terça-feira, janeiro 29, 2008

"Dia dois de fevereiro..."


Mês de janeiro, mês de ressaca.
Dezembro desnuda o que faltou fazer. Dezembro nos cansa na busca de conclusões antes que o ano acabe. Além de cansar, dezembro expõe feridas, sensibiliza, emociona _ "o que dá pra rir dá pra chorar...".Traz à tona fatos e acontecimentos passados - bons e ruins. A tudo move, mobiliza, acrescenta. Passa Natal. Passa o Fim-de-ano. Passam as festas.
Inicio o janeiro com as sobras do ano anterior , incluindo as questões em aberto, as avaliaçoes, decisões e metas ainda por definir ou completar. Assumo as decisões e metas e busco, durante esse mês, a incorporação delas ao meu cotidiano. Janeiro é a transição, ainda não é o Ano Novo.
Aproxima-se o fevereiro. O ânimo já é outro. Herança dos anos que morei na Bahia, amanheço cantando "Dia 2 de fevereiro, dia de festa no mar...." Faço cronogramas e projetos. Os onze meses restantes me parecem pouco para a execução dos meus planos .
Quero realizar muitas coisas, mas pequenas coisas. A mim importa que sejam realizadas com alegria, bom humor, leveza, esperança. Importa também que sejam realizadas com independência e autonomia . Autonomia e independência não estão no meu espaço de negociação , mas no espaço da resistência. Delas não abro mão. E com elas me organizo para o meu ano novo que começa neste próximo fevereiro.

sábado, janeiro 26, 2008

Quase ao amanhecer...a foto também!


Depois de escrever o texto anterior, não consegui dormir : nostalgia, saudade - saudade aqui definida e sentida como "alegria de ter tido, tristeza de não mais ter".Bem...importa que tenho o presente, vivo e tenho projetos.
"Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente.
Não pertencer nem a mim.
Ir em frente,ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir.
Viajar assim é viagem
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu." Fernando Pessoa

sexta-feira, janeiro 25, 2008

"Amigo é coisa pra se guardar ..."

Gugu me pediu para eu escrever sobre os amigos dos meus filhos. Ele gostaria de que "os pequenos da família" pudessem um dia ler sobre essas pessoas. Eu posso escrever sim. Sobram-me lembranças - e saudades.
Assim, com esse registro, atendo também ao objetivo deste blog: transmitir informações aos nossos descendentes, contando a eles, com afeto, um pouco de nossa história.

É madrugada. Estou na praia e estou sem sono. Não preciso levantar-me cedo, portanto disponho de tempo. Posso escrever, pensar, recordar momentos e pessoas importantes na minha vida e na vida das "crianças".

As recordações nao têm cronologia nem hierarquia. Simplesmente jorram - e eu as registro assim.

Recordo Fabiana, em seus primeiros aniversários, já acompanhada de muitas amigas e amigos, crianças lindas que se tornaram belos e batalhadores adultos: Cristiane, Desirée, Gutinho, Neto, Daniela, Maninha, Eleonora, Anizereth, Adriana.

Fabiana tinha e tem ainda um amigo muito especial, que é André Ricardo. Quando eu saí de Santa Maria, Ricardo, com toda a sensibilidade e generosidade que o caracteriza, ofereceu-se para ficar com a Gata ( assim mesmo, nome próprio, por isso escrito com letra maiúscula), uma siamesa velhinha, os mimos do Patati. Gata ficou com ele até morrer.
Ilka, minha grande amiga, e eu esperávamos nossos bebês para o mesmo período. Quando eu fui para o Hospital fazer cesareana, ela solidariamente me acompanhou. Nasceu Gugu e, quinze minutos depois, nasceu Viviana; cinco minutos mais, e nasceu Valéria. As meninas sempre o consideravam o mais velho, assim como eles consideravam Valéria a caçula dos três. Foram as primeiras e maravilhosas amigas de meu filho. Os outros filhos da Ilka e do João ( Ricardo,Sérgio e a minha afilhada Adriana) sempre foram amigos da Fabiana e do Patati. Criaram-se muito próximos.

