sexta-feira, outubro 31, 2014

Giverny: os Jardins de Monet


                            Todas as fotos são dos Jardins de Monet em Giverny


Emocionada e fascinada pela beleza do lugar, das plantas, das flores  - ainda que estivéssemos no mês de outubro, já distante da primavera - lembrei-me, ao percorrer os Jardins de Monet, do texto de Eduardo Galeano, in Livro dos Abraços:



Águas e flores : perfeita integração
"Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: 
- Me ajuda a olhar! "



 Ponte Japonesa


Lembrei-me de Ronald e de muitas outras pessoas  que eu queria tanto que me ajudassem a olhar a casa, os jardins, os espelhos d´agua, as árvores, as flores e as cores - enfim, os quadros vivos de Monet.

A casa onde viveu Monet


Giverny está localizada na Alta - Normandia, a 75 km de Paris. É uma pequena comunidade , com pouco mais de 500 habitantes. Muito conhecida e famosa, entretanto, por abrigar a casa e os jardins e Claude Monet ( Paris 14-11-1840; Giverny 05-12-1926 ), o mais célebre dos impressionistas.

Harmonia

Apaixonado pela cultura japonesa, Monet deixou em sua casa muitas gravuras e objetos procedentes desse país - e a influência em alguns equipamentos do Jardim. Quando foi morar em Giverny, Monet e sua esposa tinham apenas o terreno que rodeia a casa. Nele, ela começou a fazer um jardim, e ele, então, tomou gosto pela jardinagem e dedicou-se a estudar botânica.





Era preciso combinar as cores, harmonizar a altura de cada planta, da menor para a maior, saber o período de floração de cada uma delas, para que sempre houvesse flores no jardim.Era preciso estudar muito para ter esse resultado.




Com a compra de um outro terreno, defronte à casa deles, mas no outro lado da rua, Monet ganhou mais espaço e pode ampliar seu jardim e incluir nele novos elementos, como a ponte japonesa.Mais tarde, um túnel foi construído, e a rua que passava entre os dois terrenos, tornou-se parte do jardim.






Passou ele, então, a pintar uma série de quadros, que mostravam a beleza de sua propriedade, em diferentes estações do ano, consequentemente com luzes e cores diferentes. Reproduzia os jardins com suas múltiplas cores e formas, os lagos , a pequena ponte e a exuberância do verde. Sucesso para a posteridade. Sucesso sempre.



 


Há diferentes formas de chegar aos jardins. Pode-se partir da Gare Saint Lazare e ir pela RER ( Rede Ferroviária Urbana) até Vermon. Faz-se o trajeto em 40 minutos, e o valor do bilhete, ida e volta, é em torno de 30 euros.Ao chegar a Vernon, toma-se um táxi ou um ônibus - ou percorre caminhando os seis quilômetros até a casa onde morou Monet.






É possível também ir de bicicleta alugada! Achei um pouco cansativo e complicado essas opções todas. Acabei escolhendo outra, menos econômica mas muito fácil e agradável. Entrei em contato com Patrícia , uma brasileira casada com João Pedro, um português.





Eles mantêm um empresa de transporte para viagens no interior da França, especialmente familiares, com um máximo de 6 pessoas. Buscam e levam ao hotel. São pessoas sérias, agradáveis e bem informadas. A empresa é a NAVParis. Encontrei-os, por sorte, no Santo Google. Recomendo o passeio e a empresa.





" Nos seixos ou pedregulhos
Que saem neste ribeiro
Bate a água e faz barulhos
Fora do barulho inteiro.




Esquecido até de que a vejo
Contemplo-a e nem penso em mim.
Não sonho, não me prevejo,
Não sei de causa ou de fim.






Brandos sons de enrolamento
Que as águas fazem estorvadas.
Tomara eu que o pensamento
Fosse flores petaladas.



Cleber, meu sobrinho, Patricia e eu.

Folha a folha, e flor a flor
Ia-as deixando cair
Nas águas sem ter teor,
Na ida que não quero ir.





Que, ainda que esse conceito
Seja só suposição,
Que faço eu com mais jeito?
Que entendo com mais razão?"

Fernando Pessoa


São proibidas fotos no interior da casa.



sábado, outubro 25, 2014

Lisboa ... outra vez?


Sempre o visito: Fernando Pessoa

Ainda que goste muito de Lisboa - e de Portugal todo, incluindo as ilhas - eu seria hipócrita se omitisse a razão fundamental por que viajo com tanta frequência para esse país. Eu conto para vocês.... odeio conexões! O voo direto da TAP,  Porto Alegre / Lisboa, é , portanto, minha maior motivação para chegar à terra de Fernando Pessoa.


