domingo, junho 02, 2013

Porto, histórica e doce cidade.

Vista da cidade a partir do Douro
Há 20 anos, fiz um bate-e-volta ao Porto. Um dia inteiro de passeios pela cidade, que me deu um conhecimento superficial e a impressão de uma cidade sem muitos atrativos e até mal cuidada. Passados 10 anos, retornei, hospedei-me na avenida dos Aliados e lá estive durante uma semana. Modifiquei a impressão anterior.


Inesquecível!

Passei a vê-la com uma beleza madura, que não salta aos olhos no primeiro momento e que precisa de tempo e aprofundamento para ser decifrada e, depois, admirada. Voltei mais uma vez e voltei, agora, pela quarta vez. Descobri, então, que a gente não se apaixona pelo Porto. Aprende a amá-lo a cada encontro e a cada vez mais. Há tanto o que ver. Comece reservando um final de tarde para ver o pôr-do-sol, a partir da Vila Nova de Gaia.

Pela beleza da paisagem, encara-se até um teleférico.

Segunda maior cidade de Portugal e fonte do próprio nome do país, Porto está às margens do Douro, pertinho das cantinas que produzem aquele vinho que lhe fez o nome conhecido no mundo todo. Inaugurados há pouco, lá estão os teleféricos, transportando visitantes da parte alta para as margens do rio, onde estão as cantinas, oferecendo degustações e possibilitando compras no local. Como o teor alcoólico do  vinho do porto é alto, aconselho que não se visitem muitas cantinas no mesmo dia.

Placidez do Douro

Caminhe muito pela cidade, não se deixe impressionar pelas subidas e descidas. Percorra os labirintos do Centro Antigo. Não tenha medo de perder-se. A Torre dos Clérigos vai guiá-los e situá- los, já que pode ser vista de quase toda a cidade - ou parta da Câmara Municipal, percorra a Avenida dos Aliados, interessante e não extensa, caminhe devagar, olhando belos prédios, e chegue até a Estação São Bento.
 
Estação de São Bento
A Estação Ferroviária de São Bento merece uma visita, mesmo que não se esteja de partida ou chegada. De inspiração francesa, ela é toda bonita e agradável. Precisa-se de tempo para ver , detalhadamente, os azulejos, em quadros imponentes, com mais de vinte mil peças no total, retratando cenas históricas do norte de Portugal. Inaugurada em 1916, a estação de São Bento transporta passageiros até Campanhã, a estação principal, ou os transporta a cidades do norte, como Barcelos, Braga e Guimarães.


Morro recoberto....

Mesmo que você não faça aqueles " três pedidos" que tradicionalmente se faz a cada igreja que se entra pela primeira vez, entre em todas elas. São fantásticos museus, às vezes bem mais bonito e informativo que muitos deles. A Igreja do Carmo, por exemplo , de arquitetura rococó e de emocionante beleza,   mostra uma das mais extraordinárias coleções de azulejos da cidade.

Riqueza barroca

Não deixe de ir até a pesada e bem protegida Catedral da Sé. Fundada no século XII, sofreu várias reconstruções - a maior delas, no século XVIII. São notáveis as madeiras do teto e os relevos folheados a ouro.  Percorra seu entorno e  deslumbre-se com as paisagens. A catedral está no alto de um morro, de onde se tem magnífica vista do rio, da cidade, de ruazinhas, de outras igrejas e de históricos casarões.

Ex-Libris do Porto

Projetada por um mestre italiano do barroco, Nicolau Nasoni, e  construída entre 1754 e 1763, a  sineira Torre dos Clérigos, toda em granito, faz parte da igreja do mesmo nome e constitui-se na porta de entrada da Cordoaria, interessante e histórico bairro do Porto. Dizem que a vista que se tem do topo da Torre é belíssima. Dizem. Eu não a vi .  Não encarei os 225 degraus, em carocol,até o final de seus 76 metros.

( www.cpf.pt )
O Centro Português de Fotografia  está localizado, na Cordoaria,  num severo e forte edifício, que já serviu como prisão, principalmente de perseguidos políticos. O cenário, no primeiro momento , parece bastante opressor, com os seus pesados portões de ferro e suas celas pequenas. Há algumas exposições,entretanto, que levezam o ambiente; outras, o espaço acresce-lhes densidade, tornando-as ainda mais intrigantes.

