quinta-feira, agosto 25, 2011

Reminiscências : na Maturuca, em Roraima.

Maturuca RR
















Organizando roupas, anotações e documentos para viajar, encontrei vários " diários de campo" , que fiz em Roraima, nos 18 anos em que lá trabalhei como assessora da Secretaria Estadual de Educação. Foram, em média, três viagens a  cada ano, tanto para Boa Vista, quanto para comunidades indígenas. Selecionei partes de alguns textos e, no próximo fim de semana, pretendo postá-los aqui. Embora antigos ( 1982 a 2000) , evidenciam uma realidade que eu gostaria de mostrar a meus netos.
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Março/1998 - Fizemos 170 km de estrada asfaltada (asfalto muito ruim!). Depois, estrada de terra - cada vez menos parecida com estrada. Na subida da Serra, está péssimo o caminho. Há também muitas queimadas. Não chove "desde o ano passado" segundo me disseram e há previsão de chuvas somente em final de abril (...) Foram 9h30 min de viagem até chegar à Maturuca. Pensei que o caminhão não ia aguentar. Está com a cabina toda furada. O motorista disse que costuma ter mais poeira dentro dele do que na estrada.Cheguei com os cabelos duros dessa poeira fininha. Nos braços, onde eu havia passado protetor solar, instalou-se uma camada de pó que parecia gesso.Como sempre , saí de Boa Vista com quatro pessoas e cheguei com mais de vinte (...) Há sempre pessoas querendo visitar parentes em outras comunidades, e transporte, só " carona" mesmo.
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Maturuca situa-se em um vale, cercada por serras enormes. As casas,  típicas dessa comunidade, acompanham esse " cerco" das montanhas , em harmonia com o ambiente. Verdadeira paisagem " combinada".  Quando finalmente cheguei, naquele momento e naquele lugar , a Escola parecia-me cenário de sonho: crianças, impecavelmente uniformizadas, professores e pessoas da comunidade, com seus adereços típicos,cantavam e dançavam  para me receber. Explicaram - me a canção e os movimentos.Mostrava um bando de borboletas, na beira do Rio Maú,  dançando para receber uma borboleta diferente, que voara de muito longe, para trazer-lhes alegria. Recebi presentes, chorei muito e, como sempre, lamentei nâo ter uma filmadora para registrar este momento tão " forte".
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Estou hospedada na casa de Inácio ( macuxi) , diretor da Escola, e Elínea, sua esposa,  professora de Português e Macuxi.Eles fazem parte do primeiro grupo de professores com que comecei a trabalhar em Educação Indígena.Têm três filhas - Margarete,Ivete e Ivanete - e  dois filhos adotados - Lázaro e Isac. Isac é Wapixana. Lázaro é Macuxi. Deito , no máximo, às 19 horas. Levanto às 05 horas.Às vezes , tenho preguiça de acompanhar os hábitos de higiene: três banhos por dia - de manhã cedo, ao meio dia e à tardinha. No mais, procuro seguir os hábitos do grupo. Vou ao rio, que não está longe, dou um mergulho rápido,  passo sabâo na roupa que estou vestindo, esfrego-a no corpo mesmo, mergulho, novamente, naquela água  cristalina. Repito duas vezes esse processo. Minha roupa fica limpíssima. Troco-a por uma roupa seca e estendo as roupas molhadas.


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Observo que as crianças são educadas para participar e ajudar dos trabalhos em casa e na comunidade. Vi meninos e meninas, cedo da manhã, varrendo o pátio,molhando plantas,dando comida aos " bichos", arrumando a casa, dando comida aos irmãos menores.Todos, quando tomam banho, lavam suas roupas.Ivete, de 12 anos, lava minha roupa todo o dia. Hoje, ao voltar da escola, encontrei meus tênis limpíssimos,secando. Isac, com quatro anos, virou leite acidentalmente e, sem que ninguém mandasse, foi lavar-se e limpar o chão. Vi esse mesmo menino  buscar cebola e alho para sua mãe : distinguia um do outro e questionava a necessidade de ser grande ou pequeno,perguntando: "quantas pessoas vão comer aqui em casa hoje?"
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Avó e neto macuxi
















Um outro dia, buscarei mais " Diários de Campo" e transcreverei aqui outras passagens. Preciso de mais tempo! Foi essa uma das experências mais ricas da minha vida. Aprendi muito mais do que ensinei. Aprendi vida; ensinei técnicas que me eram solicitadas pela escola . Agora , preciso organizar mala e mochila porque " Lá vou eu..."

sexta-feira, agosto 19, 2011

Entre espirros e tosses...

O mês de julho e parte deste mês de agosto foram-me bastante difíceis. Voltei da Bahia fragilizada, gripada e com desestrurante tosse. Fiquei assim, muito ruim, até ontem. Felizmente comecei a melhorar. Há dias que, como escreveu Guimarães Rosa, o que a vida quer da gente é coragem.

