quinta-feira, novembro 22, 2012

Ainda no Recôncavo, São Félix ...




















Sempre que visito Cachoeira, visito também São Félix. As duas cidades estão separadas pelo rio Paraguaçu e interligadas por uma bonita ponte antiga, toda em ferro, mandada construir por Dom Pedro II. É de Cachoeira que se tem essa encantadora visão de São Félix, cidade com pouco mais de 15 mil habitantes, que creceu  durante a expansão da cana - de - açúcar.



















A cultura local é  marcada fortemente pelas raizes ancestrais: os índios primeiramente, depois os portugueses, que chegaram principalmente para explorar o comércio de madeira,  e os negros vindos da África, a partir de 1549. A topografia de São Félix é bem bonita . Pequenas estradas serpenteiam morro acima. Tem, ainda, uma arquitetura interessante, como pode ser vista, na foto ao lado, no antigo prédio da  Estação Ferroviária.





















Forte também foi a indústria fumageira, com a instalação das fábricas de charutos , como a Suerdieck e a  Dannemann, entre outras.  Assim, a área que margeia o Rio Paraguaçu abrigou depósitos e armazéns de fumo das fábricas de charuto, que deram ascensão econômica à região. Os saveiros continuam a transportar produtos agrícolas e a embelezar a paisagem. Para quem deseja realmente conhecer a Bahia, uma visita às cidades do  Recôncavo é indispensável.


Santo Amaro de Caetano,Bethania e Dona Canô







































"Adeus, meu Santo Amaro
Que eu dessa terra vou me ausentar
Eu vou para Bahia
Eu vou viver, eu vou morar
Eu vou viver, eu vou morar
Adeus meu tempo de chorar
E não saber porque chorar
Adeus, minha cidade
Adeus, felicidade
Adeus, tristeza de ter paz
Adeus, não volto nunca mais
Adeus, eu vou me embora
Adeus e canto agora
O que eu cantava sem chorar"

Caetano










































Santo Amaro teve seu início, como povoado, às margens do rio Traripe, em 1557, sendo, portanto, um dos povoados mais antigos do Brasil. Em 1837, transformou-se em cidade, com o nome oficial de Leal Cidade de Santo Amaro. Atualmente é conhecida como Santo Amaro da Purificação. Distante 70 km de Salvador e com população de 65 mil habitantes, tornou-se importante como produtor de cana-de-açúcar, fumo e mandioca, surgindo daí engenhos, casas de farinha e pequenos beneficiamentos de fumo.










































Não foi, entretanto, a agricultura que a tornou cidade famosa. Foram dois irmãos - Caetano Veloso e Maria Bethania - que a projetaram no mundo. Impossível ir a Santo Amaro sem visitar a casa da família Veloso e o teatro Dona Canô, cidadã baiana, com 105 anos, muito conhecida em todo o Brasil, segundo ela por ter esses dois filhos que nunca esqueceram de onde vieram e de quem era a  mãe deles. Dona Canô ainda participa , no mês de fevereiro, da  organização da tradicional lavagem da escadaria da Igreja  da Nossa Senhora da Purificação( foto ) , que tem a participação de 400 baianas, usando suas belas vestimentas.










































Além da Igreja, há três outras  visitas obrigatórias. Inicialmente, na rua do Amparo,  a casa de dona Canô, que vive ainda lá. Em frente da casa,  uma homenagem onde se lê: "Caetano, poeta da terra, menino da gente, nós amamos você" e "Bethânia, de tuas cordas vocais emerge esta gente bonita, tua voz é a melhor notícia da terra que te gerou" O Teatro Dona Canô , com 260 lugares , excelente acústica e bela arquitetura e programação frequente. expõe um pouco da história dos Velosos. Ao lado do teatro, está a Casa de Samba da Nicinha, onde, em especial, cultivam-se as raízes do samba de roda, tradicional no município .

























