sábado, novembro 30, 2013

"Bahia que não me sai do pensamento..."

Chegada em Salvador pela orla
São fortes meus vínculos histórico - afetivos com este Estado, que conheço há quase quarenta anos. Morei em Salvador durante sete anos. Viajei muito para o interior, onde estão meus lugares preferidos e minhas melhores recordações. Hoje vivem aqui meu filho caçula, muitos amigos e alguns afilhados. Retorno sempre que posso. E, quando retorno, faço um recorrido por meus espaços favoritos. 

Salvador visto de São Lázaro.
Ondina, bairro em que morei e aprendi a viver o carnaval baiano, tem , entre seus encantos, que são muitos, a proximidade com a Igreja de São Lázaro, onde dentro dela se reza Pai-Nosso e Ave Maria e, em frente a ela, pode-se tomar banho de pipoca, a flor do milho, num ritual de Candomblé, com a bênção dos Santos e dos Orixás.Sincretismo perfeito. As baianas que realizam o banho de pipoca, atualmente só estão lá às segundas-feiras e em datas especiais.

Altar da Igreja de São Lázaro

As Gordinhas, representando a mulher branca, a índia e a negra,   constituem uma atração da avenida Adhemar de Barros, em Ondina. Feitas em bronze pela artista plástica Eliana Kértsz, pesam cerca de uma tonelada e medem três metros de altura. São charmosas, exuberantes e muito fotografadas.  Eu morava num aparthotel em frente às esculturas, o que levava  Albertino, meu querido amigo baiano, a chamar esse espaço  de aldemário - as gordas + eu.

Uma das gordas de Ondina

Na mesma avenida Adhemar de Barros, está a Residência das Filhas do Coração de Maria, congregação religiosa mantenedora da Faculdade Social da Bahia e do tradicional Colégio ISBA. Lembro, com saudades, de Estelinha e Antonieta - já falecidas - e de Anajar, Maria Alice, Nilza, Francemi, Lélia, Noêmia, Gervis e Alis... Morar um ano na Residência foi  aprendizado intenso de um viver muito diferente do meu.

Vista desde o Alto de Ondina
Rio Vermelho lembra os escritores Jorge Amado e Zélia Gattai; lembra esculturas, painéis e muito verde. Aqui vivia também Carlinhos Brown , na rua Barro Vermelho, numa grande casa, com fundos para o mar. No  lugar dessa casa, está sendo agora construído um grande edifício , cuja cobertura - dizem -  pertencerá a Brown. A rua Barro Vermelho fica próxima à rua Fonte do Boi - encantam-me os nomes de ruas,bares e restaurantes baianos.
Praia do Buracão
Também na Barro Vermelho, próximo a Praia do Buracão, onde era a antiga maternidade do Bairro, constroem-se um novo complexo residencial e um hotel de bandeira ainda não divulgada. Bairro boêmio de Salvador,  Rio Vermelho concentra  bares e botecos, hotéis, restaurantes e as melhores baianas de acarajé , como Cira e Dinha.
Dique do Tororó
O Dique do Tororó, revitalizado para receber, na Arena Fonte Nova, a Copa das Confederações e a Copa  do Mundo em 2014, tornou-se visita obrigatória. Os Orixás continuam a embelezar a área e a atrair devotos, visitantes, turistas e andarilhos.

Orixás no Dique do Tororó
A Itaipava Arena Fonte Nova, inaugurada oficialmente em 5 de abril de 2013, recebeu seu primeiro jogo no dia 7 seguinte, quando se enfrentaram os tradicionais rivais , Bahia e Vitoria. Nao tivemos sorte: Bahia, o meu time, perdeu ... feio! A capacidade da Arena e de 52 mil pessoas. Até agora, o recorde de público foi no jogo Brasil e Itália, na Copa das Confederacoes.

