sexta-feira, junho 13, 2008

"O que dá pra rir / dá pra chorar..."


Quando cheguei a Napoli, decidi logo viabilizar meu acesso a internet. Como viajo com notebook, precisava somente de uma forma de conexão. Fui a uma loja de telefones e comprei, por 150 euros, um telefone-moden , numa promoção que me disseram permitir o uso da internet , gratuitamente, por um mês. Seria vantajoso já que vou permanecer aqui por esse tempo. Voltei toda contente para casa. Mal sabia que estava entrando num labirinto que faria Kafka se sentir um principiante. Surrealista!
Tentei fazer a conexão de forma intuitiva. Não consegui. Acreditei ser erro meu. Li, então , todo o Manual. Continuei não conseguindo. Voltei à loja e falei com um funcionário. Ele me disse que era muito simples e que eu não devia estar fazendo o certo e que voltasse no dia seguinte, trazendo junto o PC. Voltei. Outro funcionário me veio atender. Contei novamente toda a história. O menino foi muito gentil e bem que tentou ser eficiente. Durante duas horas procurou fazer a conexão sem sucesso. Com ele, descobri que a promoção não era de um mês : era de dez horas que eu poderia usar durante um mês. Quando terminasse esse crédito promocional, deveria recarregar normalmente o telefone - e cada hora de internet custaria quatro euros. O telefone começava a ficar caro.
Estava na hora de fechar a loja. Pediu-me que eu voltasse no dia seguinte, às 9horas, segundo ele, hora de pouco movimento. Voltei. O menino chegou atrasado e continuou não conseguindo a conexão. Concluiu, então, que eu devia recarregar o telefone para ver se funcionava e, depois, usaria a promoção. Concordei em fazer crédito de dez euros. Funcionou. Em casa, consegui conectar-me o notebook. Tudo resolvido, pensei!
Que nada. Três dias depois, após um total de duas horas e meia de funcionamento, bloqueou o acesso. O telefone só estava funcionando com os dez euros que eu havia creditado.Terminara!
Preciso fazer um parêntese. A loja é bem bonita. Na entrada, “prende-se” uma ficha que indica o número de ordem para ser atendido. Um grande mostrador, colorido e luminoso, deveria estampar o número do “paciente” , verdadeiramente um paciente, porque naquele caos precisava-se de muita paciência. Pois bem, o mostrador não mostrava! Uma recepcionista indicava a pessoa a ser atendida, não sem antes opinar sobre o que deveria ser feito antes de ir ali. Essas recepcionistas, entretanto, pareciam odiar a empresa onde trabalhavam. De má vontade , grosseiras, com ar cansado. Um horror.
Volto à Loja. Chego avisando que estou em férias, numa cidade bonita, que não quero me irritar, que só vou comprar créditos sem falar nada mais. Sou atendida, ponho trinta euros de crédito, recebo a nota e a confirmação e volto para casa. Já é noite. Tento conectar o PC. Não conecta. Por intuição do problema, tento fazer uma chamada. Escuto, então , o aviso de que não havia crédito no telefone.
Na manhã seguinte, torno à loja. A recepcionista do dia fez a anterior parecer uma lady. Grosseira e mal-educada. Começou me dizendo que eu telefonasse para o 119, número de informações, e depois me fez contar por que eu estava ali. Contei , omitindo os problemas anteriores. Só falei sobre a recarga. Ela , evidenciando claramente um preconceito, me pergunta para onde eu havia telefonado , se tinha sido para a Ucraina! Sem perder a paciência, informo que não sou ucraniana, que sou brasileira e que não gastei todo o crédito e que só chamei para ver se o crédito feito havia "arrivato". Ela me faz esperar. Sou atendida , a seguir, por um técnico. Descubro, então, que o creditamento pode ser feito até 24 horas depois. Mandam-me retornar no dia seguinte, não sem antes me dizer que , se eu não tiver o comprovante de pagamento, nem adianta voltar. Tenho.
Sim!!! Havia me esquecido dos telefonemas ao 119! Muitos. Todos do tipo que conhecemos quando vamos cancelar um serviço pago. Após muita música e de clicar muitos números, um atendente me diz que a promoção não é bem assim e que eu devo ter entendido mal. Depois de ser tratada como idiota, o técnico me diz para retornar à loja e tentar resolver lá os meus problemas. Tudo bem. Foi ótimo aperfeiçoar meu italiano, escutando dezenas de gravações e ouvindo muitas perguntas e respostas, ainda que imbecis. Até agora, não me irritei nem perdi o bom humor. Penso que perder mesmo só vou perder os duzentos euros! Já estou conformada. Em Vomero, não há nenhum “ponto de internet”, ao contrário de bairros onde há muitos “extracomunitários”. Como estão longe e em lugares onde não me aconselham a andar, permaneço com acesso muito restrito à internet. Mas o labirinto não terminou ainda.
Quando se completam as 24h, torno à loja. Espero 40 minutos. Ao ser atendida, informam-me que , de fato, a recarga foi feita, só não “arrivou” ao meu telefone.Um problema no sistema, segundo o atendente. Começo a rir. Pergunto como será a continuidade da história. Ele me pede o passaporte para encaminhar uma reclamação. Eu havia deixado o passaporte em casa. Vou buscá-lo. Torno à loja. É feito um fax para a empresa. Pedem-me para esperar mais 24 h. Continuo a rir. Conto fatos pitorescos dessa minha “peregrinação”, como a história da recepcionista que havia perguntado se eu gastara os créditos telefonando para a Ucraina. O rapaz ri e diz que ele não cometeria esse erro, apesar de eu ser loira e me parecer com a gente eslava, e que estava certo de que eu era brasileira, porque só alguém do Brasil poderia rir diante de situação como aquela, que eu chamava de “labiríntica”. Não resolveu nada, mas foi gentil e atencioso. Até hoje, não chegou o crédito. Eu desinstalei agora essa "desgraça"de telefone.
Desisti.
Faz de conta que fui assaltada e que , por sorte, só levaram 200 euros.

2 comentários:

  1. Aldema!!

    Como dizem lá na campanha é um história que serve pra gente se conformar.
    Essas barbaridades acontecem no Primeiro Mundo também e são repletas de sofisticações. E, pelo que entendi, nesse ponto, nos ganham de goleada! E tudo passa a ser normal.
    Olha o que encontrei de Pier Paolo Pasolini:
    “Nello stato di normalità non ci si guarda intorno: tutto, intorno, si presenta come normale - privo della eccitazione e dell’emozione degli anni di emergenza. L’uomo tende a addormentarsi nella propria normalità, si dimentica di riflettersi, perde l’abitudine di giudicarsi, non sa più chiedersi chi è. È allora che va creato artificialmente, lo stato di emergenza: a crearlo ci pensano i poeti. I poeti, questi eterni indignati, questi campioni della rabbia intellettuale, della furia filosofica”.
    Beijooooo!!!!

    ResponderExcluir
  2. deus do céu.
    até parece o Brasil. :(

    ResponderExcluir

Obrigada. Logo responderemos sua mensagem.