Jardim da Cordoaria
Lugar agradável de permanecer o tempo suficiente para descansar, pensar, ver e encantar-se, é o Jardim das Cordoarias, situado acima da avenida dos Aliados e depois da Torre dos Clérigos. Árvores frondosas, arbustos bem aparados, flores, esculturas e bancos tornam este jardim encantador. Estudantes de arte da vizinha universidade fazem ali esboços e turistas fotografam o local e os estudantes. Saindo desse sossegado espaço, parece-me ser o momento propício para ir até a Livraria Lello, na rua das Carmelitas, e encontrar, no rico edifício de 1906, um fantástico amontoado de livros novos, usados e raros.


Falha minha. Entusiasmei-me com a arte de rua, no Porto, e esqueci de fotografá-la. Em casas velhas e  abandonadas, edifícios caindo os pedaços, muros mal rebocados e portas de garagem , vi grafites de muita boa qualidade - criativos, sugestivos, nítidos e bem acabados. Torci para que essas intervenções fossem preservadas por muito tempo - ou que se tornassem um processo artístico estimulado e reconhecido não só em Portugal.

Centro histórico

Há bons museus no Porto - Museu Nacional Soares dos Reis, Museu do Vinho, Museu de Arte Contemporânea, Museu dos Transportes; há muitas igrejas magníficas - Igreja da Misericórdia, Igreja de São Francisco, Igreja do Carmo, Igreja de Santa Clara; há mercados, palácios, mosteiros, jardins, praças e pontes; há bons restaurantes, hotéis e locais de entretenimento. Além de tudo isso, existem avenidas, ruas, ruazinhas e becos, onde se pode passear e entreter-se com o muito que a cidade oferece.

Um rádio que só falta divulgar as notícias de 1877

A opção de reserva e hospedagem no Grande Hotel de Paris, na Rua da Fábrica, 27, muito perto da avenida dos Aliados, teve a ver com o desejo de vivenciar a cidade, convivendo mais com sua história e seu espírito romântico. Com 136 anos,  é o mais antigo hotel , em funcionamento ainda, na cidade do Porto. Bem localizado e com boa conservação de móveis, acessórios,  pinturas, desenhos, lustres e exposição de documentos antigos, oferece excelente café da manhã, num salão de cinema.Não tem o conforto dos hotéis modernos, mas tem todo um charme inesquecível.http://www.hotelparis.pt

Ramón C Serrano, meu amigo-irmão.
O retorno ao Porto foi muito bom. Melhor ainda foi estar com Ramón no dia de seu 72o. aniversário. A alegria da partilha é sempre uma bênção. O convívio, um tesouro. Amigo há mais de 10 anos; irmão por escolha mútua. Considero-o um padre dedicadíssimo ao seu sacerdócio - um santo moderno. Conheço a grandeza de seu trabalho e a dedicação extrema com que o faz. Estará bem onde estiver, na Espanha,na Itália, em Portugal. Fará, entretanto, e sempre, muita falta no Nordeste do Brasil.

"Que varia e está sempre bem e é sempre a mesma."
" E há poetas que são artistas
 E trabalham nos seus versos
 Como carpinteiros nas suas tábuas!

Que triste não saber florir!
Ter que pôr verso sobre verso, como quem constrói um muro
E ver se está bem, e tirar se não está!...
Quando a única casa artística é a Terra toda
Que varia e está sempre bem e é sempre a mesma."


Fernando Pessoa

2 comentários:

  1. Dorilda Pereira de Oliveira6:04 PM

    Lindo texto, pontuado por observações preciosas sobre essa bela cidade.
    As fotos estão igualmente esplêndidas.
    Fecha com chave de ouro os versos de Fernando Pessoa.
    Continua nos brindando com tuas observações sempre pontuais e texto impecável; gostoso de ler.
    Abraços Aldema!

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  2. aldema ( www.correndomundo.blogspot.com )6:43 PM

    Obrigada, querida Dorilda.
    Sou muito agradecida ao incentivo que recebo das pessoas amigas, para continuar escrevendo....afinal, na minha idade, esse exercício é fundamental. Beijos

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