Bacalhau com batatas ao murro...Restaurante Nicola
Chegando em Lisboa, assim, diretamente, sem conexões, junto o bom ao bem bom...Caminho pela cidade, ando de elétrico, vasculho livrarias, como bacalhau e pasteis de nata, escuto fado, percorro avenidas, discuto política com os portugueses e acabamos sempre falando sobre literatura. De lá, com calma, parto para outros países.Desta vez, fiz somente dois trechos internos de avião - os demais foram feitos de trem.

Feira da Ladra...aos sábados,em Lisboa.
As informações sobre Portugal e suas principais atrações são constantes em qualquer meio de comunicação. Não é necessário que eu escreva algo mais. Apenas acrescento aqui um texto do Livro do Desassossego e umas fotos desta última viagem.

Homenagem ao Fado
" Viajar? Para viajar basta existir. Vou de dia para dia, como de estação para estação, no comboio do meu corpo, ou do meu destino, debruçado sobre as ruas e as praças, sobre os gestos e os rostos, sempre iguais e sempre diferentes, como, afinal, as paisagens são.

Detalhe do Centro Histórico de Lisboa
Se imagino, vejo. Que mais faço eu se viajo? Só a fraqueza extrema da imaginação justifica que se tenha que deslocar para sentir."" Qualquer estrada, esta mesma estrada de Entepfuhl, te levará até o fim do mundo.""

Detalhe da Fonte
Mas o fim do mundo, desde que o mundo se consumou dando-lhe a volta, é o mesmo Entepfuhl de onde se partiu.Na realidade, o fim do mundo, como o princípio, é o nosso conceito de mundo.É em nós que as paisagens têm paisagem.

Sempre as pombas....
Por isso, se as imagino,as crio; se as crio,são; vejo-as como às outras.Para quê viajar? Em Madrid,em Berlim,na Pérsia, na China, nos Polos ambos, onde estaria eu senão em mim mesmo, e no tipo e gênero das minhas sensações?

Estação Oriente
 A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos."

Fernando Pessoa


Escultura de Rogério Timóteo

quarta-feira, outubro 22, 2014

Lago di Garda: Bardolino

Marina de Bardolino
Gosto muitíssimo do Lago di Garda. Em março/abril deste ano, estive lá durante duas semanas. Escrevi, no correndomundo, sobre o lago em geral e sobre algumas cidades, tais como Saló, Gardone, Garda, Lazise, Malcesine e Sirmione, a minha preferida. Faltava-me, no entanto, visitar Bardolino - o que fiz desta vez.

Monumentos aos mortos em todas as guerras

Estava hospedada no Luna, um hotel de que gosto muito, situado no centro de Sirmione, de onde se pode ir a  Bardolino - ou a qualquer outra cidade do Lago - em barcos que atracam, nos pequenos portos de cada cidade,  de hora em hora. Bilhetes podem ser comprados para uma cidade específica ou para todo o dia. Essa modalidade diária permite visitar , com o mesmo bilhete,  a mais de uma localidade.

Elegância e simplicidade
Cidade medieval que empresta seu nome a vinhos bem conhecidos e prestigiados, está situada na margem do lago que pertence a Verona. Acaso, sorte e notícia de última hora, fez-nos arrivare a Bardolino durante a Festa Anual do Vinho. Chegamos pela manhã num barco bastante lotado e encontramos a cidade com muitos visitantes e dezenas de postos de venda dos produtos típicos da região.

Lavanda entre os produtos típicos do Lago
Bardolino, comuna italiana da região do Vêneto, província de Verona,  é  centro turístico e balneário, situado entre Garda e Lazise, com pouco mais de seis mil habitantes, e uma área de de 54,82 km2. A cidade é famosa pelos seus vinhos, pelo  castelo do mesmo nome construído no século IX e pelo centro histórico e bonito e bem conservado. Tem um  desenho urbano  bastante peculiar, porque suas ruas vão , na direção do lago, em forma de espinha de peixe.Bem interessante.

