sexta-feira, setembro 28, 2012

" Foi o Vinte de Setembro..."


















Pela primeira vez, escrevo sobre uma festa em que não estive. Mas o Vinte de Setembro, em Alegrete/RS, é festa de todos os anos...e, em outros anos, já assisti a ela. Sei como é - uma belezura! E, em 2013,  prometo a mim mesma estar presente. Consiste, realmente, num dos maiores - até deve ser o maior - desfile de cavaleiros e amazonas que se faz em todo o mundo. E não estou contando grandeza!



















São mais de oito mil cavalos, encilhados e com gente em cima, que desfilam pela cidade, num longo percurso, sendo aplaudidos e fotografados por muitos. Bem... o cheiro que fica na cidade, embora diferente, é tão forte quanto o que fica na Bahia depois do carnaval. Pelas fotos, vi que continuam a desfilar muitos velhos gaúchos, a cada ano mais velhos ( estou me especializando em escrever óbvios) e crianças, que distribuem sorrisos e acenos do alto da passarela que as conduzem com segurança.



















Famílias inteiras desfilam, incluindo jovens criados na cidade  e sem vivência campesina. Bonito de ver a postura deles, tão  certos de que representam um Estado culturalmente muito forte. Desfilam também cenários e cenas do cotidiano rural antigo e/ou atual, como, por exemplo,  o carreteiro - não o arroz, mas o próprio que vai com a carreta , puxada a bois; o bolicho, com seu dono, o bolicheiro, vendendo rapaduras e  alguma bebida leve e branca; as prendas, moças bonitas e já não tão casadoiras como antigamente, mostrando suas roupas tradicionais delicadamente coloridas.




















Não desejo ideologizar essa festa - muito menos construir discursos sobre ela. Por mim , podem  maragatos e chimangos exibirem-se à vontade durante a  Semana Farroupilha, uma semanana de igualdade e fraternidade.  Melhor a confraternização, ainda que passageira,  do que o enfrentamento constante e agressivo. Sou bem brasileira. Gosto do meu País. Sou bem gaúcha. Gosto do meu Estado. Tenho forte identidade regional , principalmente no acento linguístico característico de fronteira e no gosto pelas atividades do campo.



 

















Acredito que as identidades regionais , com o passar dos anos, fortalecem-se, aprofundam-se, reforçam-se  e  modificam-se também. Importante que não se percam e que apareça o sentido de pertencimento e  que ele aflore, mesmo como resistência, neste mundo massificado, onde uma bruma  triste faz com que todos pareçam iguais, em meio a brutais diferenças.



Muito obrigada à familia Marcanth pelas cessão das fotos.



















Aqui, no Rio Grande do Sul, temos muito o que exibir e do que nos exibir : música, culinária, vestuário, paisagens, histórias e História.  E temos o Alegrete, tão particular e tão característico.   As coisas ruins do Estado...bem ...não é hora, nem dia, nem semana de falar sobre elas. Olhando as fotos postadas aqui, feitas por Vinicius Marcanth, filho da Fátima , que é filha do famoso fotógrafo Jorge Marcanth - uma família de gente que tem olhos para ver  e o faz com precisão e sensibilidade - sinto a mais difícil das saudades ,  a saudade da festa que não vi e dos momentos que não vivi e " nada do que for , será...."

domingo, setembro 23, 2012

Para pessoas...Pessoa

Jacus na Bela União
"Antes o vôo da ave, que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.
A recordação é uma traição à Natureza,
Porque a Natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.
Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!"
Fernando Pessoa

quarta-feira, setembro 19, 2012

"Andar,andar,andei "




O retorno dos Estados Unidos foi longo, demorado, cansativo. Carro,ônibus,avião,carro. Paxton/Champaign/Chicago/Atlanta/Brasília/Porto Alegre/ Bela União. Muito tempo fora, muita bagagem,cansaço total. Sílvio Etchepare, nosso querido e solidário amigo, esperou-nos no aeroporto e , com ele, fizemos a última e mais difícil parte da viagem - cinco horas do aeroporto à fronteira com Alegrete. Encontrar meu irmão e meu sobrinho Cléber, desfazer malas, entregar presentes,  separar e ordenar roupas e objetos, contar e ouvir novidades...foi tudo de bom! A próxima viagem já está delineada: Deserto de Atacama. Sem perda de tempo, pois pode faltar tempo de vida.



