monarcas espanhóis ou seus legados, desde os tempos medievais, juravam respeitar as leis e costumes dos bascos, bem como as decisões da batzarraks (o conselho basco). Como o levante de Franco foi também contra a autonomia regional, a destruição de Guernica serviria como uma lição a todos os que imaginavam uma Espanha federalista ou descentralizada.   



Escudo de Guernica gravado em bloco de pedra


Assim, quando a notícia da dizimação provocada pelo bombardeamento "científico" chegou aos jornais provocou um frêmito de horror em todos os cantos do mundo. Quase todos os habitantes de cidades, em qualquer lugar do planeta, sentiram instintivamente que estavam sendo apresentados a um outro tipo de guerra, à guerra total, e que, doravante, por vezes, seria mais seguro estar-se numa trincheira no fronte, do que vivendo numa grande capital." 
Voltaire Schilling http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/guernica_eta.htm






Casa das Juntas


Percorri a pequena cidade de Guernica com profundo respeito e pesar. Olhando ruas, jardins, casas, igrejas e escolas, pensava na brutalidade de uma guerra, em que seres humanos , indefesos e desavisados, são mortos com tanta crueldade. A tentativa também foi de, exterminando as pessoas, exterminar uma forma de governar. 



Guernica é como uma cidade sagrada para os Bascos



Até hoje , reis e rainhas, ao serem corado, vão a Guernica, onde recebem o título de Senhor(a) de Viscaya e prometem manter as determinações da Junta. Tradição que se manteve, apesar da dor. Curiosamente , o aviso das reuniões da Junta era feito com cinco fogueiras, acesas em cinco altas montanha.



No vitral do teto, tradicionais casas do País Basco


As reuniões  eram realizadas embaixo de um grande roble ( carvalho ). Antes dessa primeira árvore morrer , foi transplantado um filhote dela, que , durante muitos anos, serviu de sombra e abrigo para novas reuniões. Hoje um jovem roble - um carvalho neto - cresce nas proximidades da bela Casa da Junta - casa onde há muito documentos históricos e um pequeno museu. Guernica foi uma das localidades mais impactantes que vi. Ainda não tenho condições de muito falar sobre ela. Recorro a Pablo Picasso e ao prof. Voltaire para encerrar esta postagem tão dolorida.



Principal Igreja de Guernica


".....Não era algo belo de ser visto. Picasso, para retratar o clima sombrio que envolvia o desastre, utilizou-se da cor negra, do cinza e do branco. Como nunca a máxima de Giulio Argan segundo a qual a "arte não é efusão lírica, é problema" tenha sido tão explicitada, como na composição de Picasso. O painel encontra-se dominado no alto pela luz de um olho-lâmpada - símbolo da mortífera tecnologia - seguida de duas figuras de animais. No centro um cavalo apavorado, em disparada, representa as forças irracionais da destruição. A direita dele, impassível, um perfil picassiano de um touro imóvel. Talvez seja símbolo da Espanha em guerra civil, impotente perante a destruição que a envolvia. Logo a baixo do touro, encontramos uma mãe com o filho morto no colo. Ela clama aos céus por uma intervenção. Trata-se da moderna pietá de Picasso. Uma figura masculina, geometricamente esquartejada, domina as partes inferiores. A direita, uma mulher, com seios expostos e grávida, voltada para a luz, implora pela vida, enquanto outra, incinerada, ergue inutilmente os braços para o vazio, enquanto uma casa arde em chamas. Naquele caos a tecnologia aparece esmagando a vida."



Guernica de Pablo Picasso. Museu Reina Sofia. Madrid


domingo, julho 12, 2015

Espanha : Festa de San Isidro

A caminho da Festa 

Ao fazer um roteiro de viagem, é aconselhável verificar os eventos próprios de cada lugar a ser visitado. Muitas vezes, por um dia, perde-se ou ganha-se uma grande festa. Madrid , por exemplo, festeja , em maio, a San Isidro, seu padroeiro. A festa transcorreu, neste ano,  no período de 14 a 17. Por sorte, eu estava lá. Festa alegre, colorida e bonita.



..... roupas tradicionais...


Ao caminhar cedinho  pelas ruas madrileñas , já  percebi o clima especialmente festivo daquele ensolarado dia. Embora Madrid seja uma  cidade que parece estar sempre em clima de festa, podia-se observar , entretanto, algumas diferenças  na direção dos transeuntes - em direção à Praça Maior - e no uso das roupas tradicionais.



...belo o colorido....


Além das roupas coloridas, os acessórios eram encantadores e usados por pessoas de todas as idades,fossem lenços, xales, flores ou joias.Lindo de ver também  as crianças ensaiando passos requintados de flamengo - bem que tentaram me ensinar, mas, com minha lamentável coordenaçao motora, não aprendi nem sequer  UM dos movimentos de mão.