Em toda a cidade, nota-se admiração por Dona Canô, considerada a Embaixatriz de Santo Amaro. Ela recebe, contam, todas as pessoas que a procuram e participa da vida local. Há pouco tempo, liderou uma campanha de arrecadação de  fundos para a reforma da igreja e mobilizou a população em apoio aos pescadores. Seu aniversário é comemorado com missa   -   na última,Bethania cantou. Figura marcante, foi biografada no livro “Canô Velloso, lembranças do saber viver”, escrito pelo historiador Antonio Guerreiro de Freitas









“... Quando eu te encarei
Frente a frente
Não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi
de mau gosto o mau gosto
É que Narciso acha feio
o que não é espelho ...”
Muitas vezes , discuti este texto com meus alunos para tratar da questão do preconceito.
Grande Caetano, orgulho justo de Santo Amaro.


segunda-feira, novembro 19, 2012

"...Bahia que não me sai do pensamento..."





















Sou compulsiva em aprofundar o conhecimento dos estados por onde transito. Quero conhecer todas as cidades; visitar todos os lugares históricos; entender toda a geografia; compreender, ao menos em parte, a cultura de cada local. Morei sete anos na Bahia. Quando aqui cheguei, conhecia bem apenas Salvador.  Fiz logo projetos para conhecer todo o estado. Comecei pelo Recôncavo Baiano.






















Denomina-se Recôncavo Baiano a área que se localiza em torno da Bahia de Todos os Santos e onde estão, entre  outras, as cidades de que tanto gosto: Cachoeira, São Félix, Sâo Francisco do Conde e Itaparica. Anualmente, venho à Bahia, quando aproveito para rever pessoas amadas e lugares preferidos. Desta vez, logo que cheguei a Salvador , fiz um passeio ao Recôncavo,começando por Cachoeira, distante 120 km de Salvador.





















A histórica Cachoeira - referência de baianidade - merece uma visita, não só pela presença do barroco na arquitetura, pois reúne o segundo maior conjunto arquitetônico desse estilo na Bahia ,como também pela  religiosidade, culinária e  produção artística. Com maioria de afrodescendentes na sua população, faz  síntese de  catolicismo e candomblé nos seus rituais. A Irmandade da Boa Morte atrai visitantes nacionais e estrangeiros, numa das maiores festas anuais do interior baiano.






















Formada por mulheres negras, com mais de 50 anos de idade, todas descendentes de escravos, a Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte,  é uma confraria  que existe há quase 200 anos. Tem, entre seus rituais, a   procissão anual pelas ruas da cidade, seguida de missa pela alma das irmãs que já morreram, missa de corpo presente com a imagem de Nossa Senhora, procissão de enterro ,  missa de Assunção e a procissão festiva, que encerra essas festividades.






















É interessante o simbolismo do vestuário das irmãs, na Festa da Boa Morte. Roupa totalmente branca é sinal de estão de luto; roupas nas cores vermelha, preta e branca representam a alegria com a assunção de Maria. Usam muitos adereços em ouro, prata ou pérolas. Internacionalmente conhecida, essa festa reúne cerca de 20  mil pessoas todos os anos, entre adeptos do candomblé, estudiosos da cultura africana africana  e jornalistas do Brasil e do exterior.
























Lugar de muito  verde, muitas frutas e legumes, Cachoeira tem  culinária rica, com influências do sertão baiano e das tradições africanas . Não perdi a oportunidade de comer um delicioso acarajé na feira municipal de sábado, dia em que fomos lá. Feijoada, maniçoba, caruru, vatapá, acarajé, abará e  diversos tipos de moquecas são parte do cardápio cachoeirense.
























Maniçoba é um prato tradicional, de origem indígena, feito com folhas de mandioca. Durante o preparo, é preciso triturar e cozinhar, por um longo tempo, a folha de mandioca para a extração do ácido cianídrico, veneno natural presente na planta. Acrescenta-se às folhas alho,sal, folhas de louro, pimenta, linguiças  e carnes salgadas e carnes defumadas. Diz-se que tem poder afrodisíaco.É servida  acompanhada de  arroz, farinha de mandioca e pimenta - só experimentei uma vez!























Cachoeira lembra lugares históricos de Salvador, como o Pelourinho. Lembra também fatos importantes da história do Brasil, como a Independência, pois aqui surgiram as primeiras mobilizações contra o domínio português e a favor da proclamação de Dom Pedro  I como regente. Já Dom Pedro II visitou a cidade e determinou a construção da ponte rodoferroviária , usada até hoje, ligando Cachoeira a São Felix e a outros municípios do Recôncavo baiano. Essa ponte é um dos cartões postais da cidade.
