Itaipava Arena Fonte Nova
Fundada em 1931 pelo italiano Mario Tosta, a Sorveteria da Ribeira, no Largo da Ribeira,  tornou-se tradicional endereço incluído nas agendas de visita à cidade. Ambiente simples, decorado com azulejos, preserva a fórmula dos seus famosos sorvetes, feitos com frutas frescas, descascadas manualmente, sem uso de corantes e conservantes. Usam-se produtos regionais, como cajá, cajarana, mangaba, tamarindo, biri-biri, coco, goiaba e pinha. Mantém preços comuns a qualquer similar industrializado.Comenta-se que, nos fins de semana, seus clientes ultrapassam a três mil, que podem , ainda, encantar-se com a vista de águas e de  barquinhos e de árvores frondosas bem na frente do prédio da sorveteria.
Meu delicioso sorvete de coco e goiaba
Desde quando eu morava em Salvador, a Perini - seja padaria, confeitaria, cafeteria,mercado ou delicatessen - foi meu endereço preferido para compras de alimentos especiais ou mesmo para tomar um café . Com várias localizações , a Perini da Pituba tornou-se a minha preferida. Lá posso encontrar variedade de queijos, pães, frutas, legumes, vinhos e especiarias internacionais. Posso comprar também produtos regionais, como banana da terra, jiló, quiabo, maxixe. Uma festa de formas,cores e aromas.

Perini do Barra
Quando vim morar em Salvador, elaborei, em conjunto com meu filho, uma relação dos restaurantes que nos diziam ser os melhores da cidade. Seguimos ordenadamente, experimentando cada um deles e fazendo anotações que nos possibilitavam uma avaliação criteriosa. Ao final de seis meses, estava concluida a árdua tarefa a que nos propunhamos.

Orla de Salvador
Elegemos, como nossos favoritos, Boi Preto, Iemanjá, Maria Mata Mouro, Paraiso Tropical  e o vegetariano Manjericão. Com alegria, passado vários anos, fico sabendo que esses restaurantes continuam a existir e a figurar na lista dos melhores.Não estou incluindo restaurantes de cadeias internacionais, como o australiano Outback. Registre-se que a comida de boteco, na Bahia, é também deliciosa.

Outback do Shopping Barra
Fui com Adriana na CEASinha do Rio Vermelho, que atualmente recebe ampliação, melhorias e reconstruções. É um lugar lindo de ver  e bom para  fazer compras, especialmente de produtos regionais, como frutas - caju, manga, acerola, seriguela, umbu, pinha e coco - legumes, verduras, flores, biscoitos e doces. Nunca saio de lá sem farinha de mandioca ( amarela) , pimentas diversas,  feijão verde e biscoitinhos e geleias apimentadas. É a hora também de conversar sobre economia regional com os pequenos produtores e  de escutar expressões típicas do local. Belo passeio.

Minha nora na Ceasa do Rio Vermelho
Senti-me triste com  o desaparecimento do Clube Espanhol. Era um espaço tradicional, belíssimo, amplo, onde se podia almoçar em bons restaurantes e de onde se podia ver a baía com seus recortes e cores. No lugar do Espanhol, um edifício muito grande , com apartamentos caríssimos, e que nada de especial acrescentou àquela área nobre. Pedi ao Senhor do Bonfim para proteger e preservar  essa cidade tão linda .

Senhor do Bonfim, protege Salvador!

Os Terreiros constituem  atração fascinante de Salvador, cidade em que cerca de 80% de seus habitantes descendem de africanos - origem que se manifesta na beleza do povo, na expressão da cultura e na forma de organização social. As religiões de matriz africana são presença forte no cotidiano da Bahia. Desta vez, não fui a nenhum terreiro porque estava muito calor e meu tempo era escasso. Ao passar pela Vasco da Gama, lembrei-me, com saudades, das festas de Erê a que eu assistia ali, na casa Branca. A localização dos terreiros pode ser encontrada no www.terreiros.ceao.ufba.br Visita imperdível!