...presença constante da flor vermelha nos cabelos.

"De grandeza y hermosura están llenas estas fiestas en honor de San Isidro Labrador, reflejo de esa ciudad repleta de cultura, de historia, de arte, de belleza y de lugares únicos como es Madrid. Una ciudad en donde también late con fuerza la vida y el corazón de personas que procedentes de todos los lugares de España y del mundo han convertido a Madrid en su hogar, y que Madrid está encantada de abrigar." ( Material de divulgação do governo )



Diversão para todas as idades...


Muitas são as festas preparatórias à grande festa que ocorre no dia do santo - 15 de maio. A Área de Gobierno de las Artes, Deportes y Turismo divulga , com bastante antecedência, os locais e as programações que antecedem à grande data.  As informações podem ser encontradas em www.sanisidromadrid.com



...incluindo os pequenos.


Há , por exemplo, um grande desfile de bonecos - os Gigantes y Cabezudos de Madrid - que percorrem as principais ruas da capital; há também  grandes espetáculos de jazz, soul, rock, pop e folk, além de dança , flamengo, ópera e peças teatrais,  em vários pontos da cidade. Festas para todos os gostos.



Começa a apresentação 


Em um grande palco, no centro da Praça Maior, a apresentadora deu início ao espetáculo que contou com a participação de grupos de dança, música e canto - tradicionais, é claro! -  representando cada um diferentes localidades de Madrid, que eram  identificadas -  e o seu  perfil sócio - econômico-cultural, muito bem descrito. Seguia-e, então, a apresentação com três números por grupo. Impressionou-me a diversificação e a seriedade do que traziam ao público.




Preparando-se para entrar no palco...


Milhares de pessoas - apesar do calor e do sol fortíssimos - entravam no espaço cercado onde estavam as cadeiras. A entrada era livre, mas todos seguiam, ordenadamente, por uma fila com cerca de 50 metros, até o portão de acesso. Um grande telão mostrava todo o palco, ampliando, dessa forma, a  visão do espetáculo.



Anmadas apresentações


Interessante observar que toda esta festa final acontece na Praça Maior , lugar onde ocorreu a cerimônia de canonização de San Isidro Labrador, em 1622 pelo papa Gregório XV. Nem sempre, no entanto, foram felizes  os acontecimentos e os eventos ocorridos nesse lugar, basta lembrar  os julgamentos da inquisição, que condenaram à morte cruel milhares de pessoas.



Diferentes corpos dançantes...


Isidro, o  Lavrador, santo da Igreja Católica Romana, nasceu no ano de 1070,   em Madrid, e morreu, também em Madrid, em 15 de maio de 1130. É o principal padroeiro de sua cidade natal e dos lavradores. Foi canonizado em 1622 com base em relatos de seus milagres e a pedido do rei da época.



Ritmo e cor bem madrileños


Durante a festa, lembrei-me da Dra. Lúcia Matos - uma grande e querida amiga - professora no Curso de Dança , na Universidade Federal da Bahia. Reconheço , na Lúcia, o pioneirismo e a dedicação com que sempre trabalhou  a multiplicidade de diferentes corpos dançantes. Comoveu-me , ainda mais com essa lembrança, o belo espetáculo a que assisti na Plaza Mayor.



Final da Festa de 2015


Um pouco antes da última apresentação, minha amiga Duda e eu, pressionadas pelo sol fortíssimo, caminhamos na direção a Puerta del Sol. Entramos em um típico restaurante espanhol à procura de um cocido madrileño - aquele ensopado, de origem judaica, feito com grão de bico, diferentes carnes e legumes. Encontramos lá estas belas dançarinas de um grupo que se apresentara na festa. Sinto saudades da Espanha, neste momento em que estou tentando atualizar o Correndomundo.




Após a festa....


" Nem sempre sou igual no que digo ou escrevo,
Mudo, mas não mudo muito. 
A cor das flores não é a mesa ao sol
De que quando uma nuvem dura
Ou quando fica a noite
E as flores são cor da lembrança."

Fernando Pessoa

Em 15 de maio de 2015.

quarta-feira, julho 08, 2015

Espanha/Porto Alegre/Alegrete/Rosario do Sul/Porto Alegre

Madrid
Uma amiga me chamava pelo nome de uma florzinha que cria raizes em pouco tempo, em qualquer lugar, porque, segundo ela,  eu criava raízes tal qual essa plantinha. Concordo. Não sinto falta da minha cama, do meu travesseiro, do arroz e feijão, do cotidiano, nada.... E mais, sinto sempre uma certa nostalgia ao retornar ...