Gosto de ir a Cachoeira. O rio Paraguaçu, que a separa de São Felix, inspira paz e enriquece outra das belas áreas  da cidade. As galerias mostram trabalhos de bons artesãos locais. As igrejas e os prédios históricos são realmente bonitos, embora careçam alguns de restaurações e limpeza. Há uma atmosfera de história e religiosidade que impressiona. Doce e forte Cachoeira!
"Só lamento o não ser criança, para que pudesse crer nos meus sonhos." Fernando Pessoa


segunda-feira, novembro 12, 2012

" Andar,andar,andei"

Malas prontas, " Lá vou eu..."
Desta vez, desejo mostrar um pouco mais do Brasil para Ronald. Serão somente 17 dias de viagem.
Começaremos com uma semana em Salvador - visita anual a familiares e amigos;depois, Senhor do Bonfim, no sertão baiano, para visitar meus amigos e os quatro afilhados que lá deixei, durante os 4 anos em que fiz consultoria à Diocese, na criação do Instituto Superior de Teologia, trabalhando com meu amigo-irmão, Pe. Ramón Cazalas Serrano;
na sequência, Juazeiro ( na Bahia ) e Petrolina ( em Pernambuco), para que Ronald conheça o rio São Francisco e a fantástica produção de frutas às suas margens;
de Petrolina, num vôo de pouco mais de uma hora, iremos para Recife e Olinda. Além de (re)ver essas duas cidades, visitarei a família do meu amigo, Pe. Sebastião Vieira, que tanta falta faz e que tanta saudade deixou.
Prometo textos e fotos.Muitas fotos.Muitos textos.

 

PS. Li , agora, no FB, o texto postado por Maro Klein, brilhante professora universitária, que eu recordo como uma bela menina. Gostei. Transcrevo a última parte dele:

"Hoje me encontro no limbo para mais uma viagem longa. Vésperas de viagem sempre dão uma sensação estranha. Ainda não estamos lá, mas já não estamos mais aqui. A cabeça da gente acaba sempre indo antes do corpo.
É um misto de ansiedade com empolgação e sempre aquela certeza de que é necessário se despedir um pouco de si mesmo, pois é certo que quando voltarmos já não seremos mais os mesmos (graças a Deus). 
Mas é fundamental baixar a cabeça e deixar que a roda gire e que o mundo ensine, com humildade diante da força que é boa e que é sempre para nos levar mais adiante, para algum lugar onde a gente possa tentar ser melhor. E que a gente se deixe mudar, rezando para, com sorte, levar algo bom também para quem encontrar pelo caminho."

"Mi Buenos Aires querido..."

Buenos Aires

"Mi Buenos Aires querido
cuando yo te vuelva a ver,
no habrás más pena ni olvido.

.............................................
Mi Buenos Aires
tierra florida
donde mi vida
terminaré.
Bajo tu amparo
no hay desengaños,
vuelan los años,
se olvida el dolor."

............................................

Saudades!
Os sons da Argentina trazem à tona recuerdos de minha infância lontana  na fazenda, onde se escutava rádio, sintonizando, preferencialmente, a Radio El Mundo de Buenos Aires. São  familiares , portanto, aos moradores da Fronteira, a língua espanhola e os tangos argentinos, que constituem  hoje encontro de traços de nossa biografia.


El Caminito


É uma festa volver a Buenos Aires, ainda que somente por dois dias, como o foi desta vez. Fizemos, Ronald e eu,  no mesmo dia, de San Pedro de Atacama  a Calama, numa van; de Calama a Santiago, pela Austral Airlines; de Santiago a Buenos Aires, pela Aerolineas Argentinas. Viagem tranquila, mas cansativa pelas horas de espera em cada conexão.


Cenas típicas de rua em Buenos Aires

Já à noite, chegamos ao Gran Hotel Argentina, muito perto da Calle Florida - hotel antigo, um 4 estrelas, porém agradável e com bom atendimento. Aconteceu, então,  um fato interessante. Fiz o chek in com o passaporte de Ronald e conversei um pouco com o pessoal da recepção. Eles começaram a elogiar como eu falava bem espanhol. Estranhei. Falo razoavelmente, mas os elogios me pareceram exagerados. Óbvio! Pelo sobrenome, concluíram q eu era norte americana. Quando esclareci que eu era brasileira e natural da fronteira gaúcha...pareceu-me escutar um ohhhh de decepção.