A porchetta e seu indispensável alecrim

Come-se bem em Bardolino, como de resto em todo o pais. Algumas especialidades mudam um pouco de região para região, mas sempre se pode encontrá-las - e discutir onde ela é melhor. É o caso da porchetta, que, com pão e vinho, transforma-se na minha refeição preferida. Eu a conheci em Braciano - já faz alguns anos. Foi-me apresentada por Lídia, minha querida amiga, moradora da região.
Muitas flores e muito verde na cidade

Há muitas receitas de porchetta na internet. Selecionei, na lista seguinte, apenas os ingredientes básicos para preparar esse prato tão tradicional na Itália.
 1 lateral de leitão desossada , sem a paleta e o pernil
 Erva-doce, ramos de alecrim, folhas de manjericão, folhas de sálvia, pimenta,sal e alho.
 Suco de limão,aceto balsâmico ou vinagre de vinho tinto.
 Fatias finas de pancetta ou bacon, azeite de oliva e caldo de carne.
 Barbante para amarrar e papel-alumínio.

Detalhes do Centro Histórico
Disseram-me que os bons passeios nesta cidade, vão além do traçado urbano, da igreja de San Zeno e a de San Severo. Estendem-se pelos campos do município, onde está a rota dos vinhos, considerados os melhores do Vêneto - como o prestigiado Bardolino. Nessa rota, encontra-se o Museu do Vinho, que só recebe visitantes durante o verão. A cidade oferece hospedagem em hotéis de duas a cinco estrelas e há e muitos restaurantes e sorveterias fantásticos. A paisagem que a circunda inspira delicadeza e tranquilidade.

Meu sobrinho em Bardolino

" Na grande claridade do dia, o sossego dos sons é de ouro também. Há suavidade no que acontece. Se me dissessem que havia guerra, eu diria que não havia guerra. Num dia assim, nada pode haver que pese sobre não haver senão suavidade."

Fernando Pessoa

domingo, outubro 19, 2014

Inhotim: natureza, cultura e sensibilidade.

Bromélias gigantes

Senhor - sinhô - nhô, forma reduzida do tratamento que os escravos usavam para referir-se aos patrões, como ao britânico Senhor Tim - Inhotim - antigo dono da fazenda em que está hoje um grandioso jardim-museu-parque-galeria de arte ou ... a denominação que o visitante, certamente fascinado, surpreso e encantado, decidir dar-lhe.

Inesquecíveis recantos....em todos os cantos

Localizado no município de Brumadinho, 60 km a sudoeste de Belo Horizonte, Inhotim tornou-se de tal maneira uma visita imprescindível que, no último ano, foi visto por 350 mil turistas. E não é fácil vencer esses 60 km e chegar até ele. Leva-se cerca de duas horas de carro, partindo da capital. Enfrenta-se uma estrada tortuosa, estreita e com asfalto muito ruim - a beleza do que se vê desde a chegada, entretanto, realmente compensa .

Informações básicas na chegada
O jardim botânico de Inhotim, com cem hectares, não é um desses jardins que usualmente se denomina botânico ...apesar de fazer realmente jus a essa denominação.  Pelas muitas obras de arte espalhadas entre as plantas, pensa-se numa mescla de galeria de arte com jardim ou vice-versa.A propriedade toda tem 20,23 km2 e a maior coleção de palmeiras do mundo. Acrescente-se, ainda, outra coleção: 4500 espécies nativas e exóticas,  a maior  de espécies vivas do Brasil.

Surpresas a cada instante...
Por toda a área, esculturas de grandes dimensões estão instaladas ao ar livre e perfeitamente integradas à natureza - como só Roberto Burle Marx consegue fazer. O famoso paisagista é o consultor informal de Inhotim. Interessante saber que o grande acervo de obras de arte desse local está comprado, mas não está ali porque está sendo produzido. Isso faz do local um centro de arte contemporânea em constante ampliação e construção.

Escultura mobiliária de Hugo França
Originalíssimos os grandes bancos  distribuídos pelos jardins. Cada um com forma própria, eles são muitos e são belíssimos. Esculpidos por um designer gaúcho, Hugo França, nascido em Porto Alegre, em 1954. Mudou-se, entretanto, para Trancoso, na Bahia, para viver mais próximo da natureza. Percebendo o desperdício na extração e uso da madeira, no final dos anos 1980, passou a desenvolver, com esses restos de madeira, suas fantásticas  esculturas mobiliárias.

 
Outra escultura mobiliária de Hugo França
No www.hugofranca.com.br , conheci mais desse artista e de suas obras. De lá, copiei o texto seguinte: As peças criadas pelo designer nascem de um diálogo criativo com a matéria-prima: tudo começa e termina na árvore. Ela é a sua inspiração; suas formas, buracos, rachaduras, marcas de queimada e da ação do tempo provocam sua sensibilidade e o conduzem a um desenho cuidadosamente escolhido, uma intervenção mínima que gera peças únicas.