Exposição no Museu do Prado
Assim foi, mais uma vez, com a Espanha. Parti pensando em retornar. Vim pela TAP - não gosto de viagens noturnas e prefiro não fazer conexão em Guarulhos ou qualquer outro aeroporto. Sim! precisei fazer uma rápida conexão em Lisboa. Durante as 11 horas de viagem - LIS/POA - assisti a quatro filmes - lançamentos bem recentes - almocei, jantei e cheguei às 19h. Voo muito tranquilo, para alguém- como eu - que ainda tem medo de avião. Foi um feliz retorno, com meu irmão, minha sobrinha e meu filho esperando-me no aeroporto.

Prefeitura de Alegrete
De POA , fui para Alegrete. Difícil o frio, assim, de repente.  Em tão pouco tempo, nem cheguei a percorrer essa cidade que considero minha. Vi poucos amigos. Saí, entretanto, feliz porque a encontrei bem cuidada, com parques e praças bem bonitos, apesar do rigor do inverno, e com muitas obras em andamento. Estive na Feira Anual do Livro, onde vi muitos amigos e encantei-me com o grande número de estudantes que visitavam a Feira.

Uma das entradas da Praça Getúlio Vargas em Alegrete

Alegrete , o maior município em extensão territorial do Rio Grande do Sul, com cerca 80 mil habitantes, é realmente uma bela cidade, para mim, plena de lembranças. Fotografei o Instituto de Educação Osvaldo Aranha e a Faculdade - neles  fui aluna e , depois, professora; o Divino Coração, o Emílio Zuñeda, e as escolas municipais, onde também ensinei. Considero-me alegretense por ter ganho esse título da Câmara de Vereadores, há mais de 20 anos. Orgulho-me de ter essa cidadania.


Trabalho de Ronald Mckinney na Bela União

De Alegrete, vim para Bela União, antiga propriedade de meus pais e  onde nasci há muitooooossss anos. Meu pai nasceu em 1909;  minha mãe , em 1911. Casaram e vieram morar neste lugar,uma parte da fazenda de meu avô italiano. Estava ela com 18 anos; ele, com 21. Tiverm sete filhos, em que  eu sou a do meio! Construíram uma casa com pedras unidas por barro - paredes com 80 cm de largura - num lugar em meio a serras e matos - natureza e beleza agreste e rara.

Entrada da Bela União
Meu pai morreu em 1954. Em 1997, após a morte de minha mãe, que já estava na cidade,  a casa da Bela União e seu entorno foram totalmente reconstruídos por mim, até com resgate de árvores outrora existentes no lugar. Por um acordo feito, a propriedade será administrada pela geração dos herdeiros atuais e só terá  interferência da geração seguinte  - futuros herdeiros - quando os atuais não mais existissem. 

Bela União
Hoje, Bela União tem mais de 400 árvores frutíferas, belos jardins e muitas árvores ornamentais. Produz variedade de frutas, como pêssegos, marmelos, figos, peras, caquis, laranjas, limas, bergamotas, uvas, amoras, pitangas, maçãs e framboesas. Lugar abençoado, como dizia Anália Pinto Menine.
Geada grande - foto às 8h30min
Muitas vezes  ouvi minha mãe - uma mulher bastante lúcida e generosa - dizer: Ai de quem deixar minha velha casa cair. A casa não caiu. O lugar continua muito bonito. Trabalhei e gastei muito para isso.Os herdeiros futuros saberão preservá-la. Acredito ser essa a forma mais efetiva de respeitar e preservar a memória de nossos antepassados.

Renildo  e Mile
Da Bela União, fui a Rosário do Sul, visitar minha irmã mais velha, que fez uma cirurgia bastante delicada. Encontrei-a ativa como sempre foi. Além de atividades da casa, que ela insiste em continuar fazendo, nos intervalos borda e faz crochê. Conserva o senso de humor, valoriza a vida de cada dia, é gentil e atenciosa - um admirável exemplo.

Rio Santa Maria - Rosário do Sul
O trecho Rosário do Sul - Porto Alegre é longo e cansativo : mais de seis horas, numa estrada sem grandes atrativos. Ontem chovia e fazia frio, tornando-o pior ainda. Sobrou-me tempo para pensar e sentir doídas saudades, especialmente de Ronald. Estou, no entanto, tranquila. Foram dias proveitosos, com muitas obrigações  cumpridas. Agora, em Porto Alegre, organizo-me para voltar a Torres. A vida continua - sem pressa, mas sem pausa. 

Anoitecer na Bela União

PS. Alguém pode ajudar-me com informações ( urgentes )sobre visto, hoteis e voos para Cuba, partindo dos Estados Unidos? E Jamaica ? Please!

Camélias antigas na Bela União
"No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
Tempo de camélias

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida."
Fernando Pessoa
...camélias de diferentes cores.