Meus filhos eram amigos dos meus amigos. Recordo nitidamente alguns deles chegando à minha casa, sábado à tarde, com revistas, CDs, livros. Não vinham visitar a mim. Vinham visitar os meninos. Esses amigos transmitiram valiosos ensinamentos a meus filhos, além de serem referência afetiva para eles. Até hoje, pessoas , como Daudt, Maria, Fausta e Neusa ( do Centenário) ,Rosana, Benetti, Rolando, Nica, Ronaldo, Antoninho, Déborah, Clóvis, Ronai, Pithan, Ana, Marta, Afrânio, Neneca, Cláudio Lovato, Luís Antônio, Odilon, Odete, Edmea,Luís Behares, Adalberto, Maria Alzira, continuam sendo amigos de meus filhos, sempre lembrados por eles. Na Bahia, agregamos a esses amigos algumas pessoas muito especiais - Oscar Lepikson,Tomás, Sebastião, Lúcia Matos , Pe.Pedro, Ramón e Anajar - por quem Gugu e eu temos um grande afeto.
Dos tempos do Colégio Centenário, onde os meninos estudaram, lembro de dois amigos do Patati : XS ( penso que o nome era Alexsandro) e João Batista. De Alegrete, lembro mais do Gabriel Moojen e do Caco. Já na UFSM, ele teve amigos maravilhosos: Verinha Mazza, Iva, Fábio, Otto, Jaques, Luciano Sulzbach, Adriano Vargas, Flavio Zimermann,Guinot , Luciano Juchen, Miriam Pfluger, Edson (SP), a Marcinha Jappe. Quando Patati foi picado por uma cascavel e esteve em estado gravíssimo, eu recordo , um por um , os meus amigos, durante muitas horas, em frente ao CTI . E ali estavam também os amigos do meu filho e , muitas vezes, os pais desses amigos. Nessas horas, quando a dor e a angústia pareciam ser maiores do que eu mesma, o apoio e a solidariedade foram também intensos, constantes e inesquecíveis.
Gugu sempre foi muito generoso e acolhedor. Quando pequeno, em Camobi , era amigo de . Mariozinho, Melina, Gustavo, Fernanda e Gabriela, Cristhian, Rodrigo e Adriane, Lucas e Marcos. Depois, na UFSM, ele era amigo de amigos do Patati e de outros que vieram mais tarde, quando Patati já havia viajado para trabalhar. Lembro, com carinho, da Maíra, da Taiara e do Tadany, que muito transitaram pela minha casa; de Henry, Naiane,Vianei,Daniela Oda,Thais e Larissa Verissimo, Andres, Roberta Perdomo, Luciano Gifonni. Na Bahia, Gugu deixou outros bons amigos : Filipe, Juares, César,Hermerson, Maria Helena, Thais, Rosalia e Gabriela. Tanto na Bahia quanto no Sul, GAdicionar vídeougu sempre foi muito amigo do Betinho e do Hélvio, meninos que aprenderam, especialmente com a mãe deles, a serem amigos dedicados e verdadeiros.

Fabiana , Patati e Gugu , em diferentes momentos de suas vidas, foram amigos de Fabricio. Tão longa e efetiva convivência, fez com que Fabricio fosse assumido como mais um dos meus filhos.Hoje ele vive na India, e nós sentimos saudades dele.

Durante um ano, morou conosco Ryan, um menino do Canadá. Antes disso , Patati havia morado com Ryan em Saskatoon. Alegre, inteligente, íntegro e muito "gente boa" marcou sua passagem pela nossa casa com afeto e amizade. Sempre o recordamos.


É. Eu deveria ter escrito sobre os amigos dos meus filhos há bem mais tempo. Hoje , quando penso neles, relembro imagens, falas, sorrisos, risadas, discussões, aprendizados, mas já não recordo muitos nomes. Bom seria que todas as pessoas escrevessem diários ou blogs, guardassem cartas, agendas e fotografias, fizessem, enfim, registros que impedissem o esquecimentos de pessoas e fatos, bonitos e marcantes, partes da história de quem amamos tanto.
Penso agora por onde andam essas meninas e esses meninos? Que caminhos escolheram para trilhar? Qual o destino de cada um?

"O que for a profundeza do teu ser, assim será teu desejo.
O que for o teu desejo, assim será tua vontade.
O que for a tua vontade, assim serão teus atos.
O que forem teus atos, assim será teu destino."
Brihadaranyaka Upanishad IV , 4.5

domingo, janeiro 20, 2008

Aos pequenos de minha família



Quando eu era menininha e vivia na Bela União, minha mãe, nas longas noites de inverno, depois de limpar a cozinha e enquanto costurava, remendava, "escolhia" feijão ou iniciava o preparo de algum alimento para o dia seguinte, contava-nos histórias dela e de nossas familias materna e paterna.
Minha mãe falava também de sua infância, de suas irmãs e irmãos, de seus pais, tios, padrinhos, primos e primas. Falava sobre lugares, roupas, objetos, boas maneiras e costumes em geral da região .

Desde cedo fui apresentada e inserida numa família muito grande. Desenvolveram, dessa maneira, em todos nós, o senso de historicidade : antes de nós, começara já a nossa história. Aprendi, assim, quem eram e como eram e como se chamavam meus parentes - alguns já mortos , como tio Oscar e tia Lola, e outros que eu não cheguei a conhecer. Eram histórias bonitas. As histórias "feias " seguramente não podiam ser contadas para as crianças.

Eu amava essas narrações, intercaladas por descrições minuciosas de cenários, comportamentos e caracteríticas pessoais .Quando eu aprendi a escrever, fazia listas com os nomes das pessoas da família ( estratégia que usei muito na escola, quando trabalhei com crianças, visando à fixação da grafia, o uso de maiúsculas com substantivos próprios e à integraçao delas no universo familiar ).