Caminito
Pouco tempo implica selecionar poucos e bons passeios, incluindo: . livraria El Ateneo; . cafeterias e comprinhas; . Galerias Pacífico - com seus belos murais e sua arquitetura invejável ; . Casa Rosada, para saber os protestos do dia; . Palermo, onde meu filho morou e que me traz belas recordações; Calle Florida, bastante descuidada atualmente; . Caminito, bairro folclórico e encantador até hoje.


Admirável arquitetura
Na Argentina e no Uruguai, tem-se acesso ao mais civilizado café, em diferentes cafeterias, onde ninguém tem pressa em desocupar a mesa - sim! porque o café é bebericado numa mesa com cadeiras e até o jornal do dia -  de quebra, o garção traz copinhos de água frequentemente.Um luxo.Uma fineza.No Bairro do Tango, El Caminito, pode-se tomar café e ouvir boa música - aquela que evoca recordações da minha infância.


Típico churrasco  da Fronteira
Diz-se que a Argentina tem a melhor carne do mundo - os pampas , planos e com bom pasto, fazem com que o boi não pareça que frequentou academia e fez musculação. Mesmo para vegetarianos, há boas opções de massas e verduras.Ainda tem os sanduiches, minha paixão, e os doces, incluindo o doce de leite com creme, uma sobremesa com gosto de infância.

Para Mi Buenos Aires querido...
Não se pode falar mal de um país que tem tanto a nos oferecer - um país que foi agraciado com beleza natural e cultura rica e diversificada. Somos irmãos! Mas, como Caim e Abel, entretanto, não podemos deixar de mencionar as histórias de argentinos -  de argentinos não, de porteños. Até comprei um divertido livro Chistes de Argentinos, de onde copiei esta pérola.

Por qué los argentinos miran al cielo cada vez que hay un relámpago? Porque creen que Dios les está tomando una foto.

quinta-feira, novembro 08, 2012

Imperdíveis passeios no Deserto de Atacama




















O Vale da Lua foi nossa primeira visita ainda na tarde de nossa chegada ao Deserto de Atacama. Primeira visita; primeira surpresa; primeiro deslumbramento. Localizado na Cordilheira do Sal, a 13 km de San Pedro, o Vale é parte da Reserva dos Flamingos e já foi declarado Santuário da Natureza.























Sua área, com formação de pedra, sal petrificado e areia, assemelha-se a solo lunar - daí, o nome -  onde, durante milênios, inundações e ventos moldaram suas fantásticas esculturas. Entre as numerosas figuras, destacam-se as Três Marias, que a primeira foto nos mostra. Impressionante também as cavernas de sal e o vulcão Licancabur, que pode ser visto , de vários ângulos, ao longo desse passeio.




 




















Inesquecível , entretanto, para mim foi o pôr-do-sol que vimos nesse mesmo dia. À medida que o sol se pôe, alteram-se as cores das montanhas e desfiladeiros- da cor pastel, para a cor rosa, depois púrpura e finalmente negra. Algo surpreendente, emocionante, de uma beleza única - com certeza, está entre as memórias selecionadas para manterem-se ao longo da vida.


























Usualmente, o passeio ao Vale da Lua mostra-nos também o Vale da Morte, outra formação de rochas e de dunas bastante singular. Há duas explicações para o nome desse lugar. Uma refere à secura do ambiente e à falta de vida; a outra, à recepção dos sons , na pronúncia francesa de Vale de Marte, nome que teria sido dado pelo jesuíta belga Gustave Le Paige, em razão da cor avermelhada do lugar.

























Depois de Toconao, povoado de que fiz o post anterior, chega-se ao Salar de  Atacama - a 62 km de San Pedro e a 2300 metros de altitude. Trata-se de um extenso lago salgado que secou, tornando-se o maior depósito de sal do Chile, ocupando uma superfície de 3.200 km2. Situado entre a Cordilheira dos Andes , a oeste, e a Cordilheira de Domeico, a leste, tem como principal atração as lagoas onde podem ser vistos muitos flamingos, desfilando sua graça, colorido e beleza.


