Detalhe da orla na Avenida Oceânica

Quem visita a Bahia, visita o Bonfim - nao só a Colina, mas também a Igreja.  Lembro-me de colegas e amigos, que,  quando trocavam de carro, o primeiro passeio  era ao Bonfim - pedir proteção e agradecer. E mesmo um lugar especial. Se não há devoção, há um entorno belissimo com a vista da Igreja,  da baia e da Ponta de Humaitá. Importa , no entanto, ter muita paciência com os vendedores de fitinhas,rosários, medalhas e muitas quinquilharias mais. Sem paciência, perde-se o bom humor - o que e sempre lamentável.

Igreja do Bonfim

Para quem gosta de compras e comprinhas,  Salvador oferece muitas alternativas nos shoppings locais.O Shopping Barra, está turisticamente muito bem localizado e tem ótimos restaurantes.  O Iguatemi é grande, com ampla oferta de cinemas e serviços e com uma particularidade :  uma certa identificação dos andares com faixas de renda. O Salvador Shopping , próximo à Tancredo Neves, destaca -  se  pela presença de grifes mais exclusivas.Há, ainda, outros tantos , como  Itaigara,  Salvador Norte, Center Lapa, Piedade e Bela Vista.
Decoração de Natal no Shopping Barra

A novidade da vez , em Salvador, 'e o Outlet Premium, já em pleno funcionamento, localizado no km 12,5  da Estrada do Coco, direção Camaçari. Nao estive lá, mas as informações que tenho, dão conta de  um espaço bastante vantajoso para compra de grifes nacionais  e internacionais, como Lacoste, Nike, Calvin Klein e Náutica. Compro cada vez menos ... e somente o necessário, razão por que não incluo esses espaços nas minhas visitas.

Ronald e Josemir no Alto de Ondina

No final de mais esta andarilhagem pela Bahia, um agradecimento especial a Josemir. Há mais de 10 anos, ele nos conduz com segurança e nos atualiza com as mudanças locais. Pessoa íntegra que, com simplicidade, pontualidade e paciência, acompanha a todos nossos amigos e familiares, moradores ou visitantes na Terra do Senhor do Bonfim. Sempre nos  espera e nos leva ao aeroporto e faz conosco roteiros por Salvador e pelas cidades vizinhas. Mais que um taxista, é um amigo de quem gostamos muito.Os telefones dele são:(71) 8894 9401 / (71) 93023729.

Largo da Ribeira

Saio daqui pensando em voltar. Saio sentindo saudades do que vi desta vez e do que não consegui ver. Gostaria de ter ido à Casa do Sol, em Cajazeira 5,  e ao Kilombo do Kioiô, na  Suburbana,  lugares que muito acrescentaram à minha história de vida. Gostaria de ter caminhado , sem rumo definido, por todo o Pelourinho; de visitar museus e de ir a teatros; de ter passeado de barco,  vendo a silhueta da cidade afastar-se ou aproximar-se.

Itapoã - Pedra da Sereia
Enfim, gostaria de ter permanecido por mais tempo e ter ido para o interior.Saio sem ter conversado com amigos muito queridos, sem ao menos tê-los visto. Uma semana é muito pouco, priorizei, por isso,  o convívio com meu filho, que, como eu, traça Salvador e ama a Bahia.

"Iansã cadê Ogum? "

quarta-feira, novembro 20, 2013

" Lá vou eu..."

 


Retornar à Bahia é sempre uma festa. Desta vez, ficaremos somente em Salvador. Farei um post e contarei as novidades soteropolitanas. " Soteropolitano é o gentílico usado para o indivíduo que nasce em Salvador, no estado da Bahia, o nome vem do grego após a tradução da cidade de Salvador para Soterópolis (cidade de Salvador). A partir dalí veio o gentílico. Soterópolis foi uma antiga cidade grega, erigida por seu imperador e em sua homenagem, chamado Sotero. Sotero em latim é mesmo que Salvador. Assim, temos sotero + pólis, ambos do grego e não do latim, como muitos pensam." http://pt.wikipedia.org/wiki/Soteropolitano