Aprendi o nome de minhas tias e tios maternos : Luís, Lourival ( Lorito), Oscar, Claristina, Carmela, Ítala, Maria Júlia, Lola, Alda. Aprendi o nome das minhas tias e tios paternos: Bernardo, Joaquim Luís, Constantino, João, Tobias, Napoleão, Estêvão, Alberto, Maria Antônia, Constância(Pina) e Maria Rosa.
Pensei nisso hoje, ao falar para o Pedro ou relembrar com ele o nome de seus tios , dos primos de sua mãe e dos filhos desses primos. Dei-me conta de que a família cresceu muito, os contatos já não são freqüentes e muitos dos "pequenos" eu nem os conheço. Não consegui relacionar o nome de todos os filhos dos meus sobrinhos, de quem eu sou tia-avó. Procurei fotos e fiz uma amostragem. Crianças, adolescentes e jovens lindos - lindos mesmo esses bisnetos dos meus pais.
O poeta e jornalista angolano Aires de Almeida Santos escreveu " os netos são filhos com açúcar"... imaginem os bisnetos!

domingo, janeiro 13, 2008

"Filhos... Filhos?Melhor não tê-los!"


















Filhos... Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?

..................................

Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos

..................................

Chupam gilete
Bebem shampoo
Ateiam fogo
No quarteirão.
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!

Li esse Poema Enjoadinho quando eu não tinha filhos, quando a filha era eu ( Vinicius de Morais o escreveu na década de 60) . Achei-o bonitinho. Hoje ele me parece incompleto. Passa a fase de beber shampoo - e os meus beberam. Passa a fase da adolescência - belissima, mas mesclada de angústias e inseguranças.... Tornam-se adultos - a fase hoje das minhas crianças. E, então, vão embora! E têm que ir. Mas vem a saudade - essa saudade que me faz falta o poema referir.

Recordo quando Patati , que estava terminando a Universidade , reclamou do pouco tempo de que eu dispunha para estar com ele. E me disse: "logo eu vou embora e não teremos mais esse tempo para conversar e conviver". A afirmação me pareceu estranha. Meus filhos sempre estiveram comigo. Eu sentia como se isso fosse para sempre. Já faz 12 anos que ele foi morar em Atlanta. Fabiana havia saído antes de Patati. Gugu saiu há quase dois anos. Foram-se!

Aprendi com minha mãe que não se deve chorar facilmente. "Quem por tudo chora, por nada tem sentimento" dizia sempre ela. Eu raramente choro. Hoje, entretanto, chorei de saudades dos meus filhos. Recordei-os em todas as suas idades. Lembrei-me de suas histórias, de suas roupas, de seus brinquedos, de suas festas de aniversário, de seus problemas na escola, de seus amigos, de suas doenças, de suas alegrias, de suas dores, de suas paixões. À saudade deles acrescentei também a saudade de outros filhos que a vida me deu: Mile, Claudinha, Frederico, Fernando, Fabianinha, Cláudio, Edmara e Fabricios ( o Menine e o do Canto). Todos tão maravilhosamente diferentes entre si. Todos tão bonitos e tão boa gente. Todos , com exceção da Fabianinha, neste momento, estão geograficamente distantes de mim. Todos , contudo, tão presentes no meu afeto e nas minhas lembranças.


Quando penso nos meus filhos, penso nos meus erros e acertos. Nos erros, principalmente, embora a gente nunca consiga delimitar ou visualizar essa fronteira entre acerto e erro . Já faz alguns anos, recebi uma mensagem do Patati .Esquecendo os conselhos da minha mãe, chorei muito ao recebê-la!Deixo-a aqui para os meus netos ( licença, meu filho?):


"A minha mae gosta de jardins e plantas. Em todas as casas que nós moramos, ela plantou um jardim enorme. Arvores frutiferas, flores, arbustos. Plantas que, depois de muitos anos, depois que a casa já tinha esquecido da gente, certamente dao frutas e alegria e sombra para pessoas que a gente nunca conheceu. Ela plantava sem nunca se perguntar para quem plantava ou quem colheria os frutos.

A minha mae gosta de gente. Por todos os lados onde ela passou, ela cultivou gente. Como plantar um jardim. Encontrar boas pessoas, coloca - las no lugar correto, dar as condiçoes para que cresçam, o apoio, o ombro para chorar quando precisam, o puxao de orelha quando necessario, principalmente o entendimento de que cada pessoa cresce diferente, e que o papel do jardineiro nao é de crescer a planta, é só de fazer o possível para que a planta possa crescer.

A minha mae gosta de ser mae. É a maior mae do mundo. É mae minha, do gugu, da Fabiana, do tio mile, da fabianinha, do fernando, do fabricio, de tanta gente que eu conheço, de outras tantas que eu nunca conheci. O mais incrivel é que mesmo tendo que dividir a minha mae com tantos outros filhos, eu nunca tive falta de mae. Sempre teve amor para todo mundo - e de sobra.



Eu te amo muito Mae, feliz dia das maes!


Patati


Obs. Sempre que a leio, choro.Apesar do exagero, quero acreditar no meu filho.Me faz bem.

quarta-feira, janeiro 09, 2008

Amanheci pensando assim...

"Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há idéias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada e todo o mundo lá fora
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela."


Fernando Pessoa