De pequenas poças, como essa da foto acima, os flamingos retiram um minúsculo camarão, que lhes serve de alimento e que lhes proporciona um bonito colorido. A Reserva Nacional do Flamingos ocupa uma área de 74 mil hectares e 4300 metros acima do nível do mar. É administrada CONAF - Comissão Nacional de Flora e Fauna. A entrada é paga. Os carros não podem chegar até as lagoas. Há um trajeto já determinado para ser feito a pé.
























Uma das paisagens mais bonitas do Atacama pode ser vista quando se vai às lagoas Miscanti e Meñiques, localizadas a 115 km de San Pedro e a 4.000 metros acima do nível do mar. Essas impressionantes lagoas, de cor azul-marinho e de margens brancas, também conhecidas como Lagoas Altiplânicas, são separadas por pequena faixa de terra e têm, ao fundo os vulcões com o mesmo nome , Miscanti e Meñiques.























O cenário é de impressionante beleza, pela cor da água, pelo azul do céu, pelos vulcões que estão, ao fundo, na Cordilheira. Pode-se descer, caminhando, é claro,  por uma estradinha estreita, e chegar até a beira das lagoas. Suas águas provêm do degelo dos vulcões. Antes eram águas que corriam livremente, chegando ao Salar de Atacama. Devido, entretanto, a uma erupção do vulcão Meñiques, ocorrida há muitos anos, houve estancamento das águas, dando origem às lagoas.























Além de toda essa beleza natural, por aqui se encontram sítios arqueológicos, dados a conhecer por fragmentos de cerâmica, pontas de flecha e 40 construções circulares em pedra. Calcula-se que a ocupação deste lugar data de 3.000 anos a.C. É um passeio realmente obrigatório. As operadoras costumam realizá-los com 12 horas de duração, incluindo o almoço.























Embora o Deserto Florido, de que tanto se fala, fique mais ao sul, um pouco longe de San Pedro, a vegetação desta região é cbem bonita e curiosa, como esses tufos de capim amarelado e uma planta rasteira, chamada rica-rica, bastante comum por aqui.























No dia em que visitamos as lagoas, almoçamos num povoado, denominado Socaire, a 100 km distante de San Pedro de Atacama e pertencente a esse município. Antigamente, Socaire foi muito importante pela sua localização perto da fronteira com a Argentina e por suas minas de ouro. Hoje, tem cerca de 400 habitantes, que se dedicam à agricultura e à elaboração de comida atacameña, servindo almoço para turistas e viajantes.
























Os povos do Atacama , conhecidos internacionalmente como o povo pré-colombiano mais desenvolvido do Chile, foram os primeiros grupos sedentários desse país e os primeiros a praticar agricultura. Para tanto, fizeram terraceamento nos cerros e canais de irrigação.Desenvolveram a agricultura com o cultivo de milho, feijão, batatas, algodão e frutas.






















O Atacama, considerado o deserto mais alto e mais seco do mundo,  fascina os visitantes, também por seus tesouros arqueológicos que contam os segredos de uma civilização desaparecida. Impressionante é a Aldea de Tulor, um conjunto arquitetônico circular , habitado entre 800 a.C  e 200 d.C pelos antigos povos atacameños. Outro lugar a ser visitado é Pukara de Quitor,  com ruínas de uma fortaleza pré - incaica.























Todos os passeios podem ser feitos, a partir de San Pedro de Atacama, de diferentes formas e estilos.Pode-se alugar carro - desde Calama  ou em San Pedro; pode-se alugar moto ou bicicleta; podem comprar  pacotes , em camionetes ou ônibus , nas agências de viagem. Pode-se, ainda, alugar cavalos para passeios com roteiros determinados. Há um hotel que tem muitos e belos cavalos para serem usados por seus hóspedes. Há, portanto, boa estrutura turística no Atacama.























