sexta-feira, dezembro 07, 2007

Tributo à Figueira Caída




Vó Balbina que morreu há 50 , com seus 102 anos, contava que a figueira já estava ali quando ela "se deu por gente"... Sempre escutei essa história na família. Sempre a considerei uma árvore sagrada - árvore da sabedoria, árvore mencionada em textos bíblicos e, acima de tudo, para nós, árvore de nossos antepassados e de nossa infância.


Também escutei histórias de fantasmas, sentados à sua sombra - ou almas tranqüilas a mirar seus galhos - e histórias de tesouros enterrados junto a ela. Essas lendas povoaram meu universo infantil.


Nossa Figueira foi sempre muito fotografada , pois , junto a ela, compondo um conjunto e um cenário, com solidez e beleza, estava a "mesa de pedra ", grande, antiga e imponente também. Temos inclusive uma tela, aqui na Bela União, que retrata as duas.


A velha figueira , que devia se chamar Fenix , renasceu grandiosa e produtiva muitas vezes. Somente eu retirei dela mais de 20 outras figueiras , que já estão produzindo frutos. Agora, ela estava com bem mais de um metro de diâmetro e parcialmente oca - mas com muitas folhas muito verdes e muitos figos de tamanhos diversos.
Veio uma tormenta faz 3 dias. Ventos fortes e granizo. Arrancou uvas, pêssegos, ameixas, peras, laranjas... Quebrou árvores. Danificou hortas e jardins. Pior, arrancou a figueira.

( Confesso que algumas vezes pensei em usar o "espaço"da figueira para construir uma Biblioteca, mas não teria nunca coragem para "detoná-la". Ainda bem que tenho álibi : eu estava em Alegrete quando ela foi derrubada pela tormenta!)
Mas, quando a vi no chão,chorei. E meu primeiro pensamento foi para Massimo e Pedro: eles não conheceriam a velha figueira.
Súbito presencio uma cena surpreendente e triste: um beija-flor voa todo o tempo ao redor da árvore caída. Depois pousa em um galhos e fica quietinho, parado. A cena era tocante e impressionante. Imaginei que ele tivesse ninho ali. Busquei a câmera. Fiz fotos. E ele ali. O beija-flor voou quando eu já estava imaginando que era um pássaro machucado que nao se podia mover.Mandei examinar galho por galho da árvore à procura de seu ninho. Não havia nada de ninhos. Até quatro horas depois, quando a Figueira foi arrastada para longe, o beija flor esteve por perto. Creio que lhe prestava uma última homenagem.

Um comentário:

  1. Anônimo5:26 AM

    Aldema, os ciclos vitais se fecham das formas mais inesperadas.
    Peninha...só agora fui entender de qual figueira falávas. Imaginava que fosse a outra, a frondosa figueira do mato. bj

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