"Partir!
Nunca voltarei.
Nunca voltarei porque nunca se volta.
O lugar a que se volta é sempre outro,
A gare a que se volta é outra.
Já não está a mesma gente, nem a mesma luz, nem a mesma filosofia."
Fernando Pessoa

segunda-feira, setembro 17, 2012

Cahokia : A Cidade do Sol



Minha imagem de Illinois estava presa à imagem dos campos planos e das grandes lavouras de milho e soja, que , diariamente, vejo nas proximidades de Paxton. Viajar para o Sul desse estado - depois de parar no outlet de Tascola para comprinhas dos indispensáveis supérfluos - fez-me descobrir , ao longo do rio Mississippi, campos diferentes, com florestas e colinas, que propiciaram nuances históricas também  diferentes daquelas com as quais eu mais convivo.


                                                                         


Esse desenho dos campos, com lugares de estratégica visão e com possibilidade de monitorar o movimento dos rios Mississippi e Missouri ,  atraiu inicialmente os índios e, posteriormente, comerciantes e missionários franceses. Os índios, é óbvio, vieram bem antes e deixaram as marcas que nos levaram à visita feita ao Cahokia Mounds State Historic and World Heritage Site, a 145 km ao sudoeste de Springfield, onde estão os vestígios do maior assentamento pré - histórico indígena norte-americano, ao norte do México : a Cidade do Sol.























O GPS nos orienta direto para o museu, que, na verdade, não é museu, é um bonito Centro Interpretativo do sítio arqueológico de Cahokia ( foto 1), sítio reconhecido pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade. Mapas, desenhos, figuras, reprodução de casas, cerâmicas e documentários em vídeo mostram, além de informações dos primitivos habitantes  descobertas no local, as etapas do  trabalho  realizado , ao longo de vários anos, por dedicados arqueólogos.



 



















O sítio possui mais de uma centena de montículos feitos de terra e madeira que , no conjunto, mostram a organização das pessoas que nele viveram seu apogeu, no período compreendido entre 1050 e 1250.A distribuição deles indicava ,ainda, um calendário solar, que demarcava as estações.O Monks Mound ( foto 3) , que cobre 6 ha e atinge a uma altura de até 30 metros, tem o topo achatado, onde se pode chegar , subindo por escadas, e de onde se tem fabulosa visão panorâmica dos vales próximos e dos arco de St.Louis (MO).























Cahokia Mounds State Historic Site é a afirmação mais abrangente das civilizações pré-colombianas na região do rio  Mississippi. É um exemplo de estruturação pré-urbana ,  uma oportunidade de estudar, através da distribuição dos Mounds, um tipo de organização político-social e econômica , não explícito em fontes escritas.






















É interessante observar que a base econômica dessas comunidades era a cultura do milho - muito importante, até hoje, para o estado de Illinois. " O sítio arqueológico de Cahokia, assim chamado por uma subtribo da Illini que ocuparam a área quando os franceses chegaram, serve como um ponto de referência para o estudo das civilizações pré-colombianas na área do Mississippi de aproximadamente 900 a 1600....























...Dentro da vasta zona de planícies e planaltos a ocupação da terra e do desenvolvimento da população sofreu uma evolução original durante a última fase da pré-história, uma vez caracterizada por avanços agrícolas e por um sistema social que favoreceu a concentração urbana....


 


















......Antropólogos estimam uma população sedentária de uma média de 10 mil habitantes, cuja organização social e profissional, estilo de vida e ritos funerários foram trazidos à luz por uma série de escavações". Embora muitas informações tenham sido obtidas, permanece, como mistério, o motivo que levou ao desaparecimento dessa população.






















No Centro Interpretativo, vídeos são constantemente exibidos. Tours são organizados para escolas e para grupos de visitantes. Há um espaço para venda de artesanato indígena e jóias com inspiração na cultura nativa,  variedade de souvenirs e  livros, em 13 línguas, incluindo Braille. Cahokia Mounds está localizado em Collinsville, Illinois, nas estradas Interstates 55/70 e 255, há quinze minutos do lado leste de St. Louis, Missouri. Informações podem ser obtidas em www.cahokiamounds.com

terça-feira, setembro 11, 2012

De Pessoa para pessoas





"Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do
abismo. 
Não sei onde me levará, porque não sei nada. 
Poderia considerar esta estalagem uma
prisão, porque estou compelido a aguardar nela;
poderia considerá-la um lugar de sociáveis,
porque aqui me encontro com outros. 
Não sou, porém, nem impaciente nem comum.



