domingo, junho 28, 2009

Para meus netos

Acordei hoje desejando conversar com vocês já adolescentes. Decidi, então, escrever. Embora o Pedro me diga que eu sou "quase eterna", melhor fazer um texto com antecipação. Vocês são ainda pequenos, e eu já passei dos sessenta anos. Melhor mesmo "garantir".

Somos de família amorosa. Somos naturalmente bastante afetivos. Imagino-os apaixonados. Imagino-os vivendo amores intensos. Custou-me entender algo que lhes quero contar. Ao longo da vida, vivemos grandes amores - e podemos viver muitos amores também. Algumas pessoas, como tio Daudt e a tia Maria do Carmo, podem ser o único amor um do outro, por toda a vida.

 

               Feliz deles porque vivem felizes . Outras pessoas lembram um amor passado, às vezes o primeiro amor, como o grande ou o único amor de suas vidas - eu acredito que essa crença aumenta com o tempo e com as idealizações do que não se esgotou. Outras, como eu, acreditam que o grande amor é o que estamos vivendo, não importa em que idade ou fase da vida. Tenho muito carinho pelo meu passado. Tenho muito carinho pelo Arilton, meu primeiro amor . Tenho muito carinho por todos os amores que tive ao longo de muito tempo. Todos únicos e muito especiais. Neste momento, tenho , no Ronald, o amor da minha vida. Bonito e intenso. É o amor do presente, o amor que estou vivendo. Isso é o que importa.

Meus maravilhosos meninos, vivam intensamente todos os amores: amor pelo trabalho, amor pelo conhecimento, amor pela Humanidade, amor por alguém e, acima de tudo, amor pela vida. Sim! e não esqueçam de expressar o amor por mim, que os amo tanto.


"Eu, enfim, que sou um diálogo continuo,
Um falar-alto incompreensível, alta-noite na torre,
Quando os sinos oscilam vagamente sem que mão lhes toque
E faz pena saber que há vida que viver 
amanhã.
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Mas o fato é que sempre é outono no outono,
E o inverno vem depois fatalmente,
há só um caminho para a vida, que é a vida."
Fernando Pessoa - 1916

terça-feira, junho 23, 2009

Rumo ao Alegrete!


Hoje à noite, irei para o Brasil. Depois dos últimos acidentes aéreos, viajo com medo. Lembro-me que, no início de fevereiro deste ano, quando eu ia pela Air France para o Egito, ao iniciar o vôo sobre o oceano, houve uma forte e longa - mais de uma hora - turbulência. Tranquilizei-me ao pensar que era uma Companhia aerea segura! Deu no que deu. Quando adolescente, aprendi com Cantañeda que vive bem quem tem a morte como companheira. Esse aprendizado me fez valorizar cada momento da minha vida e da vida daqules a quem amo - e foi um bom antidepressivo também. Já escrevi tantas vezes que a vida é feita de chegadas e partidas - para mim , neste momento, conflitantes. Quero ir; gostaria de ficar. Saudades de pessoas de lá; saudades de pessoas daqui. Como diz a Neneca "tudo isso é parte da aventura de viver".

sábado, junho 20, 2009

"Cada coisa a seu tempo..."



Estou, novamente, em Atlanta.
Havia já decidido ficar alguns dias com Patati, Valéria e Massimo antes de retornar ao Brasil.
Foi difícil, entretanto, sair de Illinois porque Ronald deve ainda permanecer lá até setembro. Depois, dividiremos nosso tempo entre o Brasil e os Estados Unidos. Claro que vou continuar viajando - a única diferença é que não mais estarei sozinha. Somos os dois aposentados!


Agradeço por ter, como escreveu meu amigo Luís Alberto Sanz uma vez, "a possibilidade de introduzir novos fragmentos no mosaico da vida". Belos fragmentos agora.
Agradeço também todas as mensagens que recebi e que muito me sensibilizaram. Pretendo respondê-las logo que eu chegar em casa.
Estou tranquila, estou em paz.
Parece mesmo que:
"Cada coisa a seu tempo tem seu tempo.
Não florescem no inverno os arvoredos,
Nem pela primavera
Têm branco frio os campos."
Fernando Pessoa

sexta-feira, junho 05, 2009

Illinois


Gosto da "Terra de Lincoln", como Illinois é chamado. Fora Chicago, é um Estado predominantemente rural. É bonito viajar por suas estradas vicinais, ladeadas por terras com grandes plantaçoes ou preparadas para plantar. Encantam-me , sobretudo, o verde das árvores frondosas que me fazem pensar que, na Bela União, temos apenas arbustos. Vivo em Pana, pequena cidade perto de Springfield, onde vou seguidamente e onde tem um parque grande e belíssimo e um bairro com casas fantásticas e jardins enormes. Estou bem aqui. Sinto-me em casa.

quinta-feira, junho 04, 2009

Que assim seja!



Um dia, quando eu era muito jovem, acreditei na instituição casamento. União estável . Senso de família. Presença amorosa. Projetos comuns. Partilha cotidiana. Ética nas relações. Generosidade e gentileza nos sentimentos.

Um dia , já faz muito tempo, eu deixei de acreditar na instituição casamento. Perda sucessiva de referenciais de lealdade e afeto. Sensação de morte. Ruptura sofrida. Revolta dolorida. Vazio. Solidão aceita.

Superadas as duas fases, assumi minha solteirice. Liberdade total. Autonomia total. Solidão idem - autonomia e solidão se aproximam sempre. Maturidade bem amadurecida. Relacionamentos , ainda que efêmeros, fantásticos por si mesmos ou pela aprendizagem aportada. Embora sendo um riquíssimo período de vida, desejei modificar esse percurso. Não queria mais estar sozinha no café da manhã ou nas manhãs da vida. Milan Kundera escreveu algo semelhante a mais importante do que dormir junto é acordar junto. Eu desejava afeto e companheirismo.

Um dia, portanto, voltei a acreditar na instituição casamento - para toda a vida, considerando que esta minha vida já não será longa, ainda que eu supere as estatísticas oficiais. Desta vez, especial atenção à gentileza dos sentimentos e à fidelidade dos atos e das palavras. Projetos de -simplesmente - viver bem. Resgate do desejo de uma vida compartilhada com ânimo e encantamento. Tudo pronto. Estou feliz.
”Eu tenho uma espécie de dever, dever de sonhar, e sonhar sempre, pois sendo mais do que um espetáculo de mim mesmo, eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso.” Fernando Pessoa