Já viajei por desertos de vários países. Todos fascinantes. O Deserto de Atacama, entretanto, foi o que mais me impressionou - e me conquistou pela infraestrutura oferecida. Não é um destino barato, não, mesmo com a proximidade que nós, do Sul, temos em relação ao Chile, mas vale o que se paga. Desta vez, preferi viajar empacotada. Comprei o pacote na Agência Ktour, em Santa Maria. Correu tudo muito bem. Carlos, o dono da Ktour, e Edilma, minha amiga dessa agência, como sempre, perfeitos.























Indispensável, nessa viagem, chapéu, óculos escuros, roupas para calor e frio, garrafa para água e olhos bem abertos...Indispensável uma boa câmera. A região é toda muito fotogênica. Lembrei -me de bons fotógrafos, como Claudius Ribeiro Ramos , o meu primo Caquinho; Fátima e Vinicius Marcanth, meus amigos; Fabianinha, minha sobrinha. Minhas fotos não são editadas e são feitas com uma pequena câmera de menos de 200 dólares. Ela faz o que pode!!!

segunda-feira, novembro 05, 2012

Toconao - um presente no deserto























O pequeno povoado de Toconao não é uma visita obrigatória, todavia, se tiver tempo disponível, é interessante visitá - lo. Localiza-se , na direção sul, a 38 km de San Pedro de Atacama, município a que pertence. Está a 2.475 metros de altitude e próximo a Quebrada de Jerê ,  um cânion fértil,  no deserto,  com paredes de mais de 20 metros. De origem pré-hispânica, esse povoado tem uma  população que não alcança a mil pessoas.











































Em Toconao, encontram-se  lojinhas de artesanato, com algumas peças de bom gosto e boa qualidade. Encantei-me com um pequeno tapete bordado, em cores pasteis, com motivos andinos, e com uma acharpe, de cor natural,  feita com lã muito especial. Quis comprá-los, mas aconteceu o inusitado. Como eu não tinha pesos chilenos suficientes, perguntei se podia pagar com dólares. Respondeu-me que sim; os dólares,  porém, não podiam estar dobrados porque ficam com marcas no meio. Deviam estar deitados na carteira. Mostrei a cédula. Estava dobrada , é claro. A senhora não o aceitou, e eu fiquei sem minhas comprinhas.Aprendi a ter cuidado com o dinheiro. Qualquer probleminha é motivo para que não sejam aceitos. Demonstram muito medo de receberem dólares estragados.


























O povoado tem uma arquitetura bem interessante. A maior parte das casas é feita com pedra liparita local, uma pedra branca, não muito dura, extraída  de uma mina que está a dois km do povoado. A  praça central é bem bonitinha e interessante de ser observada. Nela, pode-se ver  uma bonita torre branca, datada de 1700. Vê-se também, em frente à praça, uma igreja antiga, toda feita com adobe e palha e com delicada porta feita com madeira de cactus.












































Como se trata de um oásis, cujas águas são doces e sem arsênico, permitindo, assim o cultivo de uma  variedade de frutas, como marmelos, peras, ameixas, uvas , bem como uma variedade e quantidade de hortaliças. Nas margens do cânion, sobrevive vegetação, algumas exuberantes para o lugar onde se desenvolvem. É o caso da tamarua, árvore com raiz profunda, que serve tanto para alimento de animais, quanto para combustão. Há todo um programa de preservação da flora e da fauna no Atacama, realizado por uma corporação do estado, a Corporação Nacional Florestal.























Em toda a área do Deserto, nota-se muito cuidado com o paisagismo e a ambientação. Predomina o uso dos materiais locais, como adobe, madeira, pedras e plantas. Na foto ao lado, a já referida porta da igreja de Toconao, toda feita de madeira de cactus. Como escreveu minha querida amiga Ziza Lisboa, parece bainha aberta feita sobre pano de linho.

























Pode-se visitar  Toconao na passagem para Socaire, na direção das lagoas Miscanti e Miñiques ou quando se vai à Lagoa Chaxa, no Salar de Atacama. Recomendo este passeio.

"Louvado seja Deus que não sou bom,
E tenho o egoísmo natural das flores
E dos rios que seguem o seu caminho
Preocupados sem o saber
Só com florir e ir correndo.
É essa a única missão no Mundo,
Essa — existir claramente,
E saber fazê-lo sem pensar nisso."


Fernando Pessoa