                    


Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até mim. 
Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e
canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.




Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência.
Gozo a brisa que me dão e a alma que
me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro.

Se o que deixar escrito no livro
dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. 

Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também."

Fernando Pessoa

segunda-feira, setembro 03, 2012

Pequenas Viagens, grandes conhecimentos!

Antiga Casa de Governo em Vandalia























Mover-se no mundo não implica apenas grandes viagens. Implica mover-se até onde é possível, considerando todas as interferências e dificuldades de tempo, gosto e dinheiro. Mover-me , para mim, é vital. Quando morava  em Alegrete, era uma festa ir a Quaraí, São Francisco, Uruguaiana e todas as demais cidades dos arredores. Ir a Artigas, Rivera e Paso de los Libres, então , tinha o sabor de uma viagem internacional. Morando em Santa Maria, organizei um programa para conhecer a região central - e gostava muito de subir a serra nos finais de semana.









































Trabalhando, durante um ano,  na UPF, amei visitar muitas cidades que eu não conhecia, como Serafina Correia e Selbach.  Nos seis anos em que fiz assessoria,  na SEC e na UFMS, em Campo Grande, ao programa de formação de professores-índios, tive dois fantásticos companheiros de andarilhagem - os  doutores Gilson Martins e Marina Vinhas. Conheci todo o MS, da Cabeceira do Pantanal às suas maiores e menores cidades.























Em Roraima, nem se fala! Nos dezessete anos em que viajei a trabalho para lá, conheci cada canto daquele maravilhoso Estado, desde quando era Território. Em Rondônia, fiz maravilhosas viagens de barco pelos rios Madeira e Marmoré. Inesquecíveis. Também visitei muitas cidades lá, nos intervalos das aulas de cursos em que atuei. O mesmo aconteceu com muitos outros Estados. Morar  na Bahia foi, então,  uma bênção especial. Deixei lá amigos, afilhados e meu filho caçula. Trouxe saudade e muito conhecimento dessa parte do Brasil. Foram sete anos de venturas e aventuras.



Capitólio de Springfield




















Há vários países que conheço razoavelmente , como a Itália por exemplo. Quando eu queria demonstrar, aos próprios italianos, que a conhecia muito bem, dizia : conheço até Tolfa - levada pela minha amiga Lídia -  o que ocasionava surpresa ou  a pergunta: onde fica essa cidade? Tudo isso  é para contar que , nos Estados Unidos, também continuo fazendo listas de cidades que conheço ou que desejo conhecer. Tarefa difícil já que, só em Illinois, são 1174 cidades. Estou, entretanto, lutando para conhecê-lo bem, com a diversidade - geográfica, histórica e cultural - de cada estado, que mais parecem países dentro de um grande país.



Abraham Lincoln - Springfield




















Uma das minhas últimas andarilhagens foi a Vandalia, uma pacata e pequena cidade com um bonito passado histórico.  Em 1819, o Congresso doou terras para o novo estado de Illinois, destinadas à localização de sua capital. A área, bastante  arborizada,  da margem oeste do rio Kaskaskia foi  a escolhida, e muitos trabalhadores começaram logo a tarefa de construir ali  uma cidade.
Vandalia tornou-se a  capital de Illinois em 1820.




Naperville - Illinois




















Durante o governo do estado, no tempo em que esteve  localizado em Vandalia, os legisladores promulgaram um ambicioso programa de obras públicas e promoveram  o desenvolvimento econômico e cultural da região. Foi em Vandalia que Abraham Lincoln iniciou sua carreira como político e advogado. Mais tarde, por questões de poder político, a capital de Illinois foi transferida para Springfield, onde se encontra até hoje.








































Depois de cinco meses nos Estados Unidos, estou organizando minhas bagagens para partir. A primeira bagagem é pesada e carregada de afeto em forma de presentes. A segundo não pesa, mas é muito grande, carregada de informações, bonitas lembranças e tentativas de aprofundar a compreensão deste mundo diverso e complexo.



Ronald e Daniel, seu pai adotivo.



















Acredito, entretanto, que informações , conhecimentos e experiências pouco servem se não nos ajudam a ser gente melhor - gente boa mesmo, principalmente sem preconceito com pessoas ou povos.


"Não quero a noite
senão quando a aurora
A fez em ouro e azul se diluir.
O que a minha alma ignora
É isso que quero possuir."


Fernando Pessoa


Ronald e  sua irmã  Nina