quinta-feira, novembro 14, 2013

Viagem a Cuba - por Paulo Menini Trindade



Primeiro, para “calibrar” meu texto com os da minha mãe, escrevo um pouco sobre minha experiência de viagens:
Fazia muito tempo que eu não ia a um país pela primeira vez. Geralmente é a quarta, sexta, ou sei lá qual vez, mas não lembro da última vez que fui a um país pela primeira vez. Quase nunca viajo, como a mãe, por aventura. Não que faltem aventuras nas minhas viagens, tem  demais, mas minhas viagens geralmente são de trabalho, curtas, intensas, tensas, cansativas e de agenda cheia. Isso não é culpa do trabalho, sou eu que sofro de excesso de otimismo a respeito da minha histamina (cinco dias seguidos, das 7h da manhã até as 11 da noite é fácil!). E também sofro de mais do que um pouco de cinismo e misantropia, que eu gostaria de poder dizer que adquiri com os anos, mas a verdade é que sempre fui assim. 


Diferente da minha mãe que vê a magia que existe no mundo, eu acho que hoje em dia todas as cidades do mundo não são mais distintas umas da outras do que um shopping é diferente um do outro - quem viu um viu todos. São maiores ou menores, mais ricos ou menos ricos, com lugares enfeitados para os turistas tirarem foto na frente, mas no fundo a mesma coisa: trânsito, pressa, gente tentando fazer o que pode para pagar as contas, criar os filhos, não morrer de câncer;  gente esperando chegar a hora de ir para casa e ver a novela. 


Tragédias, comédias e farsas que se repetem milhões de vezes todos os dias, e que não são menos épicas por isso, mas não são novidades. Ir para Havana me fez pensar em um texto do Luís Fernando Veríssimo em que ele sugeria que qualquer projeto deveria ter um “deslumbrado” na equipe. Alcançamos nossos objetivos? Chama o deslumbrado! O deslumbrado diz Ohhh, Ahhh... e desmaia - dá a devida importância para a coisa. Talvez eu devesse ter levado um deslumbrado junto para Cuba...


Vamos lá, Cuba, a trabalho:
- O vôo desde Miami: eu evito o aeroporto de Miami como quem evita conjuntivite ou fila de banco. É feio, sujo, desorganizado, tudo demora demais, cheio de turistas. Desta vez não teve como evitar, por conta do embargo dos EUA não há vôos comercias para Cuba, somente charters, que são na verdade vôos comerciais, mas operados como charters por empresas de turismo e não por uma empresa aérea de verdade. O check-in foi um processo fascinante. Um vôo pequeno, umas 100-120 pessoas, um balcão inteiro do aeroporto, 14 pessoas trabalhando atrás do balcão, e eles conseguem demorar três horas e meia para fazer o check-in. Quatro filas diferentes, ninguém sabendo bem para que era cada fila. Quando eu consegui "desembrabecer" da demora fiquei fascinado! As 14 pessoas atrás do balcão faziam tudo o que podiam, mas quem desenhou o processo de check-in não era um incompetente qualquer, era um gênio em planejar mal, um virtuoso da incompetência. Os piores burocratas que já vi no Brasil, tinham muito para aprender com esse cara, e não estou falando dos de hoje em dia, que são supereficientes e atenciosos, mas os do tempo da máquina de escrever e  da cópia a carbono. Esse cara seria o messias daqueles burocratas!