Aos poucos, vai-me voltando o ânimo e a alegria. Já estava mesmo na hora! Tenho uma agenda de tudo o que preciso fazer antes de viajar. São muitos os itens a cumprir, referentes ao que vai ficar e ao que vou levar. Sorte minha que sempre conto com pessoas amigas e atentas, que me ajudam nas horas difíceis.

Na agenda, a lista do que necessito colocar na mala: protetor solar, produtos de higiene,  tênis, sandália, roupas - poucas - em três cores para facilitar as combinações e alguns presentes ;  na mochila, documentos, mapas, I-Pod, câmera, medicamentos e o meu inseparável " micrinho" .

Como será verão/outono na Europa, tudo fica mais fácil. Levarei apenas um casaco leve, já que, na Escandinávia e nos Balcãs, deverei encontrar um pouco de frio. Experimentarei o vôo Porto Alegre/ Lisboa. Considero uma bênção não fazer conexão em São Paulo ou Rio.

Uma amiga costuma me dizer que melhor do que viajar é ter viajado. Eu curto todas as etapas. Amo também planejar viagens. Há poucos dias, recebi de uma senhora de Minas um e-mail bem interessante. Após me dar consistentes informações sobre ela e sobre seus sonhos de viagem, perguntava-me se eu podia planejar, com muitos detalhes, uma visita , dela e de uma amiga, ao Leste Europeu, durante 20 dias. Perguntava-me ,ainda, quanto eu cobraria por esse trabalho. Respondi, lembrando-lhe o filme Esse Mundo é dos Louco, produção franco-italiana, dirigida por Philippe de Broca e sucesso nos anos 60. O enredo é lindo. Uma pequena cidade francesa, durante a 1a. Guerra Mundial, é abandonada por seus habitantes, ficando apenas as pessoas consideradas loucas que estavam numa clínica. O filme se desenvolve mostrando a insanidade das guerras e fazendo um contraponto com a sanidade poética dos pacientes. Um dia, essas pessoas saem e fazem uma grande festa na cidade. Entre elas ,está um homem que amava ser cabelereiro. Ele , entao, assume um salão de beleza, corta e arruma os cabelos das pessoas e paga a elas pelo prazer do trabalho. Era isso o que eu me propunha a fazer também!

sábado, agosto 13, 2011

Bom domingo!



"Não importa se a estação do ano muda...
Se o século vira, se o milênio é outro.
Se a idade aumenta...
Conserva a vontade de viver,
Não se chega a parte alguma sem ela."

Fernando Pessoa



quinta-feira, agosto 04, 2011

Plano de Viagem




Com tempo ruim - frio , chuvoso, nublado, com geada e vento – e gripe e bronquite, preciso de um plano de dias melhores. Não vale pensar unicamente na primavera nossa que se aproxima. Quero mais. Andarilha que sou, projeto, com detalhes, uma viagem ao outono europeu.

Além de lugares já conhecidos, que sempre dá prazer revê-los, incluo outros não muito conhecidos:  três Países Bálticos. Planejo usar trem para percorrer as distâncias entre cada um deles, com a finalidade de melhor conhecê-los. Outros trechos, em outros países,  serão feitos de avião – com o aumento dos vôos low cost ficou mais barato usar avião do que trem.

Saindo da Escandinávia, devo chegar primeiro na capital da Estônia. Tanto quanto eu sei, Tallin é uma bela cidade medieval, com grandes parques nacionais, excelentes museus e vida cultural intensa. É o país de origem da família de meu grande amigo Oscar Lepikson – já comecei a sentir-me em casa!

Depois vem Riga, a capital da Letônia, a maior e a mais cosmopolita das cidades do Báltico. É Patrimônio Mundial da UNESCO e terra natal de Edith, minha amiga e mãe de Valéria, minha nora –o que me torna  mais íntima da região! Quero muito visitar a cidade Velha de Riga,com igrejas,monumentos,museus, parques, palácios , que dizem ser fantásticos.

Antes de entrar na Polônia, alguns dias em Vilnius completarão a visita aos Países Bálticos. Li sobre a arquitetura barroca típica da Lituânia e que a diferencia das demais cidades européias. Na agenda, reservei um dia para ver Trakai e seu curioso castelo, construído numa ilha , no meio de um lago.

Decidido o roteiro, tenho lido muito sobre os estilos arquitetônicos, a geografia, a cultura, e as atrações dessas três capitais. Estou ansiosa para aportar lá. Antes disso, urge livrar-me desta gripe e desta desestruturante tosse. Preciso de chá,aspirina, mel,  limão,rezas e promessas.

“Não sabia por caminho tomar

Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.
Assim tem sido sempre a minha vida, e
assim quero que possa ser sempre —
Vou onde o vento me leva .... “

Fernando Pessoa

segunda-feira, agosto 01, 2011

Texto

Castelo de Garcia D'Ávila - BA
"Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há idéias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora; 
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela."
Fernando Pessoa