Típica residência do interior mineiro
Entre os equipamentos, integrados perfeitamente à paisagem, está esta pequena casa, onde a cozinha é o espaço maior e por onde se entra na casa. Criações como essa, surpreendem - nos a todo o momento. A arquitetura orgânica é ponto forte também, pois reflete a sensibilidade na relação natureza-arte-cultura. Além de tudo isso, mantém uma programação regular de artes performativas - dança, teatro e música- um projeto de desenvolvimento social e territorial, visando à promoção da memória e do artesanato locais.

Escultura integrante de um grupo conjugado de três

Já conheci outros locais como esse - lembro de um na Ilha da Madeira - que têm como proprietário, um homem rico o suficiente para bancar o projeto todo e sensível e culto o suficiente para formatar-lhe dessa maneira. Bernardo Paz comprou a antiga fazenda do senhor Tim, pensando em usá-la nas férias e em alguns fins de semana. 

Orquídeas do Brasil e do mundo
Depois, em parte pela influência de amigos, como o próprio Burle Marx, tornou-a um projeto grandioso e abriu-a ao público em 2006. Sucesso total. Hoje Bernardo tem 64 anos, fama de culto, sensível e solitário - apesar de seus seis casamentos e de sete filhos. 

Bom gosto até nas informações

No local, também harmonicamente distribuídos, há restaurantes, com especialidades e preços diversos, cafeterias e uma belíssima Loja Botânica. Na Estrada Real,em Brumadinho, muito perto de Inhotim, há diversas pousadas e pequenos hotéis. Encontram-se, ainda, nas proximidades, hospedagens em fazendas e pousadas, alguns com vistas privilegiadas para vales  e Serras. No interior de Inhotim, está sendo construído um luxuoso hotel cinco estrelas.

Muitos lagos com cisnes e patinhos: alegria da criançada
Inhotim é , com certeza, um programa para todas as gentes... românticos namorados, velhos casais, adolescentes inquietos e crianças sedentas de natureza e novidades. Há transporte interno, embora o bom mesmo sejam as longas caminhadas, que não se tornam monótonas pela diversidade e variedade das visões oferecidas. As descobertas e reflexões, proporcionadas pelas esculturas gigantes, surpreendem e emocionam. Longa vida ao Senhor Tim - o nosso Bernardo Paz. Tim-Tim!

Parede inteira de arte e cultura local

" Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
......
Jardim de cactos e suculentas
.....
Com filosofia não há árvores: há idéias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela."

Fernando Pessoa


sábado, outubro 18, 2014

Em casa - finalmente!

Em Inhotim - meu próximo texto

Após retornar dos Estados Unidos, onde havia participado , em  Paxton, de uma cerimônia em memória de Ronald, estive uns dias em Atlanta com meu filho, minha nora e meu neto, procurando refazer-me emocional e fisicamente. Estes meses me foram tão tristes e doloridos, que ainda não quero falar sobre eles. 

Sete de Setembro em Ouro Preto
Já em casa , em Torres, mesmo sentindo, de forma intensa e contínua, a dor da ausência que começava a transformar-se numa saudade sem esperança, decidi construir um plano para minha vida, até janeiro de 2015 - embora eu saiba que, tantas vezes, o homem planeja e Deus dá risada, como diz o provérbio ídiche.

Zeli, minha irmã.
O primeiro projeto , apenas assumido por mim já que foi construído pela Zeli, minha irmã, foi o de conhecer as cidades históricas de Minas Gerais. Eu já as visitara, muito rapidamente, quando ia participar de reuniões de trabalho em universidades. Dessa vez, entretanto, o nosso objetivo era mesmo o de conhecer bem as cidades que visitaríamos. 

Cleber, meu sobrinho, em Orvieto.
Sobre Ouro Preto já escrevi aqui no Correndomundo, ainda quando estávamos em Minas. Sobre as demais cidades, recomeço a escrever a partir de hoje -  sem ordem cronológica e intercaladas com outras cidades da viagem seguinte, realizada com meu sobrinho Cléber Menine Severo, durante um mês, por alguns países europeus. 

Outono, nos jardins de Monet.
Prometo - mais a mim mesma que a meus possíveis leitores - que , antes da próxima viagem, na metade de dezembro, escreverei sobre as cidades históricas de Minas e sobre as cidades europeias visitadas.Prometo!

Outono !
"Toda a paz da natureza sem gente
Vem sentar-se ao meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
............................................................
Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso."

Fernando Pessoa