- Primeiras impressões: Cuba é um lugar impressionantemente parecido com outros lugares. Eu esperava uma coisa diferente de todo o resto do mundo, tudo de outra maneira, os carros antigos, as pessoas vestidas diferente, talvez todo mundo de barba comprida, incluindo as mulheres. Afinal, se esta é a disneylandia da esquerda, onde estão a branca de neve e o mickey? Não vi ninguém vestido de Che Guevara! Muito parecido com Santo Domingo na República Dominicana, a mesma arquitetura, as mesmas pessoas. A única diferença era o conteúdo dos outdoors na cidade, em vez de anunciar coca-cola ou carro Hyundai, eram todos lembranças de herois da pátria. Ponto para eles, gostei. Me fez pensar em Santo Domingo também porque naquela cidade eu vi uma avenida Tiradentes e se não me engano uma rua Getúlio Vargas, além de Martin Luther King, Giuseppe Garibaldi (heroi dos gaúchos e heroi nacional da Italia),e outros de outros países. É que a República Dominicana não teve exatamente muitos herois nacionais, então eles pegaram emprestados de outros países...Os carros igual eram Hyundai, ou VW, ou Renault, com alguns antigos ainda pelo meio, mas não tantos.


- Táxis: ser motorista de táxi é uma profissão muito privilegiada em Cuba, é um trabalho que dá acesso a dólares, euros, moedas que podem ser usadas para comprar qualquer coisa, muito diferente da moeda local que só serve para comprar nas lojas do governo, que não têm nada. Entro em um taxi, sento na frente, falo um pouco com o motorista, um cara de uns 50 anos, e pergunto como se faz para ser motorista de táxi em Havana? Ele me explica que tem que fazer um curso, chegar a uma certa nota no curso, e depois pode-se dirigir um taxi que é uma concessão do governo. Olho para ele e digo “muito bonita esta história, mas como se faz para ser motorista de táxi em Havana?” Ele me olha, passa um segundo e nós dois caímos na gargalhada! Quando paramos de rir ele diz, com muito cuidado afinal ele não sabe quem eu sou: “olha, eu não vou dizer que não é como o senhor está pensando...”.


- Hotéis: eu tinha uma reserva no Hotel Nacional, que é um ícone do país, construído pela máfia nos anos 30. Realmente muito bonito, só que eles perderam a minha reserva. Depois de duas horas de eu brigar com a operadora de turismo (de propriedade do governo como tudo), e de os funcionários do hotel me olharem com cara de que não entendiam como eu podia ser tão impaciente em vez de simplesmente aceitar que as vezes as coisas não tem jeito e tem que se conformar. Eu acredito piamente que, se as coisas não dão certo, a gente agarra as coisas pelas fuças e faz dar certo. E pronto. Terminei em outro hotel, este moderno, também com vista para o mar, mas sem o charme do outro. E o ar-condicionado não funcionava, mas não funcionava no Nacional também - seis por meia-dúzia.


- O valor do tempo:  internet somente em um cafe de internet ao lado do hotel. No primeiro dia, vou às 6 da tarde, a moça está fechando o café, tudo bem. No segundo dia vou às 5:15, o café aberto, só um cara sentado em um dos 8 computadores, mas a moça me diz que não de novo, com um tom imperioso e definitivo, o que diz que a gente tem que aceitar que as coisas não tem jeito e se conformar. Eu pergunto por que, ela me diz que não dá tempo, porque eram 5:15 e ela ia fechar às 5:30 em ponto. Fascinante. Eu terminei de me dar conta que o valor do tempo deles é outro, que ela não entendia porque alguém pagaria para usar a internet só por 15 minutos. A gente tem que aceitar que as coisas não tem jeito e se conformar.



Esperar é uma realidade da vida lá, é uma coisa esperada. O dinheiro vale muito, o tempo não tanto. O tempo vale muito menos que em qualquer lugar que eu já vi. Tem que se conformar. Saí de lá em nove minutos e meio, tendo feito todas as coisas urgentes de trabalho, que não eram muito poucas. 15 minutos é uma eternidade para quem tem determinação, em 15 minutos se ganha ou se perde uma fortuna, se faz chover ou fazer sol, se move o mundo. Aprender a matar 457 alienigenas em menos de dois minutos jogando Galaga tem beneficios cognitivos importantes, essa gente deveria passar mais tempo jogando videogame.


- Comida: eu gosto muito de frutas. Esperava encontrar uma imensa variedade de frutas deliciosas e exóticas que eu nunca tinha visto antes. Encntrei maçãs da Argentina, bananas locais bem sem graça, e melão com cara de que veio da Guatemala no navio da semana retrasada. Fora isto a comida é deliciosa. Feijão, frango assado na tremp, banana frita. Simples e muito saborosa mesmo.


- Televisão: o hotel tinha todos canais internacionais, mas também tinha uns quatro ou cinco canais locais fantásticos, que são os que a população tem acesso. Um de noticias, um de esportes, um ou dois de novelas venezuelanas, mas todos produzidos localmente e bastante bem produzidos. A parte fantástica era o quanto tendenciosos eram. Cuba é perfeito, a Venezuela é o paraíso, os EUA e o resto do mundo são o inferno na terra. Tão ridiculamente tendenciosos como, digamos, a Fox News nos Estados Unidos, que faz a mesma coisa, só que para a direita fanática de lá. Fanático é fanático, muda o logotipo da banderinha mas o discurso é o mesmo, “Nós somos os únicos que estão certos”, “estamos baixo ameaça dos nossos inimigos por isso temos que lutar”, “a nossa maneira de viver é a melhor do mundo e quem disser o contrário está iludido”, etc.

- A melhor parte: não ter celular, internet, email, cartão de crédito. Foram dois dias mas pareceu um mês. Desci do vôo de uma hora me sentindo como quem voltou de um inverno na Antártica, pronto para que o mundo todo tivesse mudado radicalmente. Não tinha mudado.

Observações:
Paulo de Tarso Menini Trindade é meu filho;
agradeço a ele o envio deste texto;
gosto do seu estilo irônico e mordaz, mas lúcido e honesto;
no primeiro momento, pensei que ele ia me comparar com o deslumbrado - até pensei em responder : é a tua mãe! Depois, dei-me conta que era como mencionar seis e meia dúzia;
sei que ele não faz fotos em viagens - decidi , então, proceder como qualquer mãe do mundo e procurar nos meus arquivos  fotos dele, para mostrar como é bonito o meu menino!,

sábado, novembro 09, 2013

" Assim como as violetas..."

Velha aroeira da minha casa

Trabalhei e morei em muitos lugares. Tal qual algumas plantinhas, crio raízes e me adapto  facilmente. Em todos esses lugares, vivi bem e, de todos eles, tenho boas lembranças - porque as boas lembranças sempre se sobrepõem àquelas não muito boas.

Ponte pênsil entre RS e SC
Em setembro, quando vim morar em Torres, saí da Bela União bastante triste. Um mês depois, havia sido reavivado todo o meu gostar daqui, e eu estava feliz de retornar à minha casa de tantas recordações e a esta cidade tão agradável e bonita.

Lagoa do Violão
Encontrei Torres mais limpa, mais cuidada e enfeitada com muitas flores. E encontro ainda , nestes dias, lugares para estacionar. Só quem mora aqui, no verão, sabe o que significa uma vaga de estacionamento no centro. Uma vez fui ao banco de carro. Depois de andar muito, acabei estacionando ... na frente da minha casa.

Praia da Cal em Torres
Agora, novembro, já se vê movimento de moradores-veranistas. Pintores, eletricistas, estofadores, jardineiros e faxineiras passam a ter agendas lotadas, com muitos dias de espera e altas negociações por algumas horas de trabalho. Felizmente já estou com a casa organizada e o jardim quase... quase.

Entre Praia da Cal e Prainha
Quando tudo estiver pronto, na casa e no jardim. e muita gente estiver transitando  por  Torres, lá vou eu à procura de um Natal com neve.

Rio Mampituba e ponte entre RS e SC

"Toda a manhã que raia, raia sempre no mesmo lugar,
Não há manhãs sobre cidades, ou manhãs sobre o campo.
À hora em que o dia raia, em que a luz estremece a erguer-se
Todos os lugares são o mesmo lugar, todas as terras são a mesma,
E é eterna e de todos os lugares a frescura que sobe por tudo."


Fernando Pessoa
Em casa...depois de